AVIAÇÃO NAVAL BRASILEIRA

A "Grande Guerra" e seus desdobramentos

 

Participação da Aviação Naval na I Guerra Mundial 

No início de fevereiro de 1917 o Ministério das Relações Exteriores do Brasil recebeu do Império Alemão uma "notificação de bloqueio". Esta notificação era uma atitude unilateral da Alemanha para com o comércio naval e "justificava" um possível ataque a navios mercantes de países não alinhados. O Governo Brasileiro protestou em vão. No dia 5 de abril daquele ano o mercante brasileiro Paraná era afundado na costa ocidental francesa. A resposta brasileira foi o rompimento de relações diplomáticas e comerciais alguns dias depois. Posteriormente, outros torpedeamentos a navios brasileiros ocorreram e o país passou a adotar uma atitude favorável aos Aliados. A aproximação com estes países permitiu um intercâmbio militar maior e a Marinha enviou, ainda em 1917, aviadores para os EUA e Inglaterra com o propósito de adquirirem mais experiência (1).

 

No dia 17 de outubro o Brasil teve seu quarto navio torpedeado. Tal fato levou o país a declarar guerra ao Império Alemão e a apoiar abertamente os países Aliados com o envio de gêneros e matérias-primas. Mas os torpedeamentos subseqüentes levaram a população a exigir a participação do Brasil no esforço bélico Aliado. Em reunião com a Conferência Interaliada, em fins de novembro e início de dezembro, ficou definido que o Brasil participaria das atividades militares de três formas: 1) através do envio de uma divisão naval para a Europa (DNOG), 2) como uma Missão Médica para o "front" francês e 3) o envio de um grupo de aviadores navais para treinamento militar no exterior.

Inglaterra, Estados Unidos e Itália dispuseram-se a receber os candidatos a aviador. Naquela época a Inglaterra encontrava muitas dificuldades em obter pilotos e o governo britânico comunicou que suas escolas podiam receber sucessivas levas de 50 alunos (2). Conforme decisão do presidente Wenceslau Braz, somente voluntários seguiriam para o exterior sendo que para a Europa iriam os solteiros e para a América do Norte os casados. Treze voluntários se apresentaram, (doze da Marinha e um do Exército). O “grupo europeu” era formado pelos seguintes militares (3):

Capitão-Tenente

 

Manoel Augusto P. de Vasconcellos

Primeiros-Tenentes

 

Virgínius B. Delamare

 

Heitor Varady

 

Fabio Sá Earp

 

Belisário de Moura

 

Eugênio Possolo

 

Mario da Cunha Godinho

 

Fileto Ferreira da S. Santos

Segundos-Tenentes

 

Olavo Araújo

 

Lauro de Araújo

 

Epaminondas Gomes do Santos

 

Aliatar de Araújo Martins (Exército)

Suboficial

 

Antonio Joaquim da S. Junior

 

SDM
Pilotos da Aviação Naval em instrução na Inglaterra (Eastbourne)

Em janeiro de 1918 (3) eles viajaram para a Inglaterra em dois grupos. Lá, os militares freqüentaram uma escola de caça e durante o treinamento três oficiais foram cortados e dois sofreram acidentes. O Tenente Olávo de Araújo ficou gravemente ferido, mas acabou voltando para o Brasil e seguiu carreira na Marinha até atingir o almirantado (3).

Menos sorte teve o Tenente Possolo (oficial que ocultou sua situação de casado para seguir para a Europa) que veio a falecer num acidente, tornando-se a primeira vítima aérea da Aviação Naval. Os demais cumpriam satisfatoriamente os diversos estágios de adestramento e chegaram a compor, com oficiais ingleses, uma esquadrilha (2) na RAF (naquela época a aviação da Marinha – Royal Navy Air Service - e do Exército – Royal Flying Corps – se fundiram, criando a Royal Air Force). Mas a Royal Navy solicitou que os mesmos realizassem patrulha anti-submarino. Após uma rápida adaptação, os pilotos foram incorporados ao 16º Grupo da RAF, com sede em Plymount, e executaram missões sobre a Mancha nos últimos dias da guerra (3).

Para os EUA seguiram dois suboficiais e dois oficiais (2) (dois oficiais e um suboficial segundo (4)) que, após os cursos, foram aproveitados em unidades de patrulha anti-submarino. Por último, uma missão aérea chefiada pelo Capitão-de-Corveta Protógenes Guimarães foi enviada a Itália no final de 1918. Embora seus integrantes tivessem recebido treinamento completo em diversas bases daquele país, eles nunca chegaram a ser operativos (2).

A Intensificação do Intercâmbio no pós-guerra 

Conforme os estagiários da Marinha retornavam do exterior, novas idéias iam surgindo para melhorar a Aviação Naval no Brasil. Em 1919, os oficiais Raul Bandeira e Victor Carvalho da Silva retornaram dos EUA trazendo vários equipamentos para montagem e reparo de aeronaves como gabaritos, plantas, ferramental, tornos e fresas (4).

 

Nessa mesma época, outro oficial da marinha (Manoel Augusto de Vasconcelos) retornou da Inglaterra trazendo consigo uma proposta das indústrias Blackburn Aircraft Ltd. para a implantação de uma fábrica de aviões navais no Brasil (5). A proposta foi estudada pelo industrial brasileiro Henrique Lage que acabou assinando um acordo com os ingleses para a fabricação tanto das aeronaves como de motores Bristol. Máquinas, plantas, gabaritos e ferramentas foram importadas mas no entanto a falta de encomendas não permitiu que a fábrica fosse adiante (4).

Enquanto o projeto de fabricação de aeronaves navais no Brasil não se concretizava, continuou-se importando material do estrangeiro de fontes bastante variadas com o objetivo de repor as unidades mais antigas. Com o término da I Guerra Mundial no final de 1918, a aquisição de material aeronáutico bem como o intercambio de profissionais da aviação ficou  mais fácil. A Aviação Naval começou o ano de 1919 com uma frota de 14 aeronaves. Antes do término daquele ano, esse número praticamente dobrou.

O período que vai do nascimento da Escola de Aviação até a primeira metade da década de vinte foi marcado pela consolidação da aviação naval no Brasil.


Bibliografia

 

(1) ALENCAR, A. F. Relatório do Ministro da Marinha. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1918. p. 115.

(2) MARTINS, H. L. Forças combatentes. In: ______ (Coord.). História Naval Brasileira. Rio de Janeiro: SDM, 1985. v. 5, tomo II, p. 111-119.

(3) MARTINS, L. H. Participação da Marinha brasileira na Primeira Grande  Guerra. In: ______ (Coord.). História Naval Brasileira. Rio de Janeiro: SDM, 1997. v. 5, tomo IB, p. 257-278.

(4) ANDRADE, R. P. - 1991 - História da Construção Aeronáutica no Brasil. Artgraph Ed., São Paulo,  327 p.

(5) Fundação Museu da Tecnologia de São Paulo. A criação da Escola de Aviação da Marinha - A HISTÓRIA DA INDÚSTRIA E TECNOLOGIA AERONÁUTICAS. Disponível em: <http://www.museutec.org.br/resgatememoria2002/old/enciclop/cap002/003.html>. Acesso em: 19 abr. 2005.