A Marinha do Brasil durante a Guerra Fria (1947-1991)
A participação da Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi essencialmente antissubmarino, na escolta de comboios – atividade para a qual ela não estava preparada no início. A recém-criada Força Aérea Brasileira (1941), da união das aviações do Exército e da Marinha, também carecia de equipamentos no estado-da-arte.
Os navios da Esquadra Brasileira eram em grande parte ainda da Primeira Guerra Mundial, com poucos navios novos que também não eram adequados à guerra antissubmarino.
O Brasil foi pego de surpresa pela Guerra e sua Marinha Mercante e economia sofreram com os ataques de submarinos alemães e italianos ao nosso tráfego marítimo, responsável pela exportação-importação e pelo abastecimento do Norte e do Nordeste.
No início do conflito, o Brasil tinha dois encouraçados ainda da Esquadra de 1910, ambos obsoletos. O Minas Gerais tinha sido modernizado no período de 1934-39, passando a usar óleo ao invés de carvão em suas caldeiras. O São Paulo continuava movido a carvão.
Os cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul tinham sido modernizados em 1925-26 e os sete contratorpedeiros, também veteranos de 1910, estavam em estado tão precário que foram desativados durante a guerra.
Os seis novos navios-varredores da classe “Carioca” acabaram sendo convertidos em corvetas antissubmarino.
Em combate
Com a entrada do Brasil na Guerra em 1942, o país começou a receber uma série de navios novos construídos nos Estados Unidos da América (EUA), através da Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Lend-Lease Program).
No final de 1942, foram recebidos os primeiros 8 caça-submarinos (Sub-Chasers) da classe “J”, de 108 toneladas e casco de madeira (conhecidos como “caça-pau”), equipados com sonar. Ao longo de 1943, foram recebidos 10 caça-submarinos classe “G”, de 335 toneladas, com casco de ferro (conhecidos como “caça-ferro”), equipados com radar, que era então secreto.
Entre 1944-45 foram recebidos 8 contratorpedeiros de escolta (CTE) classe “Bertioga”, de 1.500 toneladas, equipados com sonar e radar.
A Marinha dos Estados Unidos forneceu o treinamento das tripulações brasileiras e ajudou a forjar a doutrina de guerra antissubmarino que continuou a ser aperfeiçoada depois do término do conflito.
O pós-Guerra
Com o fim da guerra, mudanças políticas fizeram surgir uma nova ordem, com repercussões no mundo inteiro.
A multipolaridade europeia construída no século XIX dava lugar à bipolaridade entre EUA e URSS, que emergiram como superpotências. O expansionismo soviético e a ocupação de grande parte da Europa por tropas da URSS, deram início à luta pela hegemonia mundial, principalmente depois do desenvolvimento de armas nucleares também pelos soviéticos e o processo de descolonização ao redor do globo, com o surgimento de vários Estados vulneráveis e influenciáveis.
O início da chamada Guerra Fria, estimulou a realização da Conferência Interamericana para Manutenção da Paz e da Segurança no Continente americano, em 1947, que levou à assinatura do Pacto do Rio de Janeiro ou Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), que no seu artigo 3º voltou a firmar a unidade dos estados americanos no caso de uma agressão externa, na esteira da Junta Interamericana de Defesa (JID), criada durante a Segunda Guerra Mundial, para tratar em conjunto de planos de defesa do continente.
Em 1948 foi criada a Organização dos Estados Americanos (OEA), para fortalecer o pan-americanismo e integrar as nações do continente sob a égide dos EUA.
O Programa de Ajuda Militar
O Brasil continuou tendo substancial ajuda dos EUA, através do Programa de Ajuda Militar (MAP – Military Aid Program), pelo qual o país recebeu a preços módicos, material excedente da Segunda Guerra, de navios a sobressalentes.
A concepção estratégica da Marinha do Brasil continuou a ter caráter defensivo, dedicada à guerra antissubmarino, integrada à grande estratégia dos EUA, de combate à ameaça submarina soviética ao tráfego marítimo, em caso de uma deflagração Leste-Oeste.
A Guerra Fria do bloco ocidental contra os países comunistas sob a liderança da URSS é o fator principal para o fortalecimento do Poder Naval brasileiro nesse período.
Nos primeiros anos após o término da Segunda Guerra, a Marinha dedicou-se especialmente às atividades de apoio, tanto na construção de bases navais como na aquisição de navios. As administrações do almirante Silvio de Noronha e do almirante Renato de Almeida Guillobel dispenderam grande esforço na ampliação e aperfeiçoamento da infraestrutura de apoio aos meios navais.
Os navios recebidos no período após a guerra, até 1952, com exceção dos cruzadores-ligeiros Barroso e Tamandaré, da classe “Brooklin” da U.S. Navy, remanescentes da guerra, eram navios auxiliares. Foram recebidos o navio-escola Guanabara, ex-veleiro alemão, o navio-tanque Ilha Grande, petroleiro adaptado de cargueiro “Victory Ship”, os pequenos navios-tanque Rijo e Raza para transporte de gasolina, cedidos pela USAF à FAB e depois para a MB e finalmente, três rebocadores de alto-mar da classe “Tristão”, ex-classe “Ata” da U.S. Navy.
Durante a gestão do almirante Renato Guillobel (1951-1954) foi criado um grande programa de aquisição de meios voltado para tarefas auxiliares da Marinha. Através dele foram adquiridas 10 corvetas (classe “Imperial Marinheiro” de patrulha costeira na Holanda, capazes de operarem também como rebocadores de alto-mar e navios mineiros).
Foram adquiridos também 4 navios de transporte de tropas no Japão, capazes de operar também como navios cargueiros no transporte comercial de carga e no apoio logístico e 2 navios hidrográficos modernos, Sirius e Canopus, que juntamente com os 3 pequenos navios hidrográficos classe “Argus”, construídos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), vieram dar extraordinário impulso às atividades hidrográficas do país.
A partir de 1959, a Marinha do Brasil começou a receber da reserva da U.S. Navy, contratorpedeiros da classe “Fletcher”, num total de 7 navios.
Depois vieram 5 contratorpedeiros da classe “Allen M. Sumner” e finalmente 2 da classe “Gearing”, a grande maioria recebida durante a administração do almirante Adalberto Nunes (1970-74).
A partir de 1957 foram recebidos um total de 11 submarinos ex-U.S. Navy, sendo 4 unidades “Fleet Type”, 5 unidades classe “Guppy II” e 2 unidades “Guppy III”.
Na década de 1960 foram recebidos 4 navios-varredores classe “Javari”, núcleo da Força de Minagem e Varredura então criada.
Em 1963, foi recebido um navio-oficina (NO Belmonte), um NDCC adaptado para apoiar os contratorpedeiros.
No início dos anos 1970, foram recebidos 2 navios de desembarque de carros de combate (NDCC), além de um navio-oceanográfico e um navio de salvamento submarino.
Conforme o acordo militar dos EUA, na década de 1950 o Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão (CAAML – Camaleão) recebeu equipamentos para adestramento antissubmarino simulado e, em 1960, tiveram início as operações UNITAS, com a participação da Marinha dos EUA e outras Marinhas Sul-Americanas, com o propósito de treinar as forças navais desses países em operações antissubmarino conjuntas.
Aviação Naval
Em 1957 o Brasil adquiriu à Inglaterra o Navio-Aeródromo Ligeiro (NAeL) Minas Gerais, ex-HMS Vengeance, modernizando o navio na Holanda até 1960 com apoio técnico americano. Graças ao apoio da U.S. Navy, o NAeL Minas Gerais foi equipado com o que havia de mais moderno em matéria de navios-aeródromo, garantindo a compatibilidade com aeronaves à jato e em operações conjuntas.
O navio-aeródromo visava principalmente ao emprego de aeronaves antissubmarino, nos moldes dos Grupos de Caça e Destruição (Hunter-Killer) da Marinha dos EUA, nucleados em porta-aviões.
A aquisição do NAeL Minas Gerais acirrou a disputa entre a Marinha e a Força Aérea sobre a aviação naval. A Nova Lei Orgânica da Marinha, promulgada em 1952, pela Lei 1.658, fazia ressurgir a ideia de uma aviação própria para a Marinha.
A disputa pela posse dos aviões do navio-aeródromo causou um desgaste desnecessário entre as forças e a questão só foi resolvida pelo presidente Castelo Branco em 1965, quando a FAB ficou responsável pela operação dos aviões embarcados e a MB pelos helicópteros.
Na era dos mísseis
Na aquisição do NAeL Minas Gerais a Marinha do Brasil resolveu dotá-lo de mísseis antiaéreos de curto alcance Sea Cat, de fabricação britânica. Seriam instalados 3 lançadores quádruplos de mísseis no navio, mas por medida de economia, somente um lançador foi adquirido, que acabou sendo instalado no antigo contratorpedeiro Mariz e Barros, construído no AMRJ. Posteriormente esse lançador foi transferido para o contratorpedeiro Mato Grosso, da classe “Allen M. Sumner”.
O Programa Decenal de 1967
O Programa Decenal de Renovação dos Meios Flutuantes aprovado em 1967, ainda refletia a preocupação da Marinha do Brasil com a guerra antissubmarino e com a proteção do tráfego marítimo brasileiro, devido à dependência do Brasil na importação de petróleo e na distribuição dos derivados ao longo da costa.
Os possíveis ataques ao tráfego marítimo brasileiro poderiam ocorrer através de submarinos ou de forma indireta, pela minagem de portos brasileiros com o emprego de submarinos e aeronaves de longo alcance.
Em caso de guerra revolucionária, previa-se o desembarque em zonas sob o controle de grupos guerrilheiros ou tropas sublevadas.
As ameaças aéreas e de superfície eram relegadas ao plano secundário.
O Programa Decenal compreendia aquisição das seguintes unidades:
- 20 fragatas antissubmarino
- 40 navios-varredores
- 6 submarinos
- 1 navio-doca
- 1 navio de desembarque de carros de combate
- 50 navios-patrulha
- 5 navios-patrulha fluviais
- 1 navio-hidrográfico
- 1 navio-faroleiro
- 10 navios-balizadores
- 1 navio-tanque
- 2 rebocadores
- 1 navio de salvamento de submarinos
- 1 navio de salvamento
Uma diretriz fundamental do Programa Decenal era a nacionalização dos meios ou a diminuição do nível de dependência na manutenção e reparos, através da fabricação local de componentes e sobressalentes.
Em 1968, o AMRJ deu início à construção de 6 navios-patrulha costeiros baseados em projeto americano.
Ainda no Arsenal foram construídos, no período 1970-73, dois navios de patrulha fluvial de 62 metros, de projeto nacional.
Entre 1972-76, foram construídos três navios-patrulha de projeto nacional de 45 metros.
A construção dos navios de patrulha fluvial destinou-se também às missões de integração da região ao restante do país e de apoio às populações ribeirinhas.
No estaleiro Ebin, entre 1970-76, foi construído um moderno navio faroleiro.
No estaleiro Ishikawajima do Brasil foi construído o navio-tanque Marajó, incorporado em 1969.
Renovação da Esquadra
O Programa Decenal buscava a aquisição de equipamentos no estado da arte para os novos navios, mas as enormes dificuldades criadas pelos americanos para o fornecimento de sonares modernos e lançadores de foguetes antissubmarino levaram a Marinha a guinar para a Europa, que tratava a questão de forma puramente comercial sem interferências políticas, além da facilidade de financiamento.
Deste modo a Marinha encomendou à Inglaterra 6 fragatas modernas especialmente projetadas para atender às especificações brasileiras e três submarinos da classe “Oberon”, além de 6 navios-varredores da classe “Schutze” na República Federal da Alemanha.
Das 6 fragatas conhecidas como classe “Niterói”, 2 acabaram sendo construídas no AMRJ com transferência de tecnologia. Quatro foram dotadas de pesado armamento antissubmarino, com mísseis, torpedos, foguetes e helicóptero embarcado e duas para emprego geral, equipadas com mísseis antinavio Exocet.
As fragatas inauguraram a computação em tempo real no Brasil e foram responsáveis pela introdução de várias tecnologias inéditas na maioria das Marinhas.
Rompimento do acordo militar com os EUA e mudança estratégica
O governo do presidente Ernesto Geisel (1974-1979) provocou modificações no pensamento estratégico brasileiro, com repercussões na estratégia naval.
O espetacular desenvolvimento do país no período de 1967 a 1972, com taxa de crescimento anual média do PIB de 9,9%, conhecido como milagre brasileiro, acabou gerando antagonismos em relação ao Brasil, como na questão da política de fretes nacional, que reservava de 40 a 50% do nosso comércio exterior a navios de bandeira brasileira.
No âmbito regional, havia um conflito de interesses com a Argentina, com relação ao aproveitamento de rios sucessivos.
Embora mantendo a fidelidade ao sistema interamericano, o Brasil passou a olhar também para suas próprias áreas de interesse e começou a mudar sua visão estratégica.
A Marinha, de acordo com a nova postura governamental, adotou em fevereiro de 1977 novo conjunto de Políticas Básicas e Diretrizes, na gestão do almirante Geraldo A. Henning.
No novo documento, os pensadores navais viam uma possibilidade maior de conflitos regionais, com a ocorrência de guerras locais em determinadas regiões, do que a eclosão de uma guerra generalizada entre os dois grandes blocos antagônicos, considerada cada vez mais improvável, devido ao equilíbrio de forças e a destruição mútua assegurada com armas nucleares.
Em 1975, o Brasil assinou um acordo nuclear com a Alemanha para construção de usinas nucleares, com forte oposição por parte dos EUA e da URSS.
Em 1977, o Brasil denunciou o Acordo de Assistência Militar e fechou a Missão Naval Americana, dispensando toda ajuda militar dos EUA. O rompimento se deu por causa das exigências da administração Carter em condicionar a ajuda militar às questões de direitos humanos.
Apesar do rompimento no acordo de cooperação entre governos, as relações entre a Marinha do Brasil e a Marinha dos EUA mantiveram-se cordiais, inclusive com a manutenção da operação UNITAS.
A partir de 1977, a Marinha do Brasil pode formalizar a partir de documentação adequada, conforme a política governamental, o planejamento e o preparo da Força Naval de acordo com a nova visão estratégica.
Um novo programa naval foi traçado e previa a manutenção do NAeL Minas Gerais dotado de aviões de ataque, um navio de controle de área marítima, 8 fragatas (sendo 4 armadas com mísseis antiaéreos de defesa de área), 16 corvetas, 12 submarinos, 14 navios-varredores, 2 navios caça-minas, 2 navios de transporte de carga, 2 navios logísticos, 12 navios de patrulha costeira, 5 navios de patrulha fluvial, 4 lanchas de patrulha fluvial, 1 navio de apoio fluvial, 4 navios de salvamento, 1 navio-oficina, 1 dique flutuante, 2 navios de desembarque de carros de combate, 1 navio-doca, 1 navio-escola, 4 navios oceanográficos, 1 navios de pesquisas para operação na Antártica, diversos navios hidrográficos, faroleiros e balizadores.
Em 1979, o almirante Maximiano Eduardo da Silva Fonseca assumiu a pasta da Marinha e procurou manter o programa naval traçado e as diretrizes de nacionalização, assegurando financiamento externo para a construção das primeiras corvetas de projeto nacional, do navio-escola Brasil, de submarinos de projeto estrangeiro com construção no Brasil, do Programa Antártico e do Programa Nuclear da Marinha, que visava a construção de um submarino de propulsão nuclear no futuro.
Em março de 1984, o almirante Maximiano, após 5 anos na pasta da Marinha, foi substituído pelo almirante Alfredo Karam, que permaneceria no cargo até o fim do governo do general Figueiredo, mantendo total sintonia com as diretrizes do almirante Maximiano.
Com o processo de abertura política no Brasil, em 15 de março 1985 assumiu a presidência do país o vice-presidente José Sarney, escolhido pelo Colégio Eleitoral, pois o presidente eleito Tancredo Neves não pode tomar posse por motivo de saúde (ele veio a falecer no dia 21 de abril de 1985). José Sarney foi efetivado no cargo de março de 1985 a março de 1990.
O almirante Henrique Saboia assumiu a pasta da Marinha em 15 de março de 1985 e permaneceu até março de 1990, dando continuidade ao programa de construção naval no país, incentivando a indústria nacional através da fabricação local de equipamentos.
As dificuldades econômicas do período, por causa da inflação alta e cortes no orçamento, prejudicaram e atrasaram o programa de construção naval.
A construção das corvetas Júlio de Noronha e Frontin no Estaleiro Verolme foi interrompida devido à moratória preventiva do estaleiro, levando a Marinha a terminar a construção no AMRJ.
A entrega da corveta Inhaúma deu-se em dezembro de 1989. A integração do sistema de armas se prolongou até 1991, quando teve início sua avaliação operacional.
O navio foi entregue com muitas pendências e imperfeições, que foram corrigidas posteriormente no projeto da corveta Barroso.
O projeto das corvetas previa a construção de 16 navios, mas devido à falta de recursos o número foi reduzido a 4, obrigando o almirante Saboia a adquirir 4 fragatas da classe “Garcia” ex-U.S. Navy, para cobrir a lacuna deixada pela baixa dos antigos contratorpedeiros.
Foram adquiridos também em sua gestão dois Navios de Desembarque Doca (NDD) da classe “Thomaston”, o Rio de Janeiro e o Ceará, abandonando-se o plano original de um NDD de construção local.
O fim da Guerra Fria
Em 15 de março de 1990, Fernando Collor de Mello, primeiro presidente eleito pelo voto direto após os governos militares – Tancredo Neves e Sarney foram eleitos por voto indireto – tomou posse na Presidência da República, tendo o almirante Mário Cesar Flores assumido a pasta da Marinha.
As acusações documentadas de corrupção no governo levaram o Presidente Collor a renunciar ao cargo em 29 de dezembro de 1992. O vice-presidente Itamar Franco assumiu a Presidência, cumprindo o dispositivo constitucional. O almirante Ivan da Silva Serpa assumiu a pasta da Marinha.
A dissolução da URSS em dezembro de 1991 e sua substituição pela Comunidade de Estados Independentes (CEI) acabou deixando os Estados Unidos da América como única superpotência.
A ameaça submarina soviética desapareceu e os EUA passaram a ter um grau maior de liberdade em sua política externa, envolvendo-se em vários conflitos desde então.
A Marinha do Brasil continuou dando andamento ao seu programa de construção naval, conforme os recursos disponíveis.
Abaixo seguem as palavras do almirante Mario César Flores, na exposição “A Marinha no Cenário Brasileiro Atual”, de 15 de maio de 1992:
“A Marinha se manteve nos últimos cinco decênios fiel à experiência da 2ª Guerra Mundial, centrada na proteção antissubmarino do tráfego costeiro, experiência continuada pela ameaça potencial soviética, muito viva no pensamento dos anos 50, 60 e início dos anos 70.
Com o passar do tempo, ganhou corpo o sentimento de que as concepções decorrentes da experiência da 2ª Guerra e da Guerra Fria já não bastavam.
O colapso da União Soviética e a implausabilidade da hipótese de guerra clássica na América do Sul sugerem ser diminuta a probabilidade de campanhas como as do passado.
Sugerem, portanto, menor necessidade de navios antissubmarino, espinha dorsal da Marinha do Brasil há 50 anos.
Hoje parece mais razoável enfatizar genericamente a defesa da fronteira marítima, cuja operacionalização exige bons submarinos (daí a importância que atribuímos à propulsão nuclear).
Ela comporta também alguma utilidade aos navios que dominaram a ótica anterior, os navios escolta, que são, aliás, os que melhor atendem eventual cooperação brasileira em patrulha e bloqueio para o controle da ordem marítima em áreas conflitadas – hipótese que o Brasil não pode ignorar. ”
BIBLIOGRAFIA:
- VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira. A Evolução do Pensamento Estratégico Naval Brasileiro, Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 1985.
- VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira. A Evolução do Pensamento Estratégico Naval Brasileiro – meados da década de 70 até os dias atuais, Rio de Janeiro, Clube Naval, 2002.