Nesta segunda matéria da série sobre o 1º Congresso Internacional de Contramedidas de Minagem, saiba mais sobre as apresentações de oficiais da Marinha Sueca e de representantes da Saab sobre os navios, sistemas, equipamentos, tecnologias e doutrinas da Suécia nessa área

Por Fernando “Nunão” De Martini

No 1º Congresso Internacional de Contramedidas de Minagem (CICMM) realizado na Escola de Guerra Naval (RJ), o primeiro dia de apresentações, 17 de outubro, contou com duas palestras de oficiais da Marinha Real Sueca e duas de executivos do grupo de defesa Saab, fornecedor dos navios empregados por aquela força. No dia seguinte, 18, houve mais uma palestra de oficial da Marinha Real Sueca e de representante da Saab, estas duas incorporando, também, lições aprendidas no ambiente terrestre.

Esta segunda reportagem da série sobre o CICMM trará um resumo do conteúdo de cinco destas seis apresentações relacionadas à experiência sueca, às quais o Poder Naval esteve presente. O conteúdo da sexta palestra, por estar totalmente relacionado à desminagem terrestre e não tratar de temas navais, será apresentado em reportagem posterior, junto a outras apresentações sobre o tema.

Nosso objetivo é transmitir aos leitores a experiência de estar dentro de um evento desse tipo, e também compartilhar conhecimentos atualizados sobre a Guerra de Minas. As matérias seguintes abordarão as exposições de outras empresas fornecedoras de navios e equipamentos de contramedidas de minagem, além de palestras sobre outras experiências, incluindo mais operações no ambiente terrestre (militar e policial) e desminagem humanitária.

As perspectivas suecas, na visão de dois comandantes

Começaremos com a palestra da comandante Jenny Ström, oficial que está à frente do 42º Esquadrão de Contramedidas de Minagem (42. MCM) da Marinha Real Sueca, que destacou-se por já ser a segunda apresentação da manhã 17 de outubro, logo após o discurso de abertura do vice-almirante Almir Garnier Santos, comandante do 2º Distrito Naval da Marinha do Brasil (MB) e da exposição feita pelo capitão de fragata Frederico Albuquerque, comandante do GAAGueM (Grupo de Avaliação e Adestramento de Guerra de Minas), ambos da Marinha do Brasil (MB) – assuntos que já tratamos na primeira reportagem desta série (clique no link para acessar).

A apresentação intitulada “Guerra de Minas a partir de uma perspectiva sueca” foi realizada em inglês, mas contou com telas projetadas em português, além de tradução simultânea para os congressistas que solicitaram.

A comandante Ström inicialmente mostrou o organograma da 4ª Flotilha de Guerra Naval da Marinha Real Sueca, à qual, além do 42º Esquadrão de Contramedidas de Minagem sob seu comando, também estão subordinados o 41º Esquadrão de Corvetas, o 43º Esquadrão de Apoio e um esquadrão de mergulhadores para operações de varreduras de minas e desativação de explosivos. Sua unidade é equipada com 3 navios da classe “Koster” e um da classe “Sparö”, e tem como atribuições garantir a liberdade e segurança de movimento para as unidades militares e frotas da Suécia, conduzindo operações de contramedidas de minagem (MCM) com utilização de veículos operados remotamente (ROVs), sonares, mergulhadores e varredores de minas.

Entre as capacidades e tarefas do esquadrão, estão tanto a de caçar minas (encontrar, identificar, posicionar e desarmar) quanto realizar ações de minagem, às quais se somam missões antissubmarino, monitoramento do mar (tanto na superfície quanto abaixo dela), escolta e comando e controle (em operações MCM).

A experiência sueca hoje é indissociável dos préstimos da classe “Koster” de navios de contramedidas de minagem que, segundo a comandante, são meios não só de características multicapacidade como capazes de autoproteção frente a ameaças aéreas, pois contam com canhão automático de 40mm complementado por radar de direção de tiro (a Marinha Real Sueca considera essa classe, entre outras de caça-minas do mundo, como a de melhor capacidade de autoproteção). Já a classe “Sparö”, que tem um navio na dotação do esquadrão, necessita da escolta de uma corveta quando opera em áreas mais perigosas. A comandante destacou as seguintes características de ambas as classes:

Classe “Koster” – MCMV 47: sete navios construídos entre as décadas de 1980 e 1990, originariamente como classe “Landsort”, projetados desde o início como navios multipropósito, dos quais cinco foram modernizados na década de 2000 e dois retirados de serviço (um deles o navio que dava nome à classe, que assim passou a ser chamada pelo líder das unidades modernizadas).

  • Comprimento: 47,5m (vem daí a designação MCMV 47)
  • Boca: 9,6m
  • Calado: 2,3m
  • Deslocamento: 400 toneladas
  • Velocidade: 15 nós
  • Casco: sanduíche (compósito) de GRP (Glass Reinforced Plastic – plástico reforçado com fibras de vidro)
  • Propulsão: quatro motores diesel de 300 kW, movimentando dois hélices ciclodais Voith
  • Tripulação: 28 militares (6 oficiais, 8 suboficiais, 14 praças)
  • Armamento: canhão de 40mm de duplo emprego, direcionado por radar, metralhadoras, minas e bombas de profundidade
  • Sensores: radar de navegação, radar de monitoramento, radar de direção de tiro (combinando também direção óptica e por infravermelho), sonar de casco (Atlas 12M), Sonar de profundidade variável autopropulsado (SPVDS), Sistema de Posição Submerso
  • Veículos submersos: ROVs (veículos remotamente operados) Single, Double Eagle e expansivos

Classe “Sparö” – MCDV: dois navios originários de uma classe de quatro embarcações de contramedidas de minagem (classe “Styrsö”), construída nos anos 1990, que passaram por extensa remodelação na década seguinte, principalmente na área de popa, para operar com mergulhadores e receber câmara hiperbárica, assim como para utilizar veículos remotamente controlados. Seu emprego é predominantemente em águas rasas e em operações de segurança de portos.

  • Comprimento: 36m
  • Boca: 8m
  • Calado: 2,2m
  • Deslocamento: 205 toneladas
  • Velocidade: 14 nós
  • Propulsão: dois motores diesel
  • Tripulação: 17 militares (3 oficiais, 6 suboficiais, 8 praças)
  • Armamento: metralhadora
  • Sensores: radar de navegação, sonar de reboque lateral, sonar de casco (evasão de mina) ROV Single Eagle
  • Veículos submersos: ROV (veículo remotamente operado) Single Eagle

Apresentados os tipos de navios de seu esquadrão, a comandante Ström passou a falar sobre o seu emprego, levando em conta o ambiente do mar Báltico, que é bastante desafiador e onde a atividade de caça-minas é a principal. Trata-se de um mar considerado de águas rasas, mas que apresenta abruptas mudanças de profundidade, ainda que possua uma considerável área com profundidade superior a 60 metros.

Além das possibilidades de minagem atuais, o Báltico apresenta o desafio de mais de 165.000 minas posicionadas nas duas guerras mundiais do século XX, e há muitas delas no fundo. De positivo para sua detecção, está o fato de que é um mar com pouco oxigênio no fundo, o que mantém os artefatos históricos (metálicos) em boas condições. Porém, isso também mantém intacta a capacidade dessas minas explodirem.

Sistema de informação geográfica de guerra de minas – O trabalho principal da caça a minas não se faz de maneira intempestiva, para limpeza imediata de uma área específica para o deslocamento, por exemplo, de uma força-tarefa, como normalmente é o caso da varredura. Trata-se de uma atividade do dia a dia, repetitiva, de monitoramento do fundo do mar com os sonares dos navios (de casco e de profundidade variável). Basicamente, constrói-se um mapa de objetos conhecidos como referência (e seu grau de periculosidade e dificuldade de desativação) em monitoramentos anteriores, formando-se o sistema de informação geográfica de guerra de minas.

Ao se navegar novamente na mesma área, é possível se concentrar apenas no que apareceu de novo no fundo, comparado às referências, e agir em conformidade com essa nova situação. Assim, o trabalho pode ser agilizado, sem a necessidade de processar novamente milhares de dados de todos os objetos presentes nas sondagens anteriores, ou de enviar veículos e mergulhadores para inspecionar objetos que já foram detectados e analisados.

Cada mina ou objeto a ser investigado pode pedir uma abordagem diferente, seja com uso de veículos remotamente operados para investigação, assim como mergulhadores, até se chegar às ações de desativação / detonação. Também se prevê situações em que seja necessária a varredura mecânica, por isso é preciso, na visão operacional sueca, dispor do máximo possível de sistemas para todas as necessidades, numa mesma embarcação: ao mesmo tempo caça-minas e varredor, em outras palavras, um navio de contramedidas de minagem.

Ström destacou que é com a disponibilidade de várias ferramentas que se reduz o risco, e que isso precisa ser continuamente aperfeiçoado: por exemplo, o esquadrão tem como seus objetivos atuais ampliar a capacidade de varredura de influência (para as diferenças entre as atividades de caça-minas e varredura, assim como os tipos de minas, recomendamos a leitura da primeira matéria desta série).

Tem-se assim um sistema que alimenta o Centro de Dados de Guerra Marítima (MWDC), cujo objetivo é melhorar, acelerar a eficácia e reduzir os riscos de operações de contramedidas de minagem, apoiando assim as diversas unidades da Marinha Real Sueca com geo-informação tática e dados. Toda essa base, conforme resumido pela comandante, é aperfeiçoada a cada nova missão, permitindo traçar direções precisas para minimizar áreas de busca, maior conhecimento do ambiente, otimização de métodos, uso dos equipamentos corretos, aprimorando a inteligência e a confiabilidade de relatórios com os resultados apurados. Nesse caso, o navio de contramedidas de minagem é parte ativa de um sistema maior, de inteligência em sua maior parcela, e que não é apenas de Guerra de Minas, mas de Guerra Marítima.

Automação e o futuro – Com o uso cada vez maior de veículos subaquáticos autônomos e remotamente controlados, como evidencia a própria operação da classe “Koster”, uma questão relacionada ao futuro (para alguns, já do presente) de se retirar completamente o elemento humano da Guerra de Minas, não apenas com uso de veículos subaquáticos não tripulados, mas dos próprios navios.

Perguntada sobre essas possibilidades, a comandante Jenny Ström aludiu à sua experiência operacional no 42º Esquadrão de Contramedidas de Minagem (e no contexto da Marinha Real Sueca), para afirmar que não vislumbra a possibilidade de, tão cedo, se partir para sistemas e navios totalmente não tripulados. Para ela, ainda não é possível ter a mesma eficácia do elemento humano presente, analisando cada situação com base na experiência – no mínimo, dentro de uma embarcação que sirva como nave-mãe de outras não tripuladas, mas que precisa estar próxima à área. Há muita tecnologia presente nessa modalidade de guerra, e novas estão surgindo, mas ainda não se chegou a esse cenário totalmente não tripulado. Esses sistemas, para Ström, “ainda não estão lá”.

Treinamento – Duas palestras após a de Jenny Ström, foi a vez de outro comandante da Marinha Real Sueca, Tomas Martinsson, que está à frente do Centro de Treinamento e Educação (escola marítima sueca – Sjöstridsskolan, ou SSS). A apresentação chamou mais a atenção pelo seu início. Com o título “Treinamento de operadores de contramedidas de minagem, uma perspectiva sueca”, a exposição feita por Martinsson ocorreu logo após palestra (de empresa construtora de embarcações) em que foi mostrado com grande destaque um navio encalhado em rochedos sem ter sofrido grandes danos. O comandante Tomas Martinsson aproveitou para, bem humorado, deixar bem claro que nem os tripulantes nem o navio acidentado, mostrado na palestra anterior, eram da Suécia.

Foi a deixa para apresentar a filosofia de treinamento sueco, tanto em geral quanto para tripulações de navios de contramedidas de minagem, em suas características de segurança de navegação, entre outras. Um dos pontos destacados foi o ambiente flexível e aplicado de aprendizado, para necessidades multitarefa, como é o caso da Guerra de Minas.

 

Do mar para a terra e da terra para o mar: a visão de um integrante de esquadrão de mergulhadores de desminagem

A terceira palestra do evento, proferida por um oficial da Marinha Real Sueca, ocorreu no segundo dia do Congresso, 18 de outubro, pela manhã. Com o título “Esquadrão Sueco de mergulhadores de desminagem – Desativação de Artefatos Explosivos – Passado, presente e futuro”, a apresentação realizada pelo tenente David Marmbäck mostrou um aspecto muito interessante da experiência em áreas de conflito: o emprego de sua unidade de mergulhadores em um ambiente de guerra terrestre, desativando minas e outros artefatos explosivos instalados no solo, e as possibilidades de aproveitar essa experiência na doutrina da Marinha Real Sueca.

Inicialmente, Marmbäck tratou da evolução histórica dos mergulhadores suecos e seu aprendizado inicial, na década de 1950, a partir da experiência de seus pares dos da Marinha dos Estados Unidos. A principal tarefa de seu esquadrão, hoje, é criar liberdade de movimento na infraestrutura e arena marítima, trabalhando na desativação de artefatos explosivos (sigla DAE em português e EOD em inglês – explosive ordnance disposal) em profundidades que chegam a 60 metros.

Boa parte dos mergulhos desses militares, na Marinha Real Sueca, são realizados a partir de navios de contramedidas de minagem e botes, havendo grande experiência acumulada devido à quantidade enorme de minas da Segunda Guerra Mundial no mar Báltico. Porém, os desafios mais importantes e experiências mais recentes da equipe vieram da participação sueca em coalizões, no ambiente terrestre, em conflitos ocorridos em países que nem saída para o mar possuem: Afeganistão e Mali.

Do mar para a terra – Quando as necessidades operacionais da tropa, desdobrada naqueles países, indicaram uma carência de pessoal com capacidade de desativar explosivos, viu-se que essa experiência operacional conquistada no dia a dia só havia com os mergulhadores de desminagem. Assim, o esquadrão foi parar no meio de estradas empoeiradas repletas de ameaças, desde as minas terrestres convencionais aos artefatos explosivos improvisados (conhecidos pela sigla em inglês IED – improvised explosive device). Entre 2006 e 2012, os mergulhadores fizeram parte da ISAF – International Security Assistance Force (Força Internacional de Assistência de Segurança) da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Afeganistão.

Poucos anos depois, a partir de 2015 (até hoje), foram novamente enviados para um conflito bem longe da Suécia, indo para o Mali como parte da MINUSMA – United Nations Multidimensional Integrated Stabilization Mission in Mali (Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas no Mali).

Da terra para o mar – O conhecimento adquirido por vários integrantes nos rodízios nesses teatros de operações levou à discussão de como aproveitá-lo na doutrina da Marinha Real Sueca, que no caso da desativação de explosivos era totalmente voltada para o ambiente marítimo. Esse processo de assimilação está em andamento, dentro de uma nova visão implantada, segundo Marmbäck, de manter alto padrão operacional em todas as capacidades, em mar e em terra, assim como os equipamentos compatíveis. Os desafios mais importantes são, agora, o recrutamento e treinamento de novo pessoal, levando em conta os conhecimentos adquiridos na prática, em mais de um ambiente, de forma a treinar e transferir lições C-IED aprendidas.

Quanto às atividades específicas em ambiente marítimo, entre os desafios futuros para o esquadrão sueco estão o aprimoramento na operação de veículos remotamente controlados, para emprego sempre que possível no lugar do elemento humano e, no caso dos mergulhadores, a capacidade de mergulhar a profundidades abaixo de 100 metros.

Bom humor – A título de curiosidade vale dizer que, assim como o comandante Tomas Martisson no dia anterior, a palestra do tenente Marmbäck começou com um toque de piada. O oficial iniciou sua fala numa esforçada leitura em português (foneticamente), apresentando-se longamente e dizendo que era sua intenção aprender a língua e proferir toda a apresentação nela. Mas, como foi incapaz de conseguir esse objetivo a tempo, prosseguiria em inglês.

O pacote de ferramentas da Saab para as contramedidas de minagem e a divisão de sistemas submarinos

Voltando ao dia anterior, duas apresentações de representantes do grupo Saab trataram dos navios de contramedidas de minagem fornecidos pela divisão Saab Kockums, além de seus sistemas embarcados e novos produtos desenvolvidos para a guerra de minas.  A primeira delas, com o título “Toolbox for Maritime Mine Countermeasures” (literalmente, “Caixa de ferramentas para as contramedidas de minagem marítimas”), foi proferida pelo executivo senior de Vendas da Saab Kockums, Robert Petersson. A exposição começou com um histórico do desenvolvimento dos navios e sistemas suecos dessa arena, desde a varredura aos caça-minas.

Na década de 1970 a Marinha Sueca empregava, na guerra de minas, embarcações com o tipo de casco e de emprego típicos da época, com similaridades ao que a Marinha do Brasil adotara com a classe “Aratu”: navios construídos em madeira, dotados de equipamentos para varredura de minas. Uma característica negativa dessas embarcações suecas de madeira era a maior demanda de manutenção dos cascos.

Quando planejou uma nova classe de navios de contramedidas de minagem, na década de 1980, a visão sueca mudou para um novo conceito de operações, unindo a varredura de minas com a destruição desses artefatos. Planejou-se, ao mesmo tempo, um novo tipo de casco, que fosse amagnético como a madeira, mas também à prova de impactos e livre de manutenção.

Novos cascos em GRP, propulsão e sensores – Na década anterior, uma primeira geração de casco em compósito era adotada (em 1974) no navio caça-minas Viksten, e um aprimoramento da tecnologia foi adotado na classe “Landsort” em meados dos anos 1980. Como vimos, a classe “Koster” é constituída de navios da classe “Landsort” modernizados nos anos 2000, época em que essa tecnologia de construção chegava à terceira geração com as corvetas classe “Visby”.

Os cascos em compósito de plástico reforçado com fibra de vidro (GRP) das classes “Landsort”/ “Koster” foram testados em sua capacidade de sobrevivência dentro de um campo minado, com a realização de testes reais com minas, sendo aprovados em sua resiliência.

Outros aprimoramentos para a guerra de minas vieram também na propulsão. A classe “Landsort”/ “Koster” incorporou hélices ciclodais Voith-Schneider para manobras de alta precisão (importantes para movimentação, posicionamento e manutenção da posição numa área que se suspeita ser minada), posicionadas logo abaixo do casco, à popa (assemelham-se, grosso modo, a lâminas de multiprocessadores domésticos, girando no sentido vertical ao invés de horizontal).

Também sob o casco, mais à proa, está instalado um sonar retrátil do tipo 12M da Atlas Elektronik, de tripla frequência e alta sensibilidade e desempenho de detecção para a guerra de minas.

Ao sonar de casco se soma um sonar de profundidade variável autopropulsado (PDVS), na verdade um modelo de ROV (veículo operado remotamente) Double Eagle MkII com sonar, por isso também denominado Veículo Sonar Operado Remotamente (ROV-S).

Conforme apresentado por Petersson, essa combinação de sensores com um sistema de comando e controle, também da Atlas Elektronik, permite realizar seguidamente as tarefas de busca, detecção, classificação e identificação de minas, partindo-se então para a etapa seguinte, de eliminação.

Mergulhadores, ROVs e varredura – normalmente, a ameaça da mina é eliminada com a sua eliminação, por meio de explosivos. Uma carga explosiva é instalada junto à mina, o que preferencialmente é feito de forma não tripulada, por ROVs, a uma distância segura. Quando estritamente necessário, são empregados mergulhadores para essa tarefa, e a classe “Koster” pode ser dotada de câmara hiperbárica e área de armazenagem de equipamentos de mergulho para os mergulhadores.

O conceito “caçar quando você pode, varrer quando você deve” é atendido por equipamentos de varredura mecânica rebocada (veja a matéria número 1 da série para saber mais sobre essa atividade) e, para as varreduras acústica-magnética (de influência) a doutrina sueca e os equipamentos desenvolvidos vêm se voltando para sistemas não tripulados. É o caso da terceira geração de veículos não tripulados de superfície, chamados SAM3, que podem ser levados na classe “Koster” como complemento.

Trata-se de uma embarcação do tipo catamarã, com cascos de tubos de borracha com diversos compartimentos inflados, para absorver energia em caso de explosão de minas, protegendo seus equipamentos embarcados. O SAM3 é controlado por rádio e mede pouco mais de 14 metros de comprimento, movendo-se a 10 nós quando em trânsito, velocidade que é reduzida para 8 nós em varreduras. O sistema é modular e pode ser transportado em conteineres abertos de 40 pés.

Habitabilidade e os novos MCMV 52 – Por fim, Petersson apresentou as características de habitabilidade da classe “Koster”, que é oferecida como uma solução capaz de atuar para além do ano 2030, devido à durabilidade do casco em compósito e pelos equipamentos de nova geração com os quais os navios podem ser equipados.

Vale ressaltar, quanto a esses aspectos, que o material promocional da Saab Kockums distribuído no evento faz referência a um desenvolvimento da classe, chamada “Koster aprimorada”, com 52,5 metros de comprimento – daí sua denominação MCMV 52. A boca foi ampliada de 9,6m para 10,2m, com ligeiro aumento do calado (2,3m para 2,4m).

As linhas básicas do casco dos MCMV 47, os métodos de sua fabricação e o sistema de propulsão são mantidos no novo MCMV 52, ao passo que o aumento do espaço interno e do deslocamento de 400 para 550 toneladas gera, segundo a empresa, condições de navegabilidade aprimoradas e garantia de maior margem de crescimento para o futuro. Isso significa, por exemplo, um hangar para armazenamento e manutenção de veículos não tripulados (existentes e em desenvolvimento) e melhores instalações para os mergulhadores. A área de acomodações ampliada permite acomodar até 51 pessoas (os MCMV 47 levam cerca de 30 tripulantes). O armamento principal é o mesmo, um canhão de 40mm.

 

Sistemas submarinos – A última apresentação do dia 17 de outubro foi feita por Jan Siesjö, da unidade de sistemas submarinos da Saab, trazendo mais alguns detalhes tanto sobre equipamentos já mencionados nas palestras abordadas aqui, quanto outros que compõem uma família de 10 produtos principais (e suas variações).  A unidade de sistemas submarinos reúne três instalações diferentes, duas na Suécia (Linköping e Motala) e uma no Reino Unido (Fareham). Na área offshore, há diversos clientes espalhados pelo mundo e, especificamente no setor de defesa, estes somam mais de dez.

Os sistemas fornecidos vão desde torpedos (leves, pesados e de treinamento de guerra antissubmarino) a veículos remotamente operados por submarinos e navios de superfície, sistemas de inspeção, de salvamento e, para a área de guerra de minas que era o tema do congresso, destacam-se quatro sistemas submarinos do portfólio: AUV62-MR, veículo multiplataforma em formato de torpedo para curto tempo de resposta para missões em grandes áreas, com capacidade para busca, detecção e classificação de ameaças subaquáticas; o já mencionado Double Eagle, empregado tanto na função de reconhecimento de minas como sonar de profundidade variável autopropulsado, quanto para desativação de minas; o MuMNs, para desminagem de sistemas atuais e históricos (minas lançadas em conflitos do passado) e investigação de minas; e o Sea Wasp, voltado a ameaças assimétricas, capaz de detectar e identificar IEDs (artefatos explosivos improvisados).

A apresentação de Jan Siesjö deu destaque especial ao Double Eagle, em suas versões MkII, com 2,2m de comprimento e peso de 360kg, MkIII, com 3m e 500kg e o mais pesado SAROV (540kg), que tem como diferencial uma autonomia que pode chegar a 10 horas a uma velocidade de 3 nós (lembrando que os três modelos têm uma velocidade de avanço entre 7 e 8 nós).

Nas próximas matérias, prosseguiremos mostrando o conteúdo de palestras relacionadas à guerra de minas em ambiente marítimo, sistemas relacionados, trazendo também os produtos de outros fabricantes presentes ao evento, como Abeking&Rasmussen, Thales, Navantia, Polyamp, entre outros, assim como iniciativas de pesquisadores brasileiros na área de robótica submarina, além de produtos, soluções e experimentos desenvolvidos por organizações da Marinha do Brasil como o IPqM,  CHM e IEAPM.

O colaborador do Poder Naval viajou ao evento a convite da Saab.

Imagens adicionais às capturadas durante o evento: Saab e Forças Armadas da Suécia

Veja também:

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