Tensão no Atlântico Sul
Os mares do Atlântico Sul têm andado mais agitados. A riqueza subterrânea das megarreservas de petróleo e a presença da 4ª Frota dos Estados Unidos tornaram a região o epicentro de disputas políticas, econômicas e militares.
Duas situações preocupam o governo Lula: a penúria da Marinha e a reativação da esquadra americana. O que era uma suspeita do presidente foi confirmada há duas semanas pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim. Em encontros com o Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, Jobim foi informado de que as reservas do pré-sal, combinadas à instabilidade no Oriente Médio, podem fazer do Brasil um estratégico fornecedor de petróleo para o mercado americano.
Enquanto o Planalto ainda estuda que protagonismo deve exercer diante da iminência de se tornar o sexto maior produtor de petróleo do mundo, a Marinha reforçou seu discurso por mais investimentos. Para marcar presença no debate, um exercício naval previsto para setembro irá concentrar 20 navios e 40 aeronaves na área onde está localizada boa parte das novas reservas. Batizado de Operação Atlântico, o treinamento ocorre dois meses após a reativação da 4ª Frota.
– Se confirmar as expectativas do pré-sal, o Brasil passa a ter uma posição estratégica no cenário mundial num futuro próximo. A reativação da 4ª Frota é um recado enviado pelos EUA: “Estamos atentos” – analisa o almirante Armando Vidigal, um dos maiores estrategistas militares do país.
Essa tentativa de contraponto da Marinha revela a diferença abissal diante do poderio norte-americano. Desativada há 58 anos, a 4ª Frota ressurge com um porta-aviões de última geração, de oito a 12 navios de escolta e até três submarinos nucleares. Esquálida, a frota brasileira tem um programa de reestruturação orçado em R$ 5,8 bilhões ao longo de sete anos, mas o dinheiro vem a conta-gotas. Dos R$ 2,6 bilhões para este ano, apenas R$ 1,5 bilhão foram liberados.
– Caso não haja reversão no orçamento, 87% dos navios serão desativados até 2010 – admite uma fonte do comando da Marinha.
Marinha se queixa de atraso de repasse de royalties
A maior queixa da arma é o atraso nos repasses dos royalties do petróleo. Ao final de 2007, o Tesouro Nacional reteve R$ 3,15 bilhões. Sem recursos, a Marinha aposta em alternativas mais baratas, como navios-patrulha. Duas novas embarcações estão sendo construídas no Ceará e foi aberta licitação para outras quatro, ao custo de R$ 80 milhões. A idéia é dobrar o número atual, chegando a 54 até 2014.
– Hoje, a Marinha brasileira não tem condições garantir a segurança da faixa costeira – afirma o professor do Centro de Estudos Estratégicos da Unicamp Geraldo Lesbat Cavagnari Filho.
Na próxima terça-feira, 19, a Marinha incorpora à frota a corveta Barroso, um moderno navio de combate, com canhões, torpedos e mísseis, cuja finalidade será proteger os campos petrolíferos. Espera uma negociação com a França a aquisição de quatro submarinos convencionais e um outro a propulsão nuclear. Para Cavagnari, as descobertas tornaram o Atlântico Sul uma das áreas mais sensíveis do planeta, o que pode transformar as plataformas em alvos de sabotadores.
– Essa região ganhou tanta magnitude quanto a Geórgia, cuja importância se dá pela constante ameaça de fornecimento de gás para a Europa. Se a Rússia invadisse a Letônia, essa crise não teria a mesma dimensão – compara Cavagnari.
FONTE: Zero Hora