Para o ministro Nelson Jobim, da Defesa, é preciso pensar na proteção de instalações estratégicas

As Forças Armadas brasileiras colocarão de prontidão 9 mil homens para tentar repelir uma iminente invasão no litoral brasileiro. O objetivo das tropas inimigas são a Serra do Mar e – posteriormente – as instalações de Yptu, um local imaginário e bem menos conhecido do que a camada de pré-sal, recentemente descoberta e amplamente divulgada pela Petrobras, mas que também guarda um megacampo de petróleo e gás.

A ofensiva dos homens do Exército, Marinha e Aeronáutica começará no dia 15 de setembro e se estenderá até o dia 26, quando os invasores estarão derrotadas. Trata-se da “Operação Atlântico”, manobra conjunta das três forças, que visa fundamentalmente preparar “a defesa da área da Bacia de Campos e da infra-estrutura de petróleo e gás da região Sudeste”, segundo informa o Ministério da Defesa.

A operação não é a primeira e certamente não será a última, no litoral, com o objetivo de planejar a segurança de instalações de interesse estratégico. Ela é um dos mais fortes argumentos para uma idéia do ministro Nelson Jobim, atualmente em discussão no governo, para aparelhar as Forças Armadas: levar as empresas responsáveis por essas obras, como é o caso da Petrobras, a financiar as forças encarregadas de sua proteção.

O raciocínio básico é o seguinte: se as Forças Armadas contribuem para a valorização de uma empresa no mercado, levando seus investidores a sentirem-se seguros, nada mais natural que a Defesa seja beneficiária do resultado alcançado com o financiamento de equipamentos como navios e radares. Exemplo contrário seria o de um gasoduto, alvo potencial de freqüentes ações de terroristas

O ministro Jobim tem procurado esclarecer que não se trata de mercenarismo, mas da proteção de instalações estratégicas para o Brasil. Mercenarismo – argumentam interlocutores do ministro – seria se uma mesma empresa fabricasse aço e cerveja, e os militares cuidassem da segurança das duas instalações.

O foco de Jobim é a infra-estrutura estratégica, primeiros alvos em um país sob ataque militar: usinas de energia (hidrelétrica, nucleares), gasodutos, pontes, entre outros. É certo que a Petrobras, especialmente após a revelação da camada pré-sal, é um modelo prefeito e acabado do tipo de empresa imaginada por Jobim. Mas a “Operação Atlântico”, de fato está planejada desde 2007, antes de a Petrobras e o governo terem a dimensão do “mar de petróleo” que pode haver na costa brasileira.

Alguns sinais apontam nessa direção. O primeiro deles é que desde 2005, quando realizou a Timbó 3, uma das sete operações combinadas desencadeadas na Amazônia desde 2002, o foco das Forças Armadas tem sido cada vez maior em áreas com obras de infra-estrutura estratégicas. No caso, Timbó 3 se destinava à “proteção de áreas críticas, particularmente a usina hidrelétrica de Samuel e os aeroportos de Tabatinga, Porto Velho, Cruzeiro do Sul, Rio Branco e Porto de Tabatinga”, segundo a Defesa. Além disso, a Marinha já recebe recursos de royalties.

Dois anos depois, em 2007, as Forças Armadas realizaram a “Operações Solimões”, no jargão militar para “garantia da soberania nacional e manutenção de patrimônio petrolífero da região” – na prática, defesa da área onde a Petrobras explora petróleo e gás em Urucu -, e a “Operação Poraquê” que, como o próprio nome diz, refere-se às hidrelétricas amazônicas (o poraquê é um peixe que dá descargas elétricas). No litoral, ainda em 2005, foi realizada a “Operação Leão”, no litoral do Rio e do Espírito Santo, “a fim de salvaguardar as pessoas, os bens e os recursos brasileiros ou sob jurisdição brasileira”, diz o ministério.

Ano passado foi a vez da “Operação Albacora”, na mesma região do litoral entre o Rio e o Espírito Santo, “a fim de garantir a soberania nacional, com a preservação da integridade territorial e manutenção do patrimônio petrolífero da região”. Já a “Operação Atlântico”, a ser desencadeada em menos de um mês, é mais explícita ainda nos seus objetivos.

Segundo divulgou o Ministério da Defesa em sua página na internet, “uma operação combinada vem a ser um moderno conceito de aplicação de forças militares de mar, terra e ar, de forma coordenada, para atingir um objetivo que seja de interesse para o país, como, por exemplo, a defesa de áreas de grande atividade econômica”. A nota fala da área da Bacia de Campos e da infra-estrutura de petróleo e gás da região Sudeste, sem referência específica ao pré-sal, mas é certo que essa área também está incluída nos planos de Jobim.

A área litorânea é chamada de “Amazônia Azul”, na simulação feita pelos militares, e está sob o risco de um ataque militar, na simulação planejada, das tropas do país “Amarelo”, que quer ocupar “a região da Serra do Mar, rica em minérios, e um megacampo de petróleo e gás, “Yptu”, situada em áreas marítimas. Caberá às Forças da Marinha, Exército e Força Aérea fazer a mobilização necessária para levar o país “Amarelo” a desistir dos seus planos de agressão”.

A “Operação Atlântico” contará com cerca de 9 mil homens das três Forças. O teatro de operações se estenderá pelo litoral do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e o Atlântico Sul. Na região Sul haverá treinamento de comandos e estados-maiores, treinamento visando operações integradas das três forças, e “ações que envolvam o combate convencional em áreas marítimas e litorâneas”.

O custo previsto da “Operação Atlântico” é de R$ 20 milhões e já constava no Orçamento da União de 2008, elaborado ano passado pelo Planejamento. Esse é outro indício que a Defesa aponta para justificar que não pensava nos royalties do pré-sal ao pensar nas empresas que tocam e lucram com obras estratégicas para financiar o setor.

O problema, segundo a Defesa é que o valor nunca é o necessário e isso limita os meios utilizados. “Para ter maior realismo, seria necessário mais meios militares envolvidos”, diz um assessor. Prova seria a “Operação Poraquê”, que mobilizou um pouco mais da metade dos homens – 5 mil militares – e custou cerca de R$ 10 milhões. Na Amazônia. Em geral, segundo a Defesa, a Força Aérea é a que mais se aproxima de uma operação real. No caso do Exército, o treinamento é mais realista para o Estado-Maior, que cuida do planejamento, mas menor para o operacional.

FONTE: Valor Online

NOTA DO BLOG: As empresas brasileiras já financiam as Forças Armadas com os altos impostos que pagam. O problema é que o dinheiro que deveria ser repassado às Forças é contingenciado há anos. Só a Marinha tem mais de R$ 3 bilhões de reais para receber dos royalties do Petróleo que lhe são devidos por Lei.
Por isso desconfiamos de todo o discurso sobre o Plano Estratégico de Defesa que está para ser anunciado no próximo dia 7 de setembro, pois o atual Governo ainda não mostrou nenhuma ação concreta para reverter o estado de sucateamento dos nossos equipamentos de Defesa. Por enquanto são só ações paliativas, promessas e muitas reuniões.

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