Corte de investimentos atrasou o Programa Nuclear da Marinha

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Fonte: Agência Brasil

São Paulo – Instalações da Usina de Hexafluoreto de Urânio (Usexa), onde a Marinha passará a realizar uma das duas etapas do processo de produção do combustível nuclear em que o Brasil ainda é dependente de outros países, a conversão do urânio em pó em gás São Paulo – instalações da Usina de Hexafluoreto de Urânio (Usexa), onde a Marinha passará a realizar uma das duas etapas do processo de produção do combustível nuclear em que o Brasil ainda é dependente de outros países, a conversão do urânio em pó em gás Brasília – Os cortes no orçamento e a recusa dos países que detêm a tecnologia em exportar os equipamentos para que o Brasil construísse reatores e produzisse o combustível nuclear necessário para continuar desenvolvendo seu programa, retardaram o cronograma do Programa Nuclear da Marinha, inaugurado em 1979.

Um exemplo é a Usina de Hexafluoreto de Urânio (Usexa), da Marinha. Inicialmente, a unidade que converte o urânio em pó (yellowcake) no gás UF6, que é usado no processo de fabricação do combustível nuclear, estava prevista para ficar pronta em dezembro de 2001. Agora, a Marinha fala em inaugurá-la em 2010.

Segundo a Marinha, até 2007 seu programa já havia consumido US$ 1,159 bilhão. Desses, US$ 936 milhões, ou mais de 80% do total, saíram do próprio orçamento da Marinha. Os militares garantem que o investimento foi baixo para a ambição do projeto que, concluído, capacitará o país não só a utilizar uma fonte de energia alternativa, mas também a desenvolver seu próprio submarino nuclear.

Para demonstrar que o valor é pequeno, a Marinha cita o exemplo do Projeto Manhattan, programa norte-americano desenvolvido na década de 40 para a fabricação de armas nucleares e que teria consumido o equivalente a cerca de US$ 25 bilhões, valor já atualizado.

Na audiência pública que participou em outubro de 2007, o então comandante da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, explicou aos senadores das comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional e de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática que entre 1979 e o final da década de 80, o Programa Nuclear da Marinha contou com significativo aporte de recursos provenientes de outras fontes governamentais.

A partir daí, esse reforço foi declinando até que, conforme consta em artigo divulgado no site da Marinha, a partir de 1994 o programa passou a ser mantido quase que exclusivamente com recursos da força, às custas de cortes em importantes setores e atividades militares, incluindo a manutenção dos navios e o treinamento das tropas.

A falta de dinheiro obrigou a Marinha a manter o programa em “estado vegetativo”, lutando para evitar o sucateamento dos equipamentos e a evasão de profissionais.

Em julho de 2007, após repetidos apelos para que seu programa nuclear fosse visto como um programa de Estado e voltasse a receber aporte financeiro de outras fontes governamentais, a Marinha conseguiu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comprometesse a destinar pouco mais de R$ 1 bilhão à conclusão do projeto.

O valor foi dividido em oito parcelas anuais de cerca de R$ 130 milhões e, de acordo com o diretor do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (Ctmsp), almirante Carlos Passos Bezerril, o compromisso vem sendo cumprido neste primeiro ano.

“Os recursos estão chegando, está legal. Ano que vem você me faça essa pergunta de novo”, disse Bezerril à Agência Brasil.

A falta de dinheiro, no entanto, não foi o único empecilho ao programa. Conforme explica o superintendente de Operações do Centro Experimental de Aramar (CEA), capitão Winderson Scholze, devido à resistência de alguns países em vender ao Brasil os equipamentos necessários para o projeto, vários equipamentos e ferramentas tiveram que ser desenvolvidas pela indústria brasileira sob a orientação dos pesquisadores da Marinha.

“O país foi impedido de adquirir similares já fabricados por outros países e isso encareceu e retardou o desenvolvimento do programa. Há 20 anos, esses países se negavam a nos atender alegando que esses equipamentos seriam usados para fins militares”, diz o engenheiro. “O país então teve que desenvolver sua própria tecnologia”, acrescenta.

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