Construção naval no Brasil: a corrida para atender às novas demandas
Trechos da reportagem “Corrida de Obstáculos – Riscos para o Pré-Sal”, publicada pelo Jornal O Globo, e assinada por Henrique Gomes Batista e Gustavo Paul:
Enquanto a Petrobras anunciava, na semana passada, o potencial de até 4 bilhões de barris de petróleo e gás na área de Iara, um dos nove megacampos do pré-sal já conhecidos, os setores portuário e naval do país se movimentavam para tentar atender à demanda que emergirá nos próximos anos. Todos agora correm contra o tempo para enfrentar a falta de portos, navios e plataformas capazes de atender a esse novo mercado. Portos de Rio, São Paulo e Espírito Santo iniciam planejamento para tentar oferecer terminais que possam servir de base às operações das empresas. Projetos como o de São Sebastião (SP), que precisa de US$3 bilhões, atraem a atenção de investidores estrangeiros.
Em jogo, além de toda a operação portuária, estão as mais de duas centenas de embarcações que vão entrar no mercado brasileiro nos próximos anos e serão a coluna vertebral da exploração. Estudo do BNDES aponta que, até 2042, serão necessárias mais 138 plataformas, num ritmo de seis novas ao ano, a partir de 2020. Uma plataforma custa em média US$1,7 bilhão.
A Secretaria Especial de Portos acredita que, inicialmente, a operação do pré-sal deverá afetar os portos de Vitória, Niterói, Rio, Angra dos Reis, São Sebastião e Santos. O órgão abriu licitação internacional para contratar projeto estratégico para os portos para 30 anos, com o objetivo de medir corretamente as necessidades do país. Antes do pré-sal, o governo estimava a necessidade de investir US$15 bilhões no setor nos próximos dez anos.
O Espírito Santo também corre contra o tempo. O secretário de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Guilherme Dias, lembra que a Petrobras anunciou a construção de um terminal de apoio em Anchieta, no Sul do estado, para dar suporte às plataformas da região e tentar transformar a cidade em uma Macaé capixaba. Dias diz que há possibilidades para todos com o crescimento do setor petrolífero.
– Não há uma concorrência deletéria entre estados. Tem espaço para muitos projetos, pois o desafio do setor de petróleo é muito grande.
Dias se refere também à necessidade de construir estaleiros pelo país. Em agosto, o governo capixaba assinou protocolo de intenções com a Jurong do Brasil para implantar estaleiro no município de Aracruz, orçado em R$500 milhões e destinado a construir plataformas e ao reparo naval. Já a Companhia Docas do Rio aprovou a abertura de uma área no Porto de Itaguaí para construção de estaleiros.
Além disso, essa nova frente deve gerar impactos na indústria naval, na formação de profissionais do setor. Hoje, os 26 estaleiros de médio e grande portes do país atendem à demanda de novas embarcações, mas o presidente do Sindicato Nacional da Indústria Naval (Sinaval), Ariovaldo Rocha, admite que ela vai aumentar exponencialmente, porque o Brasil pode ser um pólo de produção para todo o Atlântico Sul. Isso inclui países produtores, como Angola e Nigéria, cuja produção deve crescer 153% até 2030 – o maior salto do mundo.
O pré-sal afetará ainda estados distantes das reservas. Os estaleiros gaúchos e do Nordeste também estão se preparando para tentar atender à nova demanda por navios.
Fotos: (via Santos Export) Navio de apoio a plataformas de petróleo – PSV, Plataform Supply Vessel – Saveiros Atobá, construído pelo estaleiro do Grupo Wilson, Sons no Guarujá. Batizado no último dia 9 de setembro, tem índice de nacionalização de 60% nos materiais e equipamentos, segundo o estaleiro. Outros navios encomendados pela Petrobras ao Grupo são o “Saveiros Fragata”, o “Saveiros Pelicano”, o “Saveiros Gaivota” e o “Saveiros Albatros”, todos já entregues conforme informa o editor do NMB Marcelo “Ostra” Lopes.