Jobim – desenvolvimento e defesa juntos no continente
Ao apresentar a proposta de criação do Conselho de Defesa da América do Sul ao Parlamento do Mercosul, nesta terça-feira (16), o ministro da Defesa, Nelson Jobim, defendeu a vinculação das estratégias de defesa e desenvolvimento da região. Ele sugeriu a união de esforços para o desenvolvimento da indústria militar e para a produção conjunta de novas tecnologias para o setor.
– A capacitação tecnológica da região é vital. Precisamos sair do chão tecnológico, onde nos encontramos, para chegar ao teto tecnológico. Para isso, devemos promover o compartilhamento de investimentos, não repetir pesquisas que os outros estão fazendo e, dessa forma, conquistar economia de escala. São inseparáveis as estratégias de defesa e de desenvolvimento – afirmou Jobim ao apresentar a proposta, durante sessão especial do Parlamento realizada a partir de requerimento do senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS).
Segundo o ministro, a estratégia de defesa deve funcionar como um “escudo” da estratégia de desenvolvimento. Ele sugeriu a integração das bases industriais de defesa sul-americanas e uma maior aproximação entre os principais institutos de pesquisa da região ligados ao setor. Um bom exemplo nesse sentido, a seu ver, é a produção no Chile de peças e partes dos aviões da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer). O ministro citou ainda as negociações com a Argentina para que essa estratégia se repita em uma indústria localizada em Mendoza. E criticou o fato de que jaquetas militares brasileiras ainda sejam adquiridas na China.
Ao iniciar a sua exposição, Jobim admitiu que o Brasil permaneceu durante muito tempo de costas para a América Hispânica, por razões históricas ligadas ao século XIX e ao início do século XX. Como o momento agora é outro, disse o ministro, o governo brasileiro entende ser necessário “pensar a região em sua integridade”. A América do Sul, observou, é a maior fornecedora de alimentos do mundo, possui as maiores reservas de água doce e está a caminho de se converter em um grande pólo produtor de energia.
– Isso nos leva a pensar na necessidade de entendimento sul-americano para formar uma união em termos de defesa, com base em princípios como a submissão do poder militar ao poder civil. Nossa região é uma região de paz, não temos conflitos graves entre os Estados – lembrou Jobim.
O ministro relatou as viagens que fez a todos os países da América do Sul, por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para apresentar a proposta de criação do Conselho de Defesa. Ele disse que a proposta foi bem recebida e, em um primeiro momento, apenas a Colômbia teria se esquivado de participar do novo organismo. Mesmo assim, como lembrou, o presidente Álvaro Uribe já admite integrar o conselho.
Segundo Jobim, o Conselho de Defesa da América do Sul seria composto pelos ministros de Defesa de todos os países do subcontinente e teria como principal objetivo “fomentar a confiança e a transparência na formação de consensos” na região. O conselho, explicou, não seria uma aliança militar clássica, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), mas um “foro de debates para discutir e identificar fatores de riscos e ameaças à região de toda natureza”.
Ao responder a questões formuladas por parlamentares da Venezuela e da Argentina, Jobim disse que o Brasil já controla o ciclo de combustível nuclear, possui uma grande reserva de urânio e pretende desenvolver industrialmente o ciclo nuclear. Além disso, informou não ter “nenhuma preocupação” com a recriação da Quarta Frota da Marinha dos Estados Unidos, que tem sido motivo de muitos debates no Parlamento do Mercosul. Ele atribuiu a recriação da frota a uma “reorganização administrativa” e observou que se deve apenas estar atento à soberania dos países da região sobre suas águas territoriais. “As águas jurisdicionais sul-americanas são sul-americanas. E ponto”, disse ele.
Fonte: Agência Senado