Aprendendo com os erros dos outros: submarino nuclear britânico classe Astute
No momento em que a Marinha do Brasil anuncia a retomada nos trabalhos que visam a construção do primeiro submarino nuclear brasileiro, é bom poder analisar projetos de submarinos nucleares recentes construídos em outros países.
A “Astute”, cuja primeira unidade deve estar operacional em 2009, é a classe britânica projetada para a substituição dos antigos submarinos de ataque da classe “Swiftsure”, comissionados no início da década de 70.
Esses submarinos de ataque modernos foram projetados para três missões principais: caçar e destruir submarinos inimigos, principalmente os submarinos lançadores de mísseis balísticos (SLBM); apoio de fogo de artilharia com o uso de mísseis de cruzeiro de longo alcance; e por último, espionagem e inteligência.
O submarino Astute foi encomendado pelo governo inglês em março de 1997 e previa-se, inicialmente, a construção de três unidades dessa classe. Mas a Royal Navy gostaria de construir outro lote de 3 unidades e até elevar o número de unidades a 7 ou 8 submarinos, aumentando substancialmente o poder de combate de frota de submarinos nucleares de ataque britânicos.
Diferentemente dos submarinos que vão susbstituir, que eram mais adequados para águas azuis, os “Astute” têm uma ênfase no combate litorâneo, dentro da nova estratégia marítima de operações conjuntas, usando mísseis de cruzeiro Tomahawk em apoio a forças terrestres.
O projeto
Em 17 de março de 1997, o Ministério da Defesa britânico anunciou o contrato de £ 2 bilhões para construção de três submarinos “Astute”. Em 26 de março de 1997, o contrato foi assinado com a GEC-Marconi Limited para as três primeiras unidades: Astute, Ambush e Artful. A GEC iria construir os submarinos na sua filial VSEL (agora BAE Systems Submarines).
Estes submarinos são propulsados por um reator nuclear Rolls-Royce PWR 2 (Core H), com um eixo e hélice carenada. Esse reator é o mesmo usado na classe de submarinos de mísseis balísticos “Vanguard”, para baratear o custo de desenvolvimento.
Como resultado, o casco da classe “Astute” ficou com uma boca 30 por cento maior que os submarinos britânicos anteriores, que eram movidos por pequenos reatores. Por esse motivo, este será o primeiro submarino da Marinha Real que terá um beliche para cada membro da tripulação, acabando com a prática de ‘hot bunking” (cama quente), em que dois marinheiros compartilhavam o mesmo beliche, já que sempre um deles está de serviço.
O reator nuclear de água pressurizada Rolls-Royce PWR-2 não precisa ser reabastecido durante toda a vida útil do “Astute”, prevista em 25/30 anos. Para efeito de tempo de missão, o limitador será apenas a quantidade de mantimentos para a tripulação que o submarino pode transportar, que é de 3 meses.
Essa é a grande vantagem do submarino nuclear sobre os submarinos de propulsão convencional: para se ter um idéia, o reator PWR-2 permite ao “Astute” circunavegar o globo 40 vezes, sem precisar vir à superfície. Os reatores PWR da geração anterior, permitiam circunavegar o globo cerca de 20 vezes.
O reator nuclear gera energia para duas turbinas Alsthon para que elas movam um eixo único com uma hélice capaz de levar o “Astute” a uma velocidade de 29 nós (54 km/h) quando submerso. A profundidade máxima operacional do submarino é de cerca de 300 metros (provavelmente ele é capaz de descer mais, porém essa informação é classificada). Para emergências, existem dois alternadores que funcionam a diesel e um motor de emergência, aumentando a segurança do submarino em caso de problemas com o sistema de propulsão nuclear.
O casco do submarino foi projetado para receber mais de 39.000 placas anecóicas, para mascarar a assinatura sonar do navio, o que dá à classe “Astute” uma qualidade stealth melhor do que qualquer outro submarino anteriormente operado pela Royal Navy.
O navio está equipado com o avançado sistema sonar 2076, que é capaz de identificar e monitorar navios em milhares de milhas quadradas do oceano. A Royal Navy descreve o sonar 2076 como o mais avançado em serviço no Mundo.
Atrasos, estouro no orçamento e cortes
Em junho de 2006, foi revelado que o cronograma do “Astute” estava atrasado em 46 meses e £ 900 milhões mais caro que o previsto inicialmente.
Esperava-se que a nova classe seria construída cerca de 20% mais rápido que os submarinos anteriores, usando o sistema digital CADDS5 para projetos e o método de construção modular, visando menores custos de construção. No entanto, os atrasos chegaram a quase 4 anos e com custo previsto superado em £ 1 bilhão.
Foi solicitada a consultoria técnica do estaleiro americano General Dynamics Electric Boat, especializado na construção de submarinos nucleares da US Navy, para resolver problemas de projeto e produção.
Até psicólogos foram chamados para melhorar a comunicação e a eficácia do gerenciamento da produção. Os requisitos de mão de obra foram reduzidos, empregando-se métodos americanos de construção de submarinos, da empresa Electric Boat. Por exemplo, as seções do submarino foram construídas na vertical, utilizando a força da gravidade durante a montagem.
O lançamento do primeiro submarino da classe, cuja data inicialmente prevista era de 31 de janeiro de 2001, ocorreu em 8 de junho de 2007. O início da construção do segundo submarino, o Ambush, aconteceu em 22 de outubro de 2003 e consta que seu progresso está sendo mais rápido que o primeiro, por conta do aprendizado acumulado com os erros iniciais.
Em 21 de maio de 2007 foi anunciada a encomenda da quarta unidade da classe “Astute”, o Audacious, visando a economia de escala. Mas o jornal inglês The Guardian, relatou em janeiro de 2008, que as propostas de cortes orçamentários para as Forças Armadas britânicas poderiam restringir a classe “Astute” a apenas quatro unidades, com todas as novas encomendas a serem canceladas, apesar de já terem sido encomendados ítens para um novo lote de submarinos.
Fenomenal artigo Galante !
Sds
Iuri
Isso é que preocupa e bastante, pois vemos que quem já tem experiência, ainda paga seus pecados.
Ter um sub desses que custou os olhos da cara, ferrar todo um sistema por falta de lubrificação – defeito de uma bomba que custa mixaria perto do preço do sub.
Ou seja, são erros que podem acontecer, mas não deveriam.
Infelizmente acontecem e não estaremos livres disso no nosso tortuoso caminho para a independência nesta área.
Excelente artigo, para vermos que o processo de fabricação e obtenção da tecnologia, não podemos chorar por misérias, ou seja, sempre temos que ter os melhores produtos sem “economias PORCAS”!!!
Pois é direto do fundo do mar – nos países civilizados este problema da bomba que custa uma mixaria vem a público porque quem paga a conta é o contribuinte. Aqui fica tudo sob o manto do secreto. Afinal de contas os civis não entendem nada aqui no Brasil, não é mesmo?
Para mandarem o homem ao espaço, norte-americanos, russos e chineses viram muitos foguetes explodirem. Aqui no primeiro percalço já se fala em cancelar tudo.
É vero!
Onde no texto há esse informação direto do fundo do mar (problema de lubrificação e defeito numa bomba)?
de pato para ganso… é ilusão de óptica ou os hélices do cachalote ai são pequeninas?
quanto à matéria, mais uma vez, muito boa e um ótimo ponto de vista dos editores.
referências para nosso programa e uma boa base de reflexão sobre o futuro nucle que se não for levado a sério vai ficar só no futuro mesmo.
Confio plenamente na capacidade dos nossos engenheiros e técnicos. Mas a história mostra que um projeto deste e muito, mas muito caro.
Não sei até onde vai a nossa capacidade de comprometimento. Eu imagino que nossa sociedade não assuma estes custos.
Muito bem escolhido esse exemplo. Vai ser bom também, pra continuar a discussão, tratar dos últimos desenvolvimentos do Barracuda, enfim, aprofundar o que o Blog já vem tratando. De qualquer forma, teremos muitos e muitos anos pra discutir o assunto, mesmo com tudo dando muito certo no projeto brasileiro. E gostei muito desse raio-x do Astute e adorei o nome de uma das unidades: Ambush. Os nomes na RN, aportuguesados, são bem interessantes. Por fim, imagino que essas 39.000 placas anecóicas devem custar os olhos da cara e dar um trabalhão de manutenção. Mas também imagino que o custo-benefício deve… Read more »
muito boa essa matéria GALANTE,
Se a Royal Navy, que já construiu e opera subs nucleares teve esses problemas, imagina a MB que está entrando agora nesse campo.
Não é querendo ser chato nem ser chamado de ” defensor de um Brasil desarmado” não, mas que a MB vai encontrar problemas maio-
res ainda vai. Não tenha dúvida.
O programa do SNB chegou a um patamar de caminho sem volta. O tanto que já foi investido e aprendido, não dá mais.
Voltar seria não admitir; mas seria PROVA de incompetência. De admitir que somos medíocres.
Erros e acertos fazem parte de um processo de aprendizagem que culmina na conquista do objetivo.
Concordo com o Alte.Doenitz, o João-Curitiba e Henrique-Sousa.
Talvez a sociedade não queira assumir porque ainda a soberania brasileira é programa de governo e não de Estado.
Enfim, minha opinião.
Já bati na tecla e volto a “apertá-la”, as “Forças” deveriam fazer mais “merchan”. Sei que alguns irão alegar: “pô falta grana pra projetos e o BVR fica falando em gastar com propaganda.” Mas só se ama aquilo que se conhece e só se defende aquilo que se ama. (lembram disso???) Abrir estandes em feiras universitárias de empregos; promover seminários destinado as instituições e pessoas que ainda não conhecem o papel das forças armadas (principalmente empresariado, no final explico o por quê); vídeos institucionais; militares visitando escolas; OM´s “apadrinhando” escolas…enfim, cair no mundo. Sobre o empresariado, imagine mostrar o quanto… Read more »
Quem assiste ao canal Discovery deve saber: o óleo WD 40 tem esse nome porque seus inventores só conseguiram a consistência ideal na quadragésima tentativa. Antes disso foram 39 tentativas frustradas. Já pensaram se eles tivessem desistido lá pelo quinto erro?
Alguém saberia dizer quanto tempo um submarino nuclear moderno permanece no porto entre missões?
Posso estar errado, mas pelo que sei, para cada dia de mar ele precisa de 2 dias de “manutenção”. Um dos itens mais complicados é o do sistema de dessalinização da água.
João-Curitiba,
dizem que Tomas Edison, inventor da lâmpada elétrica fez 2000 tentativas antes de fazê-la funcionar corretamente. Perguntado porque ele não havia desistido após tantos fracassos ele respondeu: “Eu não fracassei nenhuma vez. Descobri 2000 maneiras diferentes de como não se deve fazer”.
É Bosco,
Tomara que o Brasil não precise descobrir 2000 formas diferentes de não se dazer errado o tal SNB. Como sou otimista, acho que lá por 2025, ele comece suas provas de mar. Em 2030, ele é incorporado à Esquadra e, seis meses depois, estando ancourado para reparos de peças defeituosas ( não se esqueça: o governo quer empresas nacio-
nais envolvidas em todos os projetos militares), afunda da mesma forma que o Tonelero. O sal da água danifica os equipamentos elé-
tricos e la se foi uns 2 bi de dólares para o ralo.
Caro Vassily. Você sabia que o Brasil (EUA fora, claro) é o País das Américas com mais empresas com ISO 9000? Se no México e Argentina contam-se às dezenas, no máximo centena, no Brasil são milhares.
Nós temos excelentes empresas aqui, principalmente as que exportam, que não ficam nada a dever às empresas do dito primeiro mundo. Nem vou citar exemplos. Você mesmo sabe de muitas delas.
OBSERVAR OS ERROS,E SABER ASSIMILAR O ERRO E ENTÃO CORRIGILO,É PRA QUEM TEM DETERMINAÇÃO,PATRIOTISMO,E UMA BOA REMUNERAÇÃO. AQUI QUANDO SE DESCOBRE ALGO RELEVANTE,OU ATÉ MESMO INOVADOR EM ALGUM TIPO DE SISTEMA QUALQUER,LOGO APAREÇE UM POLITICO CANCELANDO O PROJETO,OU ENTÃO CIENTISTAS SE VENDEM AO TIO SAM,OU AS EMPRESAS ESTRANGEIRAS NOS BOICOTAM COM SANSÕES ECONÔMICAS. E É ASSIM QUE IRÁ ACONTECER COM QUALQUER PROJETO DE SUBMARINO NUCLEAR.OU AGENTE COMPRA E PAGA OS OLHOS DA CARA, OU VAMOS ANDAR DE TIKUNA E SCORPENE O RESTO DA VIDA!!!
A verdade eh que o Brasil nao precisa de submarino nuclear. O Brasil nao tem necessidade de atravesar mares para cacar submarinos balisticos. O que o Brasil precisa mesmo eh de uma frota de submarinos convencionais. Doze submarinos convencionais divididos em 3 bases, uma no norte, uma no centro e uma no sul seria mais do que o suficiente. Mais nao. O Brasil mal consegue operar os 5 convencionais que tem, e fica nesta de construir um nuclear… Poderiam construir um sub convencional constantemente a cada 2.5 anos e manter uma fota de 12. Mais nao, vao gastar fortunas em… Read more »
Acho que fazer bombas nucleares se realmente os militares quisessem,já teriam feito.Talvez até mesmo durante o regime militar,só que realmente o que eles querem são melhores meios operacionais.Que no caso da MB,é um sub nuclear de ataque.Que nos atuais cenários de guerra naval moderna,é bem melhor possuir meia dúzia de sub nucleares de ataque e poder ter um poder de resposta rápido e eficiente que essas naves representam, do misseis nucleares balísticos.Que no caso nós não temos experiencia para usálos.Eisso leva décadas pra aprender,e custa caro manter um arsenal de misseis nucleares.
Meu ponto, eh que para o Brasil nao faz sentido ter SNB. Acredito que os Almirantes tambem sabem disto. Para mim, este projeto de SNB eh uma grande fachada para ficar pertinho tecnologicamente de poder ter uma producao de bombas nucleares. Isto para se precisar, em um periodo de messes, as bombas podem comecar a sair do forno.
Este projeto de SNB soh faz sentido asim. Ou voce realmente acha que o Brasil precisa de submarino nuclear patrulhando o litoral??
Achei muito interessante seu comentário sobre asreservas indígenas,principalmente se levarmos em conta que os índios brasileiros adoram gringos em suas reservas.E se eles bancarem essa “separação do território brasileiro”,aí que o bicho vai pegar.Já que o nosso governo ignora essa questão e ainda mais os índios que são praticamente esquecidos!
Já penssou uma filial inglesa-tupiniquim altamente equipada no norte brasileiro?
Po não da para entender, e olha que sou projetista,( mas trabalho na area diferente da naval) o submarino ingles não tem o casco oval ou boleado, como disseram os construtores brasileiros para o sb nuclear, agora fica a pergunta para quer uma circuferencia perfeita, ja que o sub ingles pareçe mais uma baleia jubarte ???
[…] nucleares de ataque, em construção nos Estados Unidos (Classe “Virginia”), Inglaterra (Classe “Astute”) e França (Classe “Barracuda”), dão uma idéia dos custos, atrasos e riscos envolvidos no […]
[…] mas o “Astute” sofreu um atraso de vários anos. O mesmo estudo cita que o projeto do submarino da classe “Astute” está estimado em 8,5 milhões de homens/hora, não especificando a divisão entre Royal Navy e […]
[…] NOTA DO BLOG: O projeto da classe “Astute” teve imensas dificuldades de gestão e só na quarta unidade as questões foram resolvidas. Conheça os problemas do desenvolvimento do mais avançado SSN inglês clicando aqui. […]
[…] NOTA do BLOG: No artigo acima, publicado em novembro de 2008, estimamos com precisão os valores do Programa do Submarino Nuclear, antes que o acordo com a França fosse firmado. Continuamos discordando da Marinha quanto ao valor estimado para o nosso primeiro submarino nuclear, tendo em vista as experiências de outros países na área. […]
Adoro ver o meu Brasil na corrida de aperfeicoamento tecnologico
juntamente com outros paises , temos cientistas e o famoso jeitinho brasileiro que nos da a melhor arma atomica, a Inventividade Brasileira em Tempos de Crise.
OBs.A caldeira de um Submarino nuclear so ira ferver a agua que esta
dentro criando temperaturas de ate 450 graus e sob uma forte pressao
girara uma turbina eletrico-mecanica. HA UM JEITO DE FAZER O MESMO
PROCESSO SEM TER O REATOR A BORDO. ACREDITANDO OU NAO, E VERDADE.
Não se preocupem que o sistema possa dar problemas por causa de uma ou de várias bombas de lubrificação, de circulação ou qualquer outra. Mesmo nos estaleiros do Brasil, há mais de 30 anos passados, já fabricávamos navios com controle automáticos onde sempre os sistemas possuem capacidade de funcionar protegidos, as vezes para dar alarmes antes dos pontos críticos, outras vezes para ligar o reserva e desligar o que tem indicação de problema. Fabricamos navios com cabines de comando de máquinas a prova de som, e com ar condicionado. Sentado numa confortável poltrona, os oficiais da nossa MARINHA MERCANTE BRASILEIRA,… Read more »
qual o peso desse submarino?
Incrivel! Adoro a tecnologia Naval e Aérea.