O Submarino-Museu Riachuelo e os pescadores da Praça XV

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Os pescadores da esperança: grupo, que reúne de mendigos a comerciantes, desafia militares e veículos em alta velocidade

Com capacidade para armazenar até 24 torpedos, o submarino Riachuelo, da classe Oberon, alcança velocidade máxima de 17,5 nós na superfície e 15 nós submerso. Construído na Inglaterra e incorporado à Armada brasileira em janeiro de 1977, a embarcação, ancorada na Praça 15, quase é acertada por anzóis, lançados ao mar por cerca de 20 homens que se acotovelam no parapeito sobre as águas da Baía de Guanabara.

A cena se passa por volta das 17h30 de sexta-feira, na descida do elevado da Perimetral, uma área militar, na região portuária, pela qual circulam em torno de 150 mil veículos todos os dias. A idéia dos pescadores da Praça 15 – que se reúnem diariamente no trecho de cerca de 100 metros, entre o 1º Distrito Naval e o Complexo Cultural da Marinha – não é fisgar o submarino mas cardumes de cocoroca, bagre, tainha ou corvina.

É da água emporcalhada da baía que alguns obtêm seu sustento.

– Tem gente que tira até R$ 80 em um dia – conta o aposentado Pedro Paulo Lima, 49 anos.

Método primitivo
Morador do Jacarezinho, este pai de três filhos amanhece de segunda a segunda no local. Ex-geofísico da Petrobras, aposentou-se por invalidez em 1998, quando um acidente de moto o deixou com uma perna maior do que a outra.

Apesar de locomover-se com dificuldade- usa um tênis-plataforma – Lima garante pescar uma média de 10 quilos de peixe por dia. O quilo na sua mão sai por volta de R$ 4.

– É mais um complemento de renda. No início tinha dificuldade, mas descobri que o macete é usar um anzol mais curto – revela.

O método de pesca de Lima é primitivo mas similar ao da maioria: um cano PVC substitui o molinete, a “boinha” é de isopor, pintada de rosa. Receita da isca: gordura de galinha e barrigada de porco. O grupo de pescadores é heterogêneo. Inclui motoboys, comerciantes, mendigos, assistentes de escritório.

– Aqui é o lazer do pessoal que sai do serviço estressado – explica o jardineiro Rodrigo Gomes, 32 anos, que admite pescar no local pelo menos uma vez por semana.

No lugar de monstros marinhos, os pescadores da Praça 15 convivem com ameaças típicas de uma metrópole – como ônibus e carros, que margeiam a exígua calçada junto ao cais, em alta velocidade. Um puxão mais forte na linha, que engancha em fios de alta tensão, contudo, não é tão preocupante quanto a patrulha do 1º Distrito Naval. De duas em duas horas, um grupo de quatro militares percorre o trecho. É a hora que o grupo recolhe os anzóis.

– Querem nos tirar daqui, mas enquanto tiver peixe a gente não sai – protesta um homem baixo, peito cavo, que se identifica apenas como Kaká, 29 anos.

Segundo a Marinha, os pescadores são alertados de que correm risco de atropelamento, mas nega haver qualquer tipo de repressão.

Fonte: Jornal do Brasil, via Notimp. Reportagem de Fred Raposo

Foto: Nunão (foto de 2004)

Nota do Blog: a reportagem do Jornal do Brasil mostra um ponto de vista interessante sobre a realidade que cerca o Espaço Cultural da Marinha, no Rio de Janeiro – RJ (um ponto turístico que o Blog recomenda entusiasticamente a visita). Mas como esse é um Blog Naval, não podemos deixar de lembrar que faltou à reportagem avisar que o Riachuelo não está em atividade, como o texto pode dar a entender: é um submarino-museu. E que não está “ancorado”, está “atracado”.

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