Marinha Mercante própria é fundamental para o país

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Sem dúvida, o Brasil precisa de Marinha Mercante própria. A constatação é de Eduardo Bastos, diretor no Brasil e América do Sul da V.Ships. Essa companhia é a maior operadora mundial de navios, tendo sob sua gestão mil embarcações. Trata-se, portanto, da opinião de um especialista.

Todos os países do mundo têm sua Marinha Mercante, seja de forma direta, ou então indireta, através de um segundo registro – comenta, citando que, no Brasil, o segundo registro se chama Registro Especial Brasileiro (REB). Para Bastos, o REB é eficaz apenas quanto ao custo para construção de navios, mas praticamente não tem influência em relação ao custo de operação.

Sobre isso, comenta que o custo total de operação, no Brasil, é 140% superior ao do mercado livre. Assim, se um armador internacional tem o custo de 100, o do concorrente brasileiro é de 240.

Bastos é defensor da Austral, um projeto pelo qual o Brasil disporia de uma frota de porta-contêineres, para operar junto aos Estados Unidos e a Europa, de forma pioneira.

– Sou a favor da criação de uma empresa brasileira de porta-contêineres, com apoio inicial do governo, e até me arrisco a prognosticar que essa companhia deveria ter de 18 a 20 navios. O armador Washington Barbeito tem feito uma brilhante defesa dessa tese e acho que o governo deveria absorver a idéia – frisa.

Cita que o grande comércio do mundo é feito na rota Leste/Oeste e o Brasil, mais do que nunca, precisa de uma empresa própria de transporte, pois tem de atuar no sentido Norte/Sul, fora, portanto, do eixo principal do comércio internacional.

A seguir, Bastos constata um óbice à armação nacional vigente no país: o combustível para navios que atuam em rotas internacionais é vendido a preço de mercado e o combustível para cabotagem – navegação entre portos nacionais – tem custo cerca de 40% superior, devido à cobrança de ICMS e outros impostos. Com isso, quem fica favorecido é o rodoviarismo, pois a navegação entre portos nacionais paga um ônus que não é exigido de quem faz rota para o exterior.

Fundo inglês – A V.Ships pertence, em 50%, a um fundo inglês, e a parte restante está nas mãos dos executivos do grupo. Assim, a sede técnica é em Glasgow, na Escócia, e a sede administrativa em Mônaco.

No Brasil, a empresa presta serviços para diversos armadores, entre os quais Transpetro, Flumar, Granéis, Pancoast e Libra. A V.Ships também atende a oito navios estrangeiros de gás que atuam na cabotagem brasileira.

Pela lei, a cada 90 dias aumenta o percentual de marítimos brasileiros nessas embarcações. Depois que o navio fica 180 dias no Brasil, atinge-se 1/3 de marítimos brasileiros nessas unidades.

A empresa presta dois tipos de serviços. Um deles é o gerenciamento de tripulações, que envolve os custos, salários e a logística do tripulante. Um segundo serviço é o gerenciamento total, onde, além disso, os trabalhos incluem controle sobre reparos, manutenção em classe junto às sociedades classificadoras e atendimento aos códigos de segurança e gerenciamento ISPS e ISM. Raramente, a empresa inclui no serviço a operação comercial.

Sobre a crise mundial, afirma Bastos que os armadores internacionais aplicam uma tática em toda época de redução de atividades:

– Quando um estaleiro anuncia que tem contratos para 200 navios, ele leva em conta que, ao fazer uma encomenda de quatro navios, o armador tem opção por mais dois. Assim, ele inclui seis unidades em sua lista de encomendas. Na verdade, ao fim do terceiro navio, o armador tem o direito de decidir, sem ônus, se quer limitar a quatro ou estender para seis a encomenda. Na atual fase, todos vão ficar apenas com os quatro básicos – diz.

Acrescenta que, apesar disso, a crise não vai acabar com o comércio e a navegação, pois as pessoas precisam comer, usar petróleo e comprar roupas.

– O comércio vai continuar e a navegação também, só que em um ritmo mais moderado – salienta.

São Tomé – Sobre os fretes, diz que chegaram a níveis exageradamente altos – tanto em granéis como em contêineres – e que agora cairão para um ponto de equilíbrio mais baixo, sem maiores traumas. Eduardo Bastos também dá sua posição sobre uma forte polêmica, que é a carência ou não de marítimos no Brasil:

– Achei sensatas as declarações do Sindicato dos Oficiais de Marinha Mercante, porque se baseiam no dia-a-dia, não em projeções. Uma coisa é o anúncio, feito nos jornais, de que haverá tais e tais encomendas. Outra coisa é o lançamento e entrega efetivos de navios, a cada ano – cita.

Comenta que, no momento, o número de marítimos é estrito. No futuro, poderá haver um desbalanço, mas desde que os navios anunciados sejam efetivamente construídos e no ritmo contratual.

Como São Tomé, quero ver os navios na carreira e nos diques.

Bastos esteve recentemente em Belém (PA), onde visitou o centro de formação da Marinha (Ciaba). Disse ter ficado impressionado com a qualidade das obras de ampliação das instalações.

– Se hoje o Ciaba forma 100 oficiais, posso garantir que em breve estará apto a formar 200 e depois 300 oficiais a cada ano – declara. E com o alto padrão de sempre, determinado pela Marinha do Brasil – frisa.

Fonte: Monitor Mercantil Digital

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