Presidente da ABEAM fala sobre investimentos no setor de apoio marítimo
O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo (Abeam), Ronaldo Lima, vive fase de expectativa – diante de cada nova licitação da Petrobras – mas, em sentido amplo, fase de euforia. Afinal, o setor se vê diante de contratação de 146 barcos de apoio.
– Esses 146 barcos representarão encomendas totais em valor superior a US$ 11 bilhões. É uma quantia fantástica, que coroa o sucesso de uma política, que ganhou grande expressão com o presidente Lula – declara Lima.
E cita que esses 146 barcos não incluem encomendas referentes ao pré-sal, o que ele estima, por baixo, em mais 100 barcos. Além disso, como a região do pré-sal se localiza a 200 milhas da costa, os barcos terão de ter mais potência e, portanto, serão de maior valor.
O sistema vigente é o mesmo que a Petrobras pretende agora aplicar para navios de cabotagem: em vez de encomendar diretamente – o que exigiria enorme investimento direto da estatal – ou contratar de estrangeiros – o que implicaria saída de divisas – a estatal resolveu fazer licitação entre armadores. Quem der o menor valor, ganha o contrato. A partir daí, cada empresário usa seu próprio dinheiro, com crédito do BNDES, para construir navios nos estaleiros nacionais e, em seguida, equipá-los com marítimos nacionais.
E não se diga tratar-se de “ação entre amigos”, pois, além da disputa entre empresários nacionais, o sistema admite capital estrangeiro, desde que aplicado em empresas brasileiras – que paguem o Custo Brasil. Em aviação, não se aceita capital estrangeiro majoritário em empresas brasileiras, o que se permite na navegação e, lembra Lima, amplia a competição, em benefício da Petrobras e do país.
A expressão “barco de apoio” dá a entender tratar-se de uma embarcação menor, mais barata. Porém Lima frisa que os mais modestos, do tipo PSV (Plataform Supply Vessel -ou barco de apoio a plataforma) custam entre US$ 60 milhões e US$ 70 milhões.
Já um lançador de âncora, ou reboque e manuseio de âncora (AHTS- Anchor Handling Tug Supply) custa entre US$ 120 milhões e US$ 130 milhões. O tipo ORSV se refere a unidades que, além de suprimento, podem recolher óleo do mar.
Investimentos mantidos – Em relação ao efeito cambial, Lima destaca que cerca de 60% do custo de operação se dá em dólares e o restante em reais. Já na construção, há também peças compradas em coroas norueguesas. Entre os custos em reais, destaca-se a mão-de-obra.
Segundo Lima, mesmo com a crise, há tendência de a Petrobras manter seus investimentos, pois não há lógica em se deixar intocada essa grande riqueza, seja em fase de maior expansão ou de contenção mundial de gastos.
– Não há lógica em se manter mina de ouro parada – frisa, lembrando que o Brasil tenta ser auto-suficiente ou até exportador de petróleo e gás.
Em relação à falta de marítimos, Lima comenta que a Marinha está atenta à questão e, na verdade, todo o Governo, uma vez que o Promimp, do Ministério de Minas e Energia, prevê investimentos na formação de oficiais de marinha.
– Seria uma contradição ter-se um apagão. Se a Marinha não tiver como suprir marítimos, que se abram novos campos de formação desses profissionais – salienta, lembrando que, por lei, barcos de bandeira brasileira têm de ser tripulados por profissionais nacionais.
O setor de apoio hoje é responsável por mais de 10 mil empregos, entre os quais mais de 4 mil oficiais de marinha. Um problema é o de reparos navais. De acordo com Lima, já há empresas pensando em usar estaleiros argentinos, uma vez que a fila de espera, em estaleiros brasileiros, vai de três a quatro meses.
Quanto à construção, salienta que, em certos casos, armadores têm seus estaleiros – caso de CBO, Wilson, Sons e Edson Chouest – mas que a construção naval deveria manter seu avanço tecnológico e, além disso, são citados novos estaleiros sendo implantados em diversas partes do país.
Lembra Lima que o setor de apoio passou sua pior fase no Governo Collor. Depois, foi aprovada a lei 9432 e houve grande conscientização da importância da atividade. A primeira encomenda da nova fase foi da CBO, ao estaleiro Promar e, a partir daí, veio a fase de grande atividade.
– As empresas estão indo bem. A Petrobras recebe em troca um bom trabalho. Há empregos para marítimos e metalúrgicos. Forma-se grande frota brasileira e tudo ocorre com grande competição. É um ovo de Colombro – diz Lima.
Ele lembra que a boa fase dos estaleiros começou justamente com encomendas do setor de apoio marítimo. Antes, havia apenas seis empresas de apoio, hoje há mais de 30, dos quais 24 são filiadas à Abeam.
Frisa Lima que, em 1985 havia 110 barcos brasileiros e 95 estrangeiros operando no Brasil; já em 1990, existiam apenas 43 brasileiros contra 125 unidades estrangeiras; em 2008, há 105 brasileiros em comparação com 83 estrangeiros. Se tudo correr como previsto, em 2010 haverá 122 barcos brasileiros contra 100 estrangeiros e, em 2015, se chegará a uma fase gloriosa: 268 barcos brasileiros – entre os quais muitos de empresas de capital estrangeiro com subsidiárias no país, contra 100 diretamente estrangeiras.
Fonte: Monitor Mercantil
Foto – Luis Felipe G. Vaz: PSV Saveiros Fragata, construído pelo estaleiro Wilson & Sons S.A. Guarujá – SP e incorporado em março do ano passado. Para conhecer outros navios tipo PSV (Plataform Supply Wessels), um dos temas da matéria acima, assim como outros navios da Marinha Mercante, clique aqui e acesse o site Navios Mercantes Brasileiros, hospedado no Poder Naval Online.
“De acordo com Lima, já há empresas pensando em usar estaleiros argentinos, uma vez que a fila de espera, em estaleiros brasileiros, vai de três a quatro meses.” É aquele problema da construção naval que já se viu mais de uma vez por aqui não só nesse setor, mas nos mais diversos setores: a oferta que não encontra demanda na hora certa. Aí, quando encontra, pra compensar fazem-se planos e conseguem-se financiamentos visando uma demanda futura irrealista (cujas projeções têm o único objetivo de viabilizar a captação de recursos) e vem a inevitável quebradeira. Faltam planos consistentes para uma coisa… Read more »
Caro Nunão
Este seu comentário resume bem os últimos 50 anos da nossa indústria naval. De quem seria a culpa? Os empresários são imediatistas e não gostam de arriscar. O governo age sempre por reação e nunca por proação. Precisamos buscar exemplos em países com indústria naval pujante. Copiar exemplos vencedores não é vergonha. Vergonha é ficar em permanente decadência.