Defesa gastará mais com jogos do que com programa nuclear da Marinha

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Governo vai aplicar R$ 1,27 bi em olimpíada de militares

O Ministério da Defesa prevê investir R$ 1,27 bilhão na realização de uma olimpíada militar. Os chamados Jogos Mundiais Militares, que ocorrem a cada quatro anos, terão a quinta edição em 2011, no Rio de Janeiro. As provas serão realizadas nos estádios e ginásios do Pan-2007, como o parque aquático, o velódromo, o centro de tiro e o Maracanãzinho. Essa economia de infra-estrutura, no entanto, não evitará que o orçamento projetado pelo governo alcance a cifra bilionária.

O evento, que o Brasil sedia pela primeira vez, custará mais que a conclusão do programa nuclear da Marinha (R$ 1,04 bilhão), considerado estratégico para colocar o país no seleto grupo dos que dominam o ciclo do combustível nuclear. Ainda para efeito de comparação, o valor da olimpíada da caserna é três vezes o que o Brasil já pôs na missão de paz no Haiti em quatro anos (R$ 431 milhões) e um quarto do pacote de reaparelhamento da Força Aérea, o FX2, estimado em R$ 4,5 bi.

Para a preparação dos Jogos Mundiais Militares, o governo já liberou crédito extraordinário de R$ 275 milhões. O dinheiro, segundo a Defesa, é para o início da construção de uma Vila Olímpica, com 852 apartamentos que servirão para abrigar as equipes.

No pedido do crédito enviado à Casa Civil, informa-se que o valor de pouco mais de R$ 1,27 bilhão -escalonado de 2008 a 2011- é uma “estimativa preliminar” do ministério. Para a organização dos Jogos Pan-Americanos no ano passado, o Ministério do Esporte previu orçamento inicial de R$ 980 milhões. Mas o valor final do evento triplicou ao longo das obras e acabou superando os R$ 3 bilhões, segundo cifras da própria pasta. A olimpíada militar deve reunir 4.412 soldados-atletas, um contingente inferior ao do Pan, que contou com a presença de 5.500 atletas de 42 países.

Segundo o ministério, parte do dinheiro também será alocada para o desenvolvimento de softwares de comando e interligação de sistemas esportivos, de arbitragem, mídia, divulgação e homologação dos resultados. “Essas operações são necessárias para a estrutura logística dos jogos”, diz o presidente da Comissão Desportiva Militar do Brasil, brigadeiro Luís Antonio Pinto Machado, responsável pela organização do evento. “Esse projeto não deve ser visto como investimento do governo, senão como uma grande possibilidade de parcerias, patrocínios e pesados investimentos na área de turismo no Rio de Janeiro”, afirma Pinto Machado.

O brigadeiro descarta que o orçamento da olimpíada sofra restrições por causa da atual crise financeira ou para realocação de recursos em outros projetos militares.

Para o almirante reformado Mário César Flores, o custo da olimpíada militar surpreende. “Não vejo essa iniciativa com simpatia. Quando não se tem dinheiro para gastar no fundamental, não tem sentido gastar com o ornamental. Se me coubesse decidir, eu aplicaria esse recurso para aparelhar as Forças, não com jogos”, afirma Flores, ex-ministro da Marinha (1990-1992) e de Assuntos Estratégicos (1992-1994).

Segundo a Folha apurou, o alto escalão das Forças Armadas está dividido entre os que apóiam a realização dos jogos, que levantam a moral dos escalões mais baixos, e os que acham o custo excessivo. Ninguém, no entanto, se arrisca a falar publicamente contra uma iniciativa apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em meados do ano, o governo criou o comitê gestor dos Jogos Militares, integrado por 16 ministros e pelos comandantes das três Forças. Na primeira reunião, o ministro Nelson Jobim defendeu o evento.

“Os jogos serão importantes para o julgamento do Brasil em 2016”, afirmou ele, referindo-se à candidatura brasileira para também sediar os Jogos Olímpicos de 2016. O governador Sérgio Cabral (PMDB) defendeu que a população “abrace” o projeto. Cabral criou por decreto uma força-tarefa para ajudar na organização.

A quarta edição dos Jogos Mundiais Militares ocorreu no ano passado, na Índia. Na disputa para sediar o evento em 2011, o Brasil venceu a Turquia.

Fonte: Folha de São Paulo

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