A recente visita naval russa a Cuba e Venezuela pode estar ligada à guerra de agosto contra a Geórgia, mas Washington ainda avalia os próximos passos de Moscou antes de se posicionar, disse na segunda-feira o secretário-assistente de Estado dos EUA, Thomas Shannon.

Numa visita a Moscou que segundo ele está relacionada ao crescente interesse russo pela América Latina, Shannon alertou contra uma possível corrida armamentista na região.

Poucas semanas depois de navios russos realizarem exercícios conjuntos com a Venezuela no Caribe e fazerem uma visita a Cuba pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria, Shannon disse que Washington vai esperar futuras ações do Kremlin para tirar conclusões.

“O que seria revelador não é esta visita naval, e sim a próxima”, disse Shannon, principal diplomata dos EUA para as Américas.

“Se o propósito desta visita naval foi simplesmente demonstrar algo sobre a periferia russa, se o propósito foi apenas demonstrar algo sobre a Geórgia, então provavelmente nós não veremos isso de novo.”

“Mas se os russos estão realmente tentando construir uma relação mais duradoura na região, então eles vão buscar formas de manter alguma presença nas suas relações de segurança com seus parceiros”, disse Shannon a jornalistas.

Imediatamente após a guerra de agosto entre Rússia e Geórgia, navios dos EUA atracaram em portos georgianos do mar Negro, um gesto que irritou o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, que perguntou se Washington gostaria de ver navios russos tão perto das suas águas.

Em setembro, Moscou enviou dois bombardeiros Tu-160, capazes de transportar ogivas nucleares, para uma missão de reabastecimento na Venezuela. Em seguida, mandou uma frota liderada pelo cruzador “Pedro, o Grande”.

Shannon disse que tais manobras não representam uma ameaça aos EUA. “O interessante para nós em termos de como a Rússia está se envolvendo na região é que não seja a União Soviética, que eles não tragam um propósito ideológico no seu engajamento”, disse ele.

O norte-americano disse não ter discutido diretamente o conflito da Geórgia durante seu encontro com o subchanceler Sergei Ryabkov. Mas sugeriu à Rússia que participe de patrulhas na região caso deseje ter uma presença futura.

“Se a Marinha Rússia pretende (fazer) mais viagens caribenhas, não deveria sair simplesmente navegando por aí, e sim fazer algo útil, como ajudar a patrulhar os mares (contra o narcotráfico).”

VENDAS DE ARMAS

Shannon admitiu que os russos estão interessados em vender armas, e que a Venezuela tem o direito de comprá-la. Mas afirmou estar preocupado com a ocorrência de uma corrida armamentista na região, ou com o desvio de armas para grupos ilegais.

“(As armas) são vendidas num contexto, enquanto quando a Venezuela compra 4 bilhões de dólares em armas, com aviação de última geração, isso tem um impacto na região, e uma consequência disso é a decisão brasileira de modernizar suas Forças Armadas”, disse Shannon.

Rússia e Venezuela assinaram nos últimos dois anos 12 contratos militares no valor de 4,4 bilhões de dólares, disse em setembro uma fonte do Kremlin, quando Moscou anunciou a liberação de um crédito de 1 bilhão de dólares a Caracas para novas aquisições militares.

A Rússia já vendeu à Venezuela 24 caças Sukhoi, dezenas de helicópteros e 100 mil rifles Kalashnikov AK-103.

Fonte: Reuters via O Globo/OESP

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