Novgorod: a canhoneira que não descia redondo
Já que o Blog do Poder Aéreo vem mostrando algumas bizarrices voadoras, faz sentido apresentar aqui alguns navios estranhos, para dizer o mínimo. Como a Novgorod de 1873, a “canhoneira redonda” russa da esquadra do Mar Negro.
Projetada para operar na foz do rio Dnieper, protegendo Nikolaiev, surgiu da necessidade de se conceber um navio para águas restritas com grande poder de fogo (e, conseqüentemente, grande deslocamento), mas com pouco calado. Assim, chegou-se à forma redonda com fundo chato. Um formato tão inusitado que não dá pra se falar em boca e comprimento. Melhor dizer que o diâmetro era de 30 metros, com calado de 4 metros e um deslocamento de 2.491 toneladas. O bordo livre era de apenas meio metro, mas os dois canhões de retrocarga, de respeitáveis 11 polegadas, ficavam numa barbeta central bem mais alta. A proteção era considerável, com uma cinta de 20 cm na borda inferior, 25 cm na borda superior, 5,5 cm no convés e 25 cm na barbeta.
Mas porque a “licença poética” de chamar a Novgorod de canhoneira que não descia redondo? Porque, embora o formato inusitado ainda permitisse 8 nós de velocidade e um desempenho até que razoável quando em águas calmas ou a navegando contra a corrente, a canhoneira era praticamente ingovernável quando descia a foz do rio, ou quando a favor das correntes do próprio mar Negro sob o efeito da considerável vazão do Dnieper.
Ou seja, tinha desempenho sofrível no próprio Teatro de Operações para o qual foi planejada! Melhor atracar a canhoneira redonda e ir tomar uma cerveja no cais. Ou uma vodka “redonda”…
Fonte: LENTON, H. T. Navios de Guerra. São Paulo: Melhoramentos, 1981.
Fotos de Alexandre Galante – maquete exposta no International Maritimes Museum Hamburg