“Lancha 06” – mais um descaso com o patrimônio histórico-cultural
O que era para ser mais um projeto de preservação do patrimônio náutico e valorização memória naval brasileira, transformou-se em fonte de vandalismo, descaso das autoridades municipais e desrespeito à história marítima.
A intenção inicial era louvável. Resgatar a Orla do Mar Pequeno, na cidade de Iguape (litoral Sul de São Paulo), através da concretização do projeto “Memorial do Mar”. Para isso, diversos órgãos públicos e entidades civis (Universidade de São Paulo, Associação Cultural São Vicente, Centro Caiçara, Marinha do Brasil e Prefeitura de Iguape) elaboraram um projeto que começava pela recuperação do Porto Grande.
Histórico
O Porto Grande (porto marítimo) era parte do sistema portuário de Iguape, e funcionava interligado ao Porto do Ribeira (porto fluvial). Este último recebia a carga escoada do interior paulista.
Transportadas através de carroças, estas seguiam para o Porto Grande. Entre o século XVII e meados do século XX, foi o principal pólo de escoamento da produção regional. Na primeira metade do século XVIII, decidiu-se unir os dois portos por meio de um cana artificial denominado “Valo Grande”. O canal, com cerca de dois Km de extensão, foi inaugurado em 1855 e contribuiu para o completo assoreamento do Porto Grande.
Um barco em exposição
O primeiro passo para a concretização do “Memorial do Mar” foi a seleção do antigo terreno onde funcionou a Capitania dos Portos. O início da empreitada para valorizar a Orla do Mar Pequeno e atrair o turismo foi a colocação de uma embarcação antiga da Marinha em praça pública. Para isso, a Marinha doou a “Lancha 06”.
A “Lancha 06” (indicativo AMRJ-06) era uma embarcação usada principalmente no apoio às operações de docagem e, por esse motivo, muitas vezes chamada de “rebocador”. Foi construída pela Marinha do Brasil toda em madeira de lei e serviu no AMRJ entre os anos 1942 e 1985.
Em maio de 2006 a “Lancha 06” foi posicionada no local e a praça foi inaugurada em junho daquele ano. Pelas fotos disponíveis no site my.opera.com é possível observar que a embarcação encontrava-se em impecável estado de preservação.
Vandalismo e descaso
Ontem, dia 11 de janeiro de 2009, cerca de dois anos e meio depois da inauguração, o jornal Diário de Iguape denunciou o estado lamentável em que se encontra a embarcação.
O toldo que a cobria (ver foto do topo deste artigo) e a protegia das intempéries rasgou-se, o painel explicativo foi furtado, juntamente com o timão (ambos peças de bronze). As vigias foram quebradas e o casco encontra-se repleto de pichações (ver fotos abaixo). Tudo isso forma um quadro de total descaso para com o patrimônio histórico das autoridades responsáveis pela preservação e o baixo nível cultural e educacional do brasileiro. Sem falar no desrespeito de uma embarcação de mais de 65 anos.
“Um país sem memória não é apenas um país sem passado. É um país sem futuro”
Rui Barbosa
FOTOS: Opera.com e Diário de Iguape