Spruance: o destróier ‘benchmark’
Existem classes de navios de guerra que depois de desativadas, são facilmente esquecidas. Mas outras, deixam sua marca por gerações. A classe “Spruance” de destróieres foi revolucionária quando entrou em serviço na década de 1970, para substituir os veteranos das classes “Allen M. Sumner” e “Gearing”, construídos durante a Segunda Guerra Mundial.
A classe “Spruance” gerou muita controvérsia, inicialmente pelo seu deslocamento: 8.000 toneladas, mais do que o dobro dos antigos destróieres. As críticas também eram dirigidas ao armamento do navio, considerado fraco para o seu porte. Mas os anos foram passando, e novos armamentos e sensores foram sendo adicionados, mostrando que o conceito do navio com “folga para crescimento” estava correto.
Os “Spruances” inauguraram a nova filosofia da US Navy na construção de grandes cascos de forma modular, com superestruturas maciças e o máximo de volume interno. O sistema de máquinas era de manutenção simples, usando somente turbinas a gás LM2500. A nova filosofia visava minimizar os custos da plataforma, em favor de maiores gastos com o sistema de armas.
Inicialmente a nova classe de destróieres tinha como objetivo clássico a caça de submarinos. Para isso eram equipados com o poderoso sonar AN-SQS-53A/B, uma evolução do AN-SQS-26 e o lançador “caixa” de foguetes anti-submarino ASROC. Mais tarde esse lançador foi retirado e em seu lugar se instalou um lançador VLS Mk.41 de 32 células, permitindo aos “Spruance” dispararem mísseis Tomahawk, ampliando o leque operacional do navio, possibilitando aos mesmos realizarem ataques terrestres.
Durante a Operação “Tempestade no Deserto”, os “Spruance” dispararam 112 mísseis Tomahawk.
Dois helicópteros LAMPS SH-2F Seasprite eram usados para localizar e atacar contatos detectados pelo sonar de bordo de longo alcance. O Seasprite foi depois substituído pelo SH-60B Sea Hawk (LAMPS III).
As primeiras unidades entraram em serviço sem os mísseis Sea Sparrow e Harpoon, que foram instalados posteriormente, juntamente com o sistema de ESM SLQ-32 e os lançadores de chaff SRBOC Mk.36. Todos os navios receberam também dois CIWS Phalanx de 20mm e blindagens plásticas de kevlar para proteger os espaços vitais.
O sucesso do projeto foi tamanho, que foi usado como base para a classe de cruzadores Aegis “Ticonderoga” e a classe “Kidd” de destróieres antiaéreos.
Em 1998, com a mudança de ênfase estratégica da US Navy, da guerra anti-submarino para o ataque terrestre, os “Spruance” começaram a ser desativados e, em 2005, o último dos 31 navios saiu de serviço, a maior parte deles sendo usada como alvo em exercícios de tiro. Muitos navios tinham pouco mais de 20 anos de serviço! Algumas unidades chegaram a ser oferecidas a marinhas amigas, inclusive a do Brasil, mas o alto custo operacional impossibilitou sua transferência.
Quem esteve a bordo de um “Spruance” ou teve a oportunidade de operar com eles, certamente não vai se esquecer e é uma pena que nenhum deles tenha sido adquirido pelo Brasil ou outro país.
Somente uma unidade da classe permanece (Paul F. Foster), como plataforma de testes para sistemas de armas. Abaixo, a tabela com os “Spruances” e seu destino.
Nome | Nr. | Base | Situação Atual |
USS Spruance | DD963 | Mayport / FL | Afundado como alvo no Atlântico |
USS Paul F. Foster | DD964 | Everett / WA | Plataforma de testes – Port Hueneme / CA |
USS Kinkaid | DD965 | San Diego / CA | Afundado como alvo no Pacífico |
USS Hewitt | DD966 | San Diego / CA | Desmantelado e vendido como sucata no Texas |
USS Elliot | DD967 | San Diego / CA | Afundado como alvo no Pacífico |
USS Arthur W. Radford | DD968 | Norfolk / VA | Reserva – Philadelphia / PA – destino incerto |
USS Peterson | DD969 | Norfolk / VA | Afundado como alvo no Atlântico |
USS Caron | DD970 | Norfolk / VA | Afundado como alvo no Atlântico |
USS David R. Ray | DD971 | Everett / WA | Afundado como alvo no Pacífico |
USS Oldendorf | DD972 | San Diego / CA | Afundado como alvo no Pacífico |
USS John Young | DD973 | San Diego / CA | Afundado como alvo no Pacífico |
USS Comte De Grasse | DD974 | Norfolk / VA | Afundado como alvo no Atlântico |
USS O`Brien | DD975 | Yokosuka | Afundado como alvo no Pacífico |
USS Merrill | DD976 | San Diego / CA | Afundado como alvo no Pacífico |
USS Briscoe | DD977 | Norfolk / VA | Afundado como alvo no Atlântico |
USS Stump | DD978 | Norfolk / VA | Afundado como alvo no Atlântico |
USS Conolly | DD979 | Norfolk / VA | Reserva – Philadelphia / PA – destino incerto |
USS Moosbrugger | DD980 | Mayport / FL | Desmantelado e vendido como sucata no Texas |
USS John Hancock | DD981 | Mayport / FL | Desmantelado e vendido como sucata no Texas |
USS Nicholson | DD982 | Mayport / FL | Afundado como alvo no Atlântico |
USS John Rodgers | DD983 | Mayport / FL | Desmantelado e vendido como sucata no Texas |
USS Leftwich | DD984 | Pearl Harbor / HI | Afundado como alvo no Pacífico |
USS Cushing | DD985 | Yokosuka | Afundado como alvo no Pacífico |
USS Harry W. Hill | DD986 | San Diego / CA | Afundado como alvo no Pacífico |
USS O`Bannon | DD987 | Mayport / FL | Afundado como alvo no Atlântico |
USS Thorn | DD988 | Norfolk / VA | Afundado como alvo no Atlântico |
USS Deyo | DD989 | Norfolk / VA | Afundado como alvo no Atlântico |
USS Ingersoll | DD990 | Pearl Harbor / HI | Afundado como alvo no Pacífico |
USS Fife | DD991 | Everett / WA | Afundado como alvo no Pacífico |
USS Fletcher | DD992 | Pearl Harbor / HI | Afundado como alvo no Pacífico |
USS Hayler | DD997 | Norfolk / VA | Afundado como alvo no Atlântico |
COLABOROU: Franz Neeracher
Que tristeza ler essa matéria , eu posso dizer que visitei o primeiro da classe DD963 SPRUANCE em 1985 aqui na pça maua no RJ qdo era costume de vez em qdo essas visitas , no auge dos meus 17 anos de idade , bons tempos que não voltam mais e pensar que dois destes foram oferecidos a MB e seus integrantes inteligentes o recusaram.
quem pode joga fora no fundo do mar… quem nao pode recusa! inacreditavel!
Realmente quem visitou não esquece
1983 – Conolly + Scott (Kidd)
1984 – Stump
1986 – Hayler – o último US Navy a vir em Santos since …
Simplesmente maravilhosos !
MO
Navios impressionantes e muito úteis.
Não creio que a guerra anti-submarino acabou. Ficou temporariamene mais próxima do litoral, mas vai continuar, de forma descentralizada, com múltiplas ameaças.
Estes navios farão falta.
Bem que eu gostaria de ter visto alguns com a bandeira brasileira…
Oi Galante
Só uma correção no exelente artigo:
Nem todos receberam o upgrade com o VLS mk 41….7 deles receberam aquelas “caixas” para lançarem os Tomahawk.
Os 7 sem o VLS foram os:
974, 976, 979, 983, 984, 986, 990
Tive a oportunidade de visitar 11 deles….boas lembranças!
Se não me engano, o custo mensal de manutenção de um navio desses era de US$ 26 milhões anuais. Realmente muito para nossa capacidade financeira.
ainda tem o USS Conolly e o USS Arthur W. Radford na reserva, ainda há esperança, pq sao otimos navios e ainda nao estao defazados dentro do conceito da guerra naval moderna
seria um otimo tapa buraco, bem melhor do que os type 42 defendidos por alguns
lembro de ter operado com o USS Moosbrugger na unitas 39 em 1998, tbm tinha uma lembrança dele, um isqueiro zippo que comprei por U$10 mas que um “amigo” me afanou em 2001, pra depois perder sem saber o valor simbolico do souvenir.
mas fazer oq né
otimos navios
* …sem saber o valor simbolico e historico…
Sem comentários o fato do Brasil não ter aproveitado a chance de compra destes Destroiers. Para a MB parece mais importante sair bem na foto com o NAe São Paulo do que manter realmente uma eficiente Marinha de Combate/Defesa. Se gasta demais com projetos megalomaniacos nas Força Armadas.
Wolfpack, até concordo que o projeto do SubN, como esta sendo gerido, é megalomaniaco; mas quais os outros projetos do EB ou da FAB que vc incluiria nesse nível, confesso que pensei e não lembrei de nenhum.
O pessoal que lamenta a não-obtenção de navios da classe Spruance pela MB se esquece de que foram oferecidos na mesma época em que se dava baixa nos CT Paraíba, Paraná, Pernambuco, e na Fragata Dodsworth, pela simples falta de recursos para mantê-los. Se tal aquisição se materializasse, hoje estariam reclamando que os navios viajariam pouco (haja combustível para 4 turbinas a gás), e que seus sistemas “caixa-preta” estariam no estado-da-arte da década de 80 (sem modernização), quando não degradados por obsolescência logística. E a linha logí$tica para as granadas de 127mm (diferentes das dos CT classe Pará)? Na minha… Read more »
GHz, o pessoal do Poder Naval Online lamenta a não-obtenção dos “Spruance” mais pelo lado emocional, porque eles foram um marco na história. Mas racionalmente concordamos que estes navios não aumentariam o Poder Naval do Brasil.
Se tivéssemos realmente condições de operar navios desse porte, melhor seria a opção pelos “Kidd” de defesa aérea, que foram transferidos para Taiwan.
É uma situação complicada. Tem suas vantagens e desvantagens, mas não podemos negar que os SPRUANCE, foram magníficos navios de guerra, aqueles do tipo que faz qualquer marinho do mundo cagar nas calças só de pensar em ter que enfrentá-los. Mas a vida continua, tôda veloc a frente, pois o futuro nos espera.
Agora, cá entre nós.
Nossos hermanos Argentinos iriam morrer de inveja se a MB tivesse us quatro desses em operação e principalmente, MODERNIZADOS.
Um forte abraço a todos.
O Brasil planeja construção ou compra de oportunidade de corvetas e fragatas para esse ano de 2009?
Acho que não meu caro Rodrigo.
acredito (opinião minha) que a MB irá recuperar os atuais escoltas, para manter a fôrça, até que cheguem os escoltas de 6000T.
meu caro jacubão voce deze esta falando das escoltas de 500 ton. (canhoneiras). tudo pela patria
Nação rica é isso. Eles botaram mais navios no fundo do mar, servindo como alvos, do que todo o orçamento de defesa do Brasil nos (descontando o custeio, é lógico) últimos dez anos.
Que diferença.
Abraços!!
🙁 , 🙁 , 🙁
Não concordo neste momento com a manutenção em operação do NAe São Paulo. Devemos decidir se devemos ter ou não uma capacidade aero-naval que ultrapasse os limites náuticos de nosso Território. Os Porta-Aviões servem para marinhas como a Americana que deseja uma tranferência de poder Global, com todos seus custos enlvovidos. A experiência Argentina na Guerra das Malvinas se provou frustrante, pois após a perda do General Belgrano, se recolheu para águas mais rasas. O foco ao meu ver deve ser uma força maior de submarinos de ataque, com capacidade aérea em bases no litoral. A cultura dos Porta-Aviões é… Read more »
A verdadeira oportunidade foi perdida com a Classe KIDD.
Infelizmente.
[…] dia 29.04, foi realizado o exercício de tiro real contra o casco do ex-USS Connolly, destróier da classe “Spruance”. Há muitos anos, o Connolly esteve no Brasil e foi visitado por alguns editores deste blog. É uma […]
o ultimo que sobrou nao poderia vir pra MB?
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