Entrevista com o Comandante de Operações Navais da MB

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A seguir reproduzimos a entrevista concedida pelo comandante de Operações Navais da Marinha, almirante-de-esquadra Álvaro Luiz Pinto ao jornal A Tarde (de Salvador-BA).

A TARDE Já há valores estabelecidos para o acordo comercial entre Brasil e França para a construção de quatro submarinos convencionais e um submarino nuclear?
Álvaro Pinto | Já está praticamente acertado um limite de 6,7 bilhões de euros (cerca de R$ 20,3 bilhões) a serem pagos ao longo de muitos anos, com um período de carência grande. Tem uma estrutura de negociação ainda em curso.

AT | Qual a principal vantagem em se ter um submarino nuclear?
AP | Em primeiro lugar, temos que ter o conhecimento e a capacidade de construção de submarinos. A partir da década de 80, tivemos a construção de submarinos convencionais no Brasil. Mas esta tecnologia tem que ser aperfeiçoada de maneira constante. O País necessita que nossa Marinha tenha um poder dissuasório grande para defender nossas águas jurisdicionais brasileiras. O Brasil tem uma zona econômica marítima exclusiva para ser defendida de 3,5 milhões de quilômetros quadrados, e um pleito nas Nações Unidas de aumentar esta zona para mais um milhão de quilômetros quadrados. Então, temos de recuperar nossa força naval. Aí entra o submarino nuclear. Ele tem uma capacidade extraordinária de se esconder, de não se mostrar ao possível inimigo, além de ter uma capacidade de autonomia muito grande. Nossa economia cresce e nossa capacidade de defesa tem que acompanhar este crescimento.

AT | Há também neste caso a questão de transferência de tecnologia.
AP | Este é um dos mais importantes fatores dessa questão. O conhecimento ninguém dá. Você tem que desenvolver parcerias com outros países de aquisição de tecnologia. O desenvolvimento da tecnologia militar colabora para o crescimento de outras áreas da nossa economia. A internet, que era um projeto das Forças Armadas americanas, é um exemplo disso. Todos os países do chamado Primeiro Mundo trabalham dentro desta base. Quer saber de outro exemplo? A Disneylândia. Ela é um projeto que nasceu de simuladores utilizados pela indústria de defesa americana, por conta de uma necessidade militar.

AT | Imagina-se, por exemplo, que o submarino possa ajudar na segurança da exploração de petróleo em águas profundas?
AP | O pré-sal é uma área que a Marinha tem que atuar efetivamente. A área que vai de Santos até Vitória (capital do Espírito Santo) precisa de uma defesa constante, um monitoramento constante, de permanente vigilância para que nós não sejamos surpreendidos. A melhor defesa é a prevenção para evitar qualquer tipo de surpresa.

AT | Qual o efetivo da Marinha? Ele é o ideal no momento?

AP | Nós temos um efetivo em torno de 55 mil a 60 mil. Ele não é o ideal mas tende a aumentar porque a necessidade vai ter isso. Este País é muito grande, maior que os Estados Unidos, desconsiderando o Alasca, e você vai ver que eles têm um efetivo bastante razoável. Com o tempo, a Marinha do Brasil terá que ter um efetivo maior. Temos que fazer uma nova base para a esquadra brasileira. Nós não podemos ter um litoral tão grande, com uma base sediada apenas no Rio de Janeiro. Gera uma vulnerabilidade você concentrar todas assuas forças num lugar só.

AT | Em que lugar se pretende instalar esta nova esquadra?

AP | Eu acho que deveria ser na região Nordeste do Brasil. Acho não, vai ser aqui. A possibilidade não é grande, é enorme, porque nossa necessidade é enorme também. Nós já estamos procurando uma área em que a esquadra possa ser instalada.

AT | Mas em que lugar exatamente?

AP | Posso dizer que será no Nordeste e que já há um projeto em curso. Mas nós não podemos dizer quando ela será criada. A nova base será tão importante quanto a do Rio de Janeiro. Será semelhante à divisão nos Estados Unidos – no caso deles, a Costa Leste e a Costa Oeste.

AT | Nos últimos dias foi anunciado a exportação do navio de guerra “Brendan Simbwaye” para a Namíbia ( país africano, e ex-colônia da Alemanha, que conquistou a independência em 1990). Como se dá as relações entre os dois países?

AP | Eu estava presente na cerimônia de entrega, que foi no último dia 16. E a entrega deste navio significa o primeiro dia da Marinha da Namíbia. Isso é histórico: significa que a Marinha da Namíbia nasceu por conta da colaboração da Marinha Brasileira. Isso para mim é fantástico para os dois países: um cria a sua Marinha, e outro, o Brasil, deu pontapé para a indústria naval de defesa privada.

AT | Que outros investimentos a Marinha fará?

AP | Nós estamos construindo atualmente dois navios patrulha. E há um processo licitatório para a construção de quatro navios. Nós temos vários projetos. Até o ano de 2006, nós sofremos corte no orçamento. E depois, como o ano de 2007 foi bom, e 2008 foi muito bom. Nosso orçamento já cresceu este ano de 2009 (cerca de R$ 2,7 ilhões).

AT | A Bahia é o estado de maior litoral no Brasil. O II Distrito Naval receberá que tipo de apoio?

AP | Nós vamos ter que investir aqui. Está previsto receber, no médio prazo, mais três navios patrulhas (hoje, são 11 embarcações) construídas aqui em estaleiros brasileiros.

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