À Tripulação da Fragata ‘Constituição’

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Rio de Janeiro, 16 de junho de 2009

Era primeiro de junho, quando minha filha de 6 anos acordou e, como fazia desde o dia 8 de maio, coloriu mais um dia do seu calendário que desenhou para visualizar quantos dias faltavam para a chegada do pai. Com uma carinha repleta de alegria, me disse: “mãe, faltam quatro dias para o papai chegar!!”. Sim, na cabecinha dela, eram só quatro, já que não contava o dia 6, onde já se imaginava nos braços do pai!

Na mesma manhã, fomos todos surpreendidos pelo trágico acidente aéreo que comoveu todo o país, porém, jamais poderia imaginar que esse fato iria, também, influir na minha vida tão diretamente. Confesso que, quando soube que o navio havia sido designado para participar das operações de busca, caí em prantos, sobretudo por pensar nas minhas filhas, mais precisamente na mais velha, e em como iria contar para ela que o pai não chegaria mais em quatro dias, e o pior, que não havia mais previsão. Passados alguns minutos, abstraí o meu sofrimento e pensei imediatamente nas centenas de pessoas que tinham, muito provavelmente, perdido a vida e no imenso sofrimento e angústia dos familiares diante da incerteza do que realmente havia acontecido. A minha dor não poderia ser maior que a deles.

Sentei-a no colo e expliquei-lhe que o papai não iria voltar logo, pois tinha sido escolhido para uma grande missão, que era a de ajudar as pessoas daquele avião. Ela, chorosa, olhou profunda e fixamente para o seu calendário, levantou-se e riscou o tão esperado dia 6, que, além da chegada do pai, seria também o dia da sua festa junina, e falou: “mãe, faltam 4 dias para a minha festa junina!”. Meu coração partiu, mas percebi que ela havia entendido a importância da missão e assim substituiu a tristeza por um grande orgulho do pai.
Ao chegar da escola, contou-me que uma amiguinha havia lhe dito que ela era azarada, porque o pai não voltaria agora, mas também que era sortuda, pois seu pai poderia virar um herói! Achei graça e ao mesmo tempo muito interessante o que essa menina, na ingenuidade dos seus seis anos, vislumbrava.

Contei-lhes toda essa história para chegar a duas palavras, que para mim resumem o sentimento atual de toda a nação: HERÓI e ORGULHO. Não sei se vocês têm a exata dimensão do que esse fato todo representou e repercutiu positivamente para as Forças Armadas e diria eu, mais precisamente para a Marinha. Confesso que ao longo dos anos escutei muitas opiniões injustas e indagações absurdas e ignorantes, no sentido da palavra, a respeito das funções da Marinha num país pacífico e sem guerras, como o Brasil. Infelizmente, foi preciso acontecer um trágico acidente, para que essas pessoas, enfim, conhecessem e reconhecessem a importância da grande e nobre carreira que vocês abraçaram.

Recebi uma grande quantidade de telefonemas e e-mails exaltando o magnífico trabalho de vocês e a palavra que eu mais escutava era: ORGULHO. Orgulho de saber da capacidade da nossa Marinha. Orgulho de ver o esforço, a tenacidade diária. Orgulho de estarem levando alento às famílias de cada Ser Humano resgatado. Orgulho de mostrar à França o potencial operacional de vocês. Orgulho de sermos Brasileiros.

A Fragata “Constituição” caiu “na boca do povo”! Todos se referiam a ela com grande intimidade, como se já a conhecessem há anos, mas o que eles não sabem é que ela é “O URSO”! E vocês fizeram jus a este mascote: foram fortes, bravos e valentes!

Na impossibilidade de me dirigir pessoalmente a cada um de vocês, escrevi esta mensagem para que soubessem que foram impecáveis e souberam superar com brilhantismo todas as adversidades e desafios desta inédita operação, desempenhando com louvor essa grande missão, apesar de terem pesando sobre vocês, o cansaço, a saudade e a distância da família, que já estava tão próxima naquele primeiro de junho.

Não tenham dúvidas que terão muito que contar para seus filhos, parentes, amigos e gerações futuras e que estes o receberão como verdadeiros HERÓIS!

BRAVO ZULU tripulação do Urso! Que Deus os abençoe!

Um grande abraço,

Renata Sertã

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