Indústria naval brasileira pode viver escassez de financiamento

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vinheta-clipping-navalO representante no Brasil do banco norueguês DNB Nor, Tom Mario Ringseth, disse ontem que, com as encomendas do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), da Transpetro, o Fundo de Marinha Mercante (FMM) pode não ser suficiente para atender a toda a indústria naval brasileira.

Ringseth afirmou, durante palestra na Navalshore 2009, que “o Fundo de Marinha Mercante está ficando mais escasso” e duvida que possa financiar, no futuro, a importação de equipamentos e atender a toda a demanda nacional. Mantido o ritmo de encomendas da Petrobras e o plano de negócios da companhia, que prevê investimentos de US$ 174,4 bilhões até 2013, tanto a estatal quanto estaleiros brasileiros terão de buscar financiamento no mercado internacional.

“A Petrobras está buscando parcerias bilaterais, como com o US Exim Bank, dos Estados Unidos, e a China, com US$ 10 bilhões de cada um. Acredito que a companhia irá ao mercado buscar financiamento, empréstimos. Obviamente estão esperando para ver se as taxas de spread caem um pouco. Também acho que o BNDES (um dos agentes financeiros do FMM) terá uma atuação mais direta com a Petrobras, e isso resultaria em uma redução da quantidade de recursos disponível no Fundo (de Marinha Mercante) para outras companhias presentes no Brasil. E o Brasil vai precisar de financiamentos através de debêntures globais, quando o mercado melhorar um pouco. Acho que a conta não fecha”, avisou.

Ringseth disse que, com a retração na concessão de crédito causada pela crise, existe hoje no mundo um déficit global de US$ 600 bilhões em financiamento para a indústria naval. Ele comparou o período anterior à crise financeira mundial, que tornou mais difícil a obtenção de crédito e a captação de recursos no mercado com operações como debêntures, com o momento atual, com os bancos assumindo uma postura mais cautelosa na concessão de financiamentos. “Não será mais possível obter financiamentos de até 90% dos projetos, como anteriormente. Hoje, o tomador tem que entrar com 40% a 50%. Hoje há de 10 a 15 bancos globalmente no setor naval, realizando operações banco-cliente, com negócios de US$ 25 bilhões a US$ 35 bilhões”, disse.

Para o executivo, além da escassez de recursos, a crise levou vários governos a estabelecerem regras mais restritivas para a concessão de crédito. Segundo Ringseth, existem hoje quatro tipo de bancos: os que não emprestam; os que emprestam apenas para os melhores clientes; os que emprestam para proteger o relacionamento com um cliente específico e bancos como BNDES e Banco do Brasil, que só emprestam para o próprio país. Ele acredita que cada vez mais empresas vão recorrer às agências de crédito à exportação (ECAs) e traçou o perfil das companhias que têm conseguido obter financiamentos hoje em dia. “As companhias que têm administração profissional e uma bota estratégica financeira, não agressiva e com poucos riscos, que têm responsabilidade social e corporativa”.

A escassez de recursos, alertou, pode significar menos investimentos não apenas na construção naval, mas em infraestrutura e na formação de mão de obra, que podem não ser suficientes para atender às encomendas de novas embarcações. “Será que temos capacidade de construir tudo que está se anunciando? Temos estaleiros para isso tudo? Temos oficiais, mão-de-obra qualificada para operar estes navios? O Brasil tem um potencial incrível, recebo relatórios produzidos em Oslo, Londres, Cingapura, e o Brasil está em todos. Mas será que teremos estaleiros, engenheiros navais, inspetores, infraestrutura, soldadores e eletricistas qualificados?”, questionou.

FONTE
: Portos e Navios

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