A Aeronáutica e a Marinha ganharão poderes de polícia em situações específicas, o Ministério da Defesa criará uma secretaria para organizar melhor a compra de armamentos e o país terá uma nova cartilha para a hipótese de guerra. Essas mudanças serão apresentadas sexta-feira ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo ministro Nelson Jobim, como os primeiros desdobramentos concretos da recém- adotada Estratégia Nacional de Defesa. Eles vão analisar os instrumentos legais, como projetos de lei complementar e decretos presidenciais, necessários para implementar tais alterações.

No primeiro caso, será preciso enviar ao Congresso uma proposta para mudar a lei complementar 97/1999, que dispõe sobre as normas a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas. A intenção do ministro é fechar o cerco ao narcotráfico nas regiões de fronteira. Sua avaliação é que, depois da Lei do Abate, grande parte do transporte de drogas, antes feito por pequenas aeronaves, migrou para barcos nos rios da Amazônia.

Por isso, Jobim defende que a Marinha também passe a ter o direito – hoje inexistente – de atuar como polícia e combater traficantes em águas fluviais. A Lei do Abate, de 2004, permitiu à FAB dar tiros de advertência e até derrubar (mediante autorização pessoal do ministro da Defesa) aeronaves sem plano de voo e com evidências claras de transporte de drogas. Ela fez diminuir muito o número de voos suspeitos, segundo Jobim. Mas ele acha que é preciso ir além e outorgar poder de polícia à Aeronáutica.

Em junho, a FAB divulgou um vídeo do primeiro avião que foi alvo de tiros desde a entrada em vigor da Lei do Abate. Um monomotor com matrícula da Bolívia, que sobrevoava o território de Rondônia, foi identificado e, diante da recusa de tomar o caminho de volta, recebeu tiros de advertência de uma aeronave Super Tucano. O monomotor pousou em uma rodovia do Estado. O curioso é que os militares da FAB ficaram impedidos de providenciar uma ação de captura do piloto-traficante e tiveram que monitorar a tentativa de fuga enquanto esperavam a chegada de policiais. Pela legislação atual, cabe exclusivamente à polícia, desde o pouso de qualquer aeronave, a ordem de prisão. Jobim quer uma lei mais flexível para permitir que a Aeronáutica faça esse papel, na ausência de policiais.

Em outra iniciativa, conforme previa a Estratégia de Defesa em dezembro, a pasta de Jobim criará a Secretaria de Produtos de Defesa. De acordo com o ministro, o objetivo dela será ” fixar políticas e diretrizes para as compras ” das Forças Armadas, embora os comandos preservem integralmente seus orçamentos para reaparelhamento. A propósito, Jobim entregará a Lula os planos de articulação e reaparelhamento desenhados pelas três Forças.

Esses planos incluem o volume de investimentos necessários para sua modernização, com uma definição de prioridades, e a redistribuição territorial das tropas. O Exército aumentará sua presença na Amazônia e a Marinha deverá instalar uma nova base no Norte e no Nordeste, deixando de ficar concentrada no Rio de Janeiro. Os planos terão um horizonte de trabalho previsto até 2030.

A última mudança a ser examinada sexta-feira é a do decreto de 1980 que estabelece a estrutura militar de guerra, definindo a organização das forças brasileiras em situações de conflito bélico. O documento tornou-se desatualizado e o sinal mais óbvio disso é que, na época, sequer havia Ministério da Defesa. A nova ” estrutura militar de defesa ” , se aprovada pelo presidente, preverá um comando operacional único e a nomeação de um comandante – espécie de ” ministro da guerra ” . ” O fundamental é que a doutrina muda. Vamos sair de um modelo de ações combinadas para um modelo de ações conjuntas ” , afirmou Jobim.

FONTE: Daniel Rittner – Valor Econômico

NOTA DO BLOG: Ao invés de dar poder de polícia à Marinha, o Governo poderia pensar em criar uma Guarda Costeira, para livrar a Força das tarefas subsidiárias e permitir que ela se prepare melhor para a guerra, que é a sua função primordial.

O almirante Maximiano (Ministro da Marinha de 1979 a 1984), era da opinião de que o poder de polícia exercido pela Marinha, no setor marítimo, fluvial e lacustre, é exercido de forma precária, constituindo-se num desvio do cumprimento de suas tarefas constitucionais.

É claro que a criação da Guarda Costeira só faria sentido se o orçamento dela fosse desvinculado do orçamento da Marinha.

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Marcelo Tadeu

Tb sou favorável. O Brasil poderia ter uma Guarda Costeira nos moldes da USCG. Os Navios-patrulha da MB poderiam ser repassados para esta instituição, ou seja, as águas interiores, menos a Amazônia e o Pantanal pela sua situação estratégica, lagos, a ZEE. Todos os meios até 500 ton de deslocamento, deixando com a MB aquelas áreas que mencionei e a Esquadra. Esta Guarda poderia ser uma reserva da Marinha, ligada ao MD.

Andre de POA

Wdias, a guarda costeira poderia ser de responsabilidade estadual e no formato militar, assim como as policias militares que ao que me constam não nadam em dinheiro.

Flavio

Também concordo que uma guarda costeira deveria ser criada.

Seria muito melhor deixar a MB fazendo seu papel, delegando a guarda costeira o papel de policia.

WDias

“Ao invés de dar poder de polícia à Marinha, o Governo poderia pensar em criar uma Guarda Costeira, para livrar a Força das tarefas subsidiárias e permitir que ela se prepare melhor para a guerra, que é a sua função primordial” Discordo da respeitável opinião do editor. Com efeito, seria essa a melhor opção do ponto de vista estritamente técnico, porém, a vereda política pela qual percorreriam os integrantes dessa guarda não deve ser desprezada. Seria um órgão de segurança interno, estranho às FFAA, e, assim, subordinado ao Ministério da Justiça, e por certo, civil. Com o passar do tempo,… Read more »

Andre de POA

Saindo um pouco do assunto mas mantendo o foco, sou de opinião de que deveria existir uma policia maritima, liberando a marinha destas picuinhas do dia a dia tipo lincença para jetsky, pirataria em portos e pequenos acidentes e outros problemas que tomam um tempo precioso dos recursos parcos da MB que com isso ficaria focada na extratégia e defesa.
Abração

Andre de POA

retificando: quando digo policia maritima me refiro a guarda costeira.

Lerner

Muito bom. Antes tarde do que nunca. Na verdade, a prisão do piloto poderia sim ter sido feita pelos militares. É apenas uma questão de interpretação legal. Qualquer do povo pode prender alguém em situação de fragrante, o que geralmente ocorre nos casos das aeronaves interceptadas pela FAB. A única coisa que a FAB não poderia fazer era prender e interrogar o suspeito, mas detê-lo e conduzi-lo até a delegacia, ela pode fazer normalmente. Talvez o poder de polícia a que se refira esse texto, seja para fazer averiguações típicas de polícia quando existe apenas uma leve suspeita de cometimento… Read more »

gaspar

ja que a MB ganhara poder de policia, nada mais certo em pedir a MB para prender o grande molusco…
so a MB pode prender crustaceos, demorou…
que otima noticia…

Azevedo

Há de se ter cuidado com os precedentes. Não faltará muito para que se queira Fuzileiros subindo morro.

Guilherme Poggio

Muita atenção para esta frase do Azevedo. A proposta foi criada com a melhor das intenções, mas será que o papel das FAs não será desvirtuado? Seria muito melhor um trabalho de cooperação entre diferentes órgãos da administração pública federal.

Noel

Senhores, esqueçam a USCG, não há condições de comparação, pois USCG é uma verdadeira Força Armada, mais poderosa do que muitas Marinhas pelo mundo. Criar uma nova instituição seria também drenar recursos, hoje destinados a MB, com a agravante de que ao criar-se outra instituição, também é necessario um novo aparato administrativo, novas instalações, novos efetivos, nova estrutura de apoio logístico, nunca seria a simples transferência de alguns navios e lanchas, e pronto; e tudo isso, quem pagaria seriamos nós contribuintes. Ainda é bom observarmos as considerações levantadas pelo companheiro WDias, em 21 Ago, 2009 às 13:33, pois sempre esta… Read more »

Noel

Complementando o assunto: talvez fosse mais interessante e economicamente viável ao pais, e logicamente a MB, reestruturar administrativamente os Distritos Navais/Capitanias dos Portos, subordinando-os a um Grande Comando específico, a ser criado, que até poderia ostentar esse título de Guarda Costeira, que tanta gente gosta, haja vista as novas responsabilidades que podem vir a serem cobradas, a partir desse poder policial, e dando mais “peso” político, interno e externo, por ser comandado por um 4 estrelas; mas SEMPRE dentro da estrutura da MB. Paralelo a isso, o Ministério da Justiça deveria reforçar o Departamento de Polícia Marítima e Aérea da… Read more »

WDias

André, certamente, se criada a GC, seria de jurisdição da União, vez que se prestaria ao policiamento de patrimônio da união.

Walderson

Por favor, alguém sabe como funciona a GC americana?
Obrigado.

Jaique Sparro

Poderia não,já deveriamos ter uma Guarda Costeira há muito tempo,só não temos por causa das mentes retrógadas e ultrapassadas que não estão nem aí pra segurança do povo.

Estou completamente incomodado com a presença de barcos pesqueiros (Nove ao todo) pois como bom observador não justifica esta quantidade, principalmente nas imediações de Saquarema. Embora sejam vistos como um fato natural mas quem nos assegura que entre os mesmos não esteja existindo barcos de bandeiras extrangeiras ???? Cabe á nossa briosa averiguar a normalidade destes barcos, se nacionais ou não !!!!!!