90 graus para bombordo
Acordos com a França mudam os rumos da Marinha do Brasil
O Brasil já deu início a um processo de parceria estratégica com a França com a assinatura de algums acordos na área de equipamentos de defesa. Dentre os mais importantes estão o acordo para a construção de quatro submarinos convencionais e o casco de um submarino nuclear e a aquisição de meia cententa de helicópteros.
Outros resultados provenientes desta parceria poderão vir como a compra de caças Rafale pela FAB e a escolha de uma nova escolta baseada em um modelo francês. Deve-se observar que nestes dois últimos casos citados, os equipamentos franceses apenas fazem parte do processo de escolha e não foram apontados como vencedores.
O Brasil ainda não é um país dependente do equipamento militar francês. Aliás, isto está longe de acontecer (se realmente acontecer). Mas vale analisar o presente e o futuro próximo.
A única unidade naval de grande porte da Marinha do Brasil de origem francesa é o NAe São Paulo (ex-Foch). Em breve a MB incorporará também navios de patrulha de desenho francês e a médio/longo prazo serão incorporados os submarinos derivados do Scorpène, além de um casco de projeto francês para o submarino nuclear brasileiro.
Analisando o passado da Marinha do Brasil, a influência francesa chega perto do ‘irrisório’. A única unidade naval de efetivo poder bélico adquirida na França (excluindo os casos atuais citados acima) foi o encouraçado Brasil, fruto da ‘Questão Christie’, incorporado em 1865.
Portanto, estamos diante de uma grande mudança. Alguns ainda não se aperceberam, mas esta será a maior mudança na Marinha da Brasil, em termos de origem de equipamentos, desde que ela foi criada. E como é comum, toda mudança de equipamento acarreta em mudanças de outras ordens.
A Marinha do Brasil, assim como a própria consolidação da independência do país, nasceu das mãos de oficiais provenientes do Reino Unido (diga-se de passagem, estes nunca foram devidamente homenageados, como fez o Chile).
Além de incorporar as tradições marinheiras e até mesmo um uniforme inspirado na Marinha Real, o Brasil adquiriu muitos navios de procedência britânica ao longo de mais de 180 anos. É verdade que existiram incorporações de peso, principalmente a partir da entrada do Brasil na II Guerra Mundial, de unidades provenientes dos EUA. Até mesmo navios de origem italiana e alemã foram mais frequentes na MB do que navios de origem francesa.
A mudança que surge no horizonte é bem maior do que muitos podem imaginar. Não se trata penas da troca de um fornecedor por outro. O Brasil incorporará filosofias logísticas e operativas totalmente distintas daquelas a que está acostumado. Portanto, cabem as seguintes perguntas para uma eventual discussão: O país está preparado para esta mudança? Este é o rumo certo? Ou tudo não passa de um momento geopolítico que ambos os países atravessam?