Tataraneta de Charles Darwin aporta no Rio
Quase 200 anos depois do primeiro contato de Charles Darwin com o Brasil a bordo do HMS Beagle, sua tataraneta, a bióloga Sarah Darwin, refaz o trajeto. Mas enquanto a histórica viagem do naturalista levou à identificação de novas espécies e à publicação de um clássico que alterou a maneira como se interpreta a vida no planeta, a missão da herdeira agora é investigar o futuro das espécies estudadas por Darwin e alertar para a importância da preservação ambiental.
– Espero poder ver através dos olhos do Darwin do século 19 os lugares que visitou, ver o que ele viu, os fatores que o levaram à conclusão da evolução através da seleção natural – explicou Sarah.
A tataraneta do naturalista aportou terça-feira no Rio de Janeiro como integrante da equipe da expedição científica Beagle Project, que repete a viagem em um veleiro holandês três vezes maior do que o usado por Darwin durante sua jornada ao Hemisfério Sul, entre 1831 e 1836.
Imponente em seus 60 metros de comprimento, três mastros e mais de 30 velas, o veleiro Stad Amsterdam, tripulado por mais de 25 marinheiros, impressiona. O barco, da categoria conhecida como Clipper, pertence à empresa de recursos humanos holandesa Randstad e também à cidade de Amsterdã. Foi construído há apenas nove anos, embora sua aparência externa remeta ao século 19.
– Só existem dois Clippers em todo o mundo e, por acaso, o outro é o Cisne Branco, barco-escola da Marinha brasileira – contou Richard Slootweg, capitão do Stad Amsterdam.
O veleiro saiu da Inglaterra no dia 1º de setembro e já percorreu Cabo Verde, Tenerife, Fernando de Noronha e Salvador, antes de chegar ao Rio de Janeiro, onde ficará atracado até sexta-feira, partindo em seguida para Montevidéu, no Uruguai.
O percurso do Beagle Project visa a realização de um documentário para o canal de TV independente holandês VPRO, um dos principais patrocinadores da viagem que custou mais de 13 milhões de euros (aproximadamente R$ 33,3 milhões). Sarah é a apresentadora da série, que integra as comemorações do bicentenário do nascimento de Darwin e os 150 anos da publicação do livro A Origem das Espécies. O documentário terá 35 episódios.
– Essa viagem nos proporciona o privilégio de viver nas condições que a natureza nos oferece. Essa é a verdadeira razão de a estarmos reproduzindo – afirmou Sarah. – A floresta tropical é tão diversa que num simples hectare há mais espécies do que em toda a Grã-Bretanha.
Percurso
Darwin visitou vários lugares importantes durante sua expedição, como as formações rochosas de Cabo Verde, observou remanescentes de fósseis de animais gigantescos extintos na Argentina e as aves em Galápagos.
– Mas pode se dizer que os passeios solitários de Darwin pela Mata Atlântica durante sua visita ao Brasil foram um dos aspectos mais importantes e duradouros da viagem. Darwin ficou sem palavras para conseguir descrever a emoção que sentiu ao andar por essas paisagens – disse Sarah.
O Brasil não só é uma das áreas mais importantes visitadas por Darwin, pelo conhecimento que adquiriu aqui. Esse momento é de particular preocupação ambiental para o país, que hoje preserva apenas 7% de sua Mata Atlântica original.
Durante esta estadia no Brasil, a tripulação, integrada por cientistas de diversas áreas, tentará desvendar através da coleta e pesquisa de espécies nativas qual o verdadeiro status do meio ambiente no continente, quase dois séculos após a visita de Darwin.
– Esse projeto tem o objetivo de chamar atenção da população mundial para os riscos que as espécies estão correndo. Se o lançamento do livro do Darwin foi algo que marcou a evolução da ciência e demonstrou um conhecimento fundamental para o que veio a seguir, hoje nós estamos nessa condição de sermos obrigados a chamar a atenção da sociedade para a preservação das espécies – frisa Johan Vand Gronden, executivo-chefe da WWF Holanda, organização não-governamental dedicada à preservação da natureza e uma dos patrocinadoras da viagem.
Durante a passagem da expedição pelo Rio, a WWF no Brasil homenageou Carlos Nobre, pesquisador-titular e coordenador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), com o Prêmio Personalidade Ambiental por sua contribuição para a compreensão do aquecimento global e os impactos das alterações climáticas na Amazônia.
FONTE: Jornal do Brasil
Veja o site do Stad Amsterdam