EAS projeta segundo dique para atender Vale
Estaleiro de Pernambuco negocia com mineradora construção de 4 navios de 400 mil toneladas
O Estaleiro Atlântico Sul (EAS) poderá construir um segundo dique seco em Suape (PE) para atender a encomenda da Vale de navios dedicados ao transporte de minério de ferro. O projeto deve ser apresentado ao conselho de administração do EAS até o fim do ano. O valor do projeto não está definido, mas deve ser superior aos cerca de R$ 300 milhões gastos nas obras civis do primeiro dique, que estará concluído em dezembro e que consumiu outros R$ 100 milhões (US$ 60 milhões) na compra de dois grandes guindastes.
As discussões entre a Vale e o EAS estão aceleradas. Em 15 de dezembro vence o prazo dado pela mineradora para que estaleiros nacionais apresentem suas ofertas. O pacote envolve quatro navios de grande porte, mas os estaleiros avaliam que esse poderia ser o primeiro lote de uma série de embarcações. O EAS vem trabalhando em uma proposta técnica e comercial para os primeiros navios da mineradora. O tema ganhou importância no alto escalão das duas companhias e envolveu o governo federal.
Na semana passada, em Londres, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ao Valor que buscaria aproximar o presidente da Vale, Roger Agnelli, ao EAS. Na visão de Lula, o estaleiro teria, sim, condições de atender a Vale desde que tivesse uma programação de navios de longo prazo, de forma que fizesse sentido investir na ampliação da capacidade. Lula participou em Londres do seminário “Investimentos no Brasil”, promovido pelo Valor e “Financial Times”.
Nas discussões para se chegar a um acordo há, porém, temas sensíveis, sendo um dos principais deles a definição das fontes de financiamento. A Vale não está disposta a investir em estaleiros porque considera que seu negócio não é construir navios. Agnelli, que participou do evento em Londres, disse que a Vale estaria disposta a dar ao estaleiro que for investir uma garantia de compra que lhe permitiria tomar crédito no mercado.
Angelo Bellelis, presidente do EAS, considera que a construção dos navios da Vale pode ser viável com uma fórmula que combine financiamento do cliente, aporte dos acionistas do estaleiro e empréstimo do Fundo da Marinha Mercante (FMM). Na sua visão, a mineradora devia tentar uma solução combinada, financiando parte dos navios. “A Vale quando compra navio da China não paga contra entrega.” Outro ponto é que os primeiros navios encomendados pela Vale no Brasil teriam um custo maior do que navios semelhantes construídos na China ou Coreia. Esse custo tende a cair à medida que a indústria naval brasileira aumente a sua competitividade.
No momento, o EAS tem capacidade nominal para processar 160 mil toneladas de aço por ano e tem em carteira projetos que garantem 60% de ocupação. Apesar de o estaleiro ter 40% de capacidade de processamento de aço disponível, é preciso considerar a disponibilidade no dique atual. “Temos capacidade no dique mas com equipamentos compatíveis com os que temos hoje em linha de produção”, diz Carlos Reynaldo Camerato, diretor superintendente da unidade de negócio construção naval da Camargo Corrêa.
O grupo tem 49,5% do EAS, cuja carteira é formada por 22 navios petroleiros da Transpetro e um casco de plataforma da Petrobras. É por essa razão que o EAS precisa, como alternativa, de um segundo dique. Camerato, também conselheiro do estaleiro, disse que o EAS não tem como estratégia trabalhar com 100% de ocupação. “Sempre teremos espaço para novas encomendas.” O conselheiro confirmou que o estaleiro estuda plano de negócios para a construção do segundo dique que será apresentado ao conselho de administração até dezembro.
Além da Camargo, o EAS tem 49,5% de participação da Queiroz Galvão e 1% da PJMR. O estaleiro está em processo de reestruturação para abrigar a coreana Samsung Heavy Industries. Com a mudança, que depende de aprovações de BNDES e Transpetro, a Camargo passará a ter 40% do negócio, Queiroz Galvão (40%), PJMR (10%) e Samsung (10%).
Em Londres, Vitor Hallack, presidente do conselho de administração da Camargo Corrêa, disse que, com sua atual estrutura, o EAS está comprometido com entregas (para Transpetro e Petrobras) até 2013 e que a partir daí poderia fazer navios para a Vale.
Agnelli disse que a empresa tem programada a entrega de navios até 2013. A Vale contratou na China a construção de 12 grandes navios, cada um com capacidade de 400 mil toneladas, em uma encomenda de US$ 1,6 bilhão. O primeiro navio tem previsão de entrega no início de 2011 e os demais até o fim de 2012. Mas a Vale terá que continuar renovando sua frota.
A encomenda motivou protestos dos estaleiros nacionais e levou à abertura de negociações com a Vale. A Vale fixou 15 de outubro para entrega das propostas, mas adiou o prazo para 15 de dezembro a pedido dos estaleiros. O EAS não poderia atender a Vale no prazo que ela desejava, 2012, mas considera factível a entrega a partir do fim de 2013.
FONTE: Valor Econômico IMAGEM / FOTOS: EAS