Malvinas, a questão está de volta
As Malvinas, chamadas pelos britânicos de Falklands, são um arquipélago de dezenas de ilhas ao sul do Oceano Atlântico. O território pertence à Grã-Bretanha, e a grande maioria da população das ilhas é de origem britânica.
A Guerra das Malvinas de 1982 foi resultado de uma disputa territorial entre a Grã-Bretanha e a Argentina. Os argentinos reivindicam a soberania da região desde o século 19. Negociações para resolver a disputa política começaram em 1965, mas não deram resultados. Em 1982, o governo militar argentino resolveu tomar as ilhas à força, o que provocou a reação militar britânica.
História das Ilhas
Existe uma divergência quanto ao primeiro a descobrir a existência das ilhas. Segundo os ingleses, o primeiro navegador a aportar nas Malvinas foi John Davis a bordo da nau Desire. Segundo a versão argentina, foram os Espanhóis e os Portugueses os primeiros a chegarem.
- 1592 – Descoberta pelos britânicos
- 1690 – Primeiro desembarque
- 1764 – Primeira base francesa
- 1767 – Base francesa passa ao controle espanhol
- 1770 – Espanha expulsa colonos britânicos
- 1820 – Argentina recém-independente toma posse das ilhas
- 1831 – EUA declaram as ilhas “free of government”
- 1833 – Britânicos retomam a ilha da Argentina
A última ocupação das Malvinas pelos britânicos, em 1831/33, é considerada ilegal pelos argentinos em vista das ilhas terem sido tomadas pela força à Província de Buenos Aires.
Mas foi só a partir de 1964 que as discussões entre os dois países passaram a tomar corpo, provocadas por um cidadão argentino que pousou em Puerto Argentino num pequenino avião e fincou a bandeira argentina.
Os britânicos chamam a localidade Puerto Argentino de Port Stanley, da mesma forma que é comum se referirem à Guerra das Malvinas como Falklands Campaing. Desde então, os argentinos passaram a invocar a soberania sobre as ilhas nos foros internacionais, com ênfase no período de 1975 a 1977.
Em 2 de janeiro de1980, o governo britânico apresentou ao Parlamento uma moção de solução a exemplo de Hong Kong, pela qual a soberania seria cedida aos argentinos com arrendamento ao Reino Unido. Essa idéia, entretanto, foi duramente criticada pelos ilhéus das Malvinas – os chamados “kelpers” – que desejavam a soberania britânica.
Os britânicos sempre enfatizaram, como ponto fundamental nas negociações, que a vontade dos “kelpers” deveria prevalecer na decisão.
Ao final de março de 1982, o governo da Grã-Bretanha já possuía informações sobre a provável invasão argentina, a qual viria a tornar-se realidade em 2 de abril, a despeito do apelo pessoal do Presidente Ronald Reagan, dos Estados Unidos, em conversação telefônica com o Presidente argentino General Leopoldo Fortunato Galtieri, no sentido de evitar a ação armada.
A comunidade internacional criticou o uso da força, não só porque entendia ser uma agressão, como, também, porque existiam negociações diplomáticas em curso. Em decorrência, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas emitiu a Resolução 502, pela qual a Argentina deveria retirar, imediatamente, suas tropas e procurar a solução pacífica.
Os países do mundo desenvolvido ficaram do lado britânico. A decisão do governo norte-americano de apoiar o Reino Unido, nos aspectos militares, e de bloquear a ajuda à Argentina, no campo econômico e também militar, fortaleceu de maneira decisiva a posição britânica. Igualmente,a Comunidade Econômica Européia, ao resolver suspender o apoio militar e boicotar as importações de produtos argentinos, muito contribuiu para o enfraquecimento do seu esforço de guerra.
O cenário que antecedeu a guerra de 1982
A economia argentina, da mesma forma que a economia mundial, experimentava uma rigorosa crise em 1982. Os protestos do povo argentino contra o seu próprio governo, pela maneira como conduzia os problemas sociais, tornavam-se cada vez mais vigorosos nos dias que antecederam a invasão.
Com o bloqueio econômico dos Estados Unidos e da Comunidade Econômica Européia, o poder nacional da Argentina obviamente se debilitou nos primórdios do conflito, diminuindo em muito a possibilidade da nação conseguir sustentar uma guerra mais prolongada.
O governo britânico anunciou que a despeito dos gastos que a campanha viesse a despender, já existiam recursos no orçamento militar da Grã-Bretanha para cobri-los. Mesmo que isso não fosse rigorosamente verdadeiro, admite-se que a economia britânica teria fôlego suficiente para manter uma campanha não muito demorada contra um país em processo de desenvolvimento, como a Argentina.
O cenário militar
É necessário salientar dois pontos indispensáveis ao entendimento do cenário militar: as características geoestratégicas das ilhas e a comparação dos poderes combatentes, seja no aspecto quantitativo dos meios bélicos de cada país, seja no estado da arte tecnológica dos equipamentos utilizados.
Quanto à geografia da região, as Ilhas Malvinas estão situadas a cerca de 400 milhas a leste da extremidade sul do território continental argentino. Para efeitos de comparação, uma milha náutica equivale a 1.852 m. Aqueles que estão acostumados com o sistema métrico decimal terão uma boa idéia das distâncias envolvidas se considerarem que a milha vale, aproximadamente, 2 km.
As Malvinas ocupam uma posição bastante importante sob o ponto de vista estratégico. Ficam muito próximas da passagem do Cabo Horn, pela qual o Pacífico e o Atlântico Sul se unem, e permitem aos que as dominam um substancial grau de controle das vias de acesso à Antártica. A sua ocupação facilita a projeção do poder militar sobre a área marítima do Atlântico Sul, por onde passavam, no início da década de 80, 70% das mercadorias e bens de interesse dos Estados Unidos e dos países da Europa Ocidental em tempo de paz
A localização geográfica das Malvinas em relação aos territórios metropolitanos dos países em conflito parecia favorecer mais a Argentina, pela proximidade. Afastadas de quase 8 mil milhas do Reino Unido, permitiu uma pequena superioridade aérea inicial argentina, enquanto a Força-Tarefa britânica ainda se deslocava para o Teatro de Operações. Quando chegou nas proximidades das ilhas, a superioridade aérea britânica veio a prevalecer, já que os porta-aviões podiam operar entre 150 e 200 milhas das ilhas.
Mesmo assim, as distâncias envolvidas representavam uma desvantagem respeitável para os britânicos, particularmente sob o aspecto do apoio logístico, isto é, do fornecimento de sobressalentes, substituição de pessoal e material, reabastecimento de toda a ordem etc. Além disso, a aproximação do inverno antártico fazia prever a existência de freqüente mau tempo na área de operações, o que prejudicaria de forma mais intensa o desempenho dos meios de combate britânicos. Eles não tinham a alternativa de poder retirar as suas forças para um local abrigado, próximo e com boa estrutura de apoio, quando fosse necessário.
Ainda no contexto geográfico, a utilização das instalações norte-americanas na Ilha de Ascensão, afastadas de cerca de 3 mil e 800 milhas das Malvinas, foi importante no desfecho da guerra. De lá partiram os ataques dos aviões de bombardeio Vulcan ao aeroporto de Puerto Argentino e vieram os reforços dos 10 Harrier GR III que, reabastecendo-se no ar, incorporaram-se à Força-Tarefa. Formou-se uma corrente de quase 70 navios mercantes e auxiliares entre Ascensão e Malvinas, destacando-se navios-tanque, navios-transporte de tropas e de carga, navio-hospital, rebocadores e navios-oficina.
O Teatro de Operações
As condições de mau tempo e o conseqüente mar agitado iriam prejudicar, igualmente, o desempenho dos navios de superfície. Com relação às operações aéreas, entretanto, os argentinos levariam alguma vantagem, pois operariam os aviões partindo de aeroportos. Os britânicos, ao contrário, teriam que operar seus aviões decolando de conveses de vôo submetidos às más condições do mar. De um modo geral, os argentinos pareciam ser os menos prejudicados pelas influências negativas do clima reinante.
Quanto aos meios de combate – navais e aéreos – a Força-Tarefa britânica possuía 29 navios: 2 porta-aviões, 8 contratorpedeiros lançadores de mísseis guiados, 15 fragatas de emprego geral, 3 submarinos nucleares e 1 convencional. Os argentinos possuíam praticamente a metade, 14 navios: 1 porta-aviões, 2 contratorpedeiros lançadores de mísseis guiados tipo 42, 3 corvetas, 5 contratorpedeiros da Segunda Guerra Mundial de origem norte-americana e 3 submarinos convencionais. Dois desses submarinos eram alemães classe IKL-209, modernos, e o terceiro classe Guppy, de origem norte-americana e também da Segunda Guerra Mundial. Quantitativamente, portanto, o Reino Unido apresentava número superior de navios.
Com relação à dotação de aviões de caça e ataque à jato, os argentinos possuíam 12 da Aviação Naval e 59 da Força Aérea(71 no total), contra 20 Sea Harrier e 10 Harrier GR III dos britânicos (30 no total). Assim, os argentinos possuíam substancial superioridade numérica de aviões. Convém salientar que os Sea Harrier foram projetados para operarem de porta-aviões enquanto os Harrier GR III, baseados em terra, o foram para ataques a objetivos terrestres.
O estado da arte tecnológica dos navios, aviões e respectivos equipamentos sugeria haver superioridade britânica no que concerne à comparação de poderes combatentes navais e aéreos, a despeito do menor número de aviões.
O emprego do Poder Naval argentino na Operação Rosário
No dia 1º de abril de 1982, um Grupo de combate desembarcou do destróier ARA Santíssima Trinidad.
No dia 2 de abril, às 04:30 h, outro Grupo foi desembarcado por helicóptero do Transporte ARA Almte. Irizar. Ainda na madrugada do dia 2, um terceiro grupo foi desembarcado pelo Submarino ARA Santa Fé ao norte de Port Stanley.
A escalada
Realizada a invasão, ficou claro que os britânicos utilizariam o Poder Militar caso falhassem as tentativas para uma saída pacífica.
A Primeira Ministra Mrs. Margareth Thatcher anunciou o envio de uma força-tarefa em direção ao Atlântico Sul.
As primeiras unidades britânicas zarparam de seus portos no Mar do Norte no dia 5 de abril, apenas três dias depois da invasão.
O conflito durou 74 dias. Morreram em combate 649 argentinos e 255 britânicos. Três habitantes das ilhas morreram durante os bombardeios.
Misperception
A invasão das Malvinas pela Argentina pode ser um bom exemplo de misperception. A Junta Militar equivocou-se ao pensar que a Grã-Bretanha não optaria pela via militar para a recuperação das Ilhas. O descaso do governo inglês pelas Malvinas era apenas aparente, pois se os ingleses cedessem, outras possessões britânicas também poderiam ser contestadas.
O regime militar argentino entrou em colapso, e o país realizou eleições democráticas em 83. O plano do general Leopoldo Galtieri, presidente da Argentina, de ganhar apoio popular com a invasão, teve, no final, efeito inverso.
Do lado britânico, a vitória consolidou o governo da primeira-ministra Margaret Thatcher. Para a comunidade das ilhas, a guerra acabou trazendo efeitos positivos, já que a Grã-Bretanha renovou seu compromisso com o arquipélago e passou a investir no lugar.
Como está a situação diplomática hoje?
Argentina e Grã-Bretanha têm hoje boas relações diplomáticas. Os argentinos continuam a reivindicar a soberania das ilhas, mas os britânicos não aceitam negociar. Os habitantes das ilhas voltaram a aceitar a entrada de argentinos no lugar em 1999, mas a relação entre o arquipélago e o continente ainda é ruim.