Comunicado final condenará exploração de petróleo nas ilhas pelos britânicos

Patrícia Campos Mello

vinheta-clipping-navalOs líderes reunidos em Cancún para a cúpula da unidade dos países latino-americanos vão apoiar “a soberania argentina” das Ilhas Malvinas e condenar a iniciativa da Grã-Bretanha de explorar petróleo na costa das ilhas. No comunicado negociado pelos ministros das Relações Exteriores dos 32 países aqui reunidos, haverá um repúdio à exploração de petróleo pelos britânicos na costa das Malvinas.

“Os chefes de Estado da América Latina reafirmam seu respaldo aos legítimos direitos da República Argentina em sua disputa de soberania (nas Ilhas Malvinas) com a Grã-Bretanha”, diz o documento negociado, que deve ser divulgado amanhã, após as plenárias dos presidentes. Os países latino-americanos dizem que as nações devem evitar “ações unilaterais”, como a prospecção de petróleo empreendida pela Grã-Bretanha na costa das Malvinas.

A presidente Cristina Kirchner, que chegou sábado a Cancún, solicitou ajuda aos países latino-americanos para pressionar a Grã-Bretanha a sentar e discutir a soberania das Ilhas Malvinas. Seu apelo coincidirá com o início dos trabalhos de perfuração da plataforma petrolífera na área marítima ao norte do arquipélago.

O governo argentino pretende evitar as perfurações, temendo que as Malvinas tornem-se um novo centro petrolífero regional. Buenos Aires avalia que a bonança aumentaria o risco de os kelpers (como são chamados os habitantes das ilhas) buscarem a independência, fato que minaria as reivindicações territoriais argentinas. As estimativas sobre as reservas nas ilhas variam desde os mais céticos 8 bilhões de barris, até os otimistas 60 bilhões que os kelpers alegam existir.

Amanhã, na conclusão da cúpula, deve ser divulgado um documento de 90 parágrafos delineando a chamada “OEA do B”. Ainda há muita divergência em relação ao nome da nova organização. O Brasil defende a “União de Estados Latino-americanos”, enquanto países centro-americanos preferem Comunidade da América Latina.

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, e o boliviano, Evo Morales, querem que o novo grupo seja chamado de Organização dos Estados Latino-americanos e se proponha a ser uma OEA sem os Estados Unidos. Mas o Brasil não quer enfatizar esse lado antiamericano, por isso se refere à nova organização como entidade, termo mais neutro. “Não se trata de uma OEA sem os EUA, resolvemos apenas montar um foro só para países da região, coisa que não existia antes”, disse uma fonte brasileira. “A ideia não é substituir, é ter algo novo.”

Segundo Antonio Simões, subsecretário-geral do Itamaraty para América do Sul, o órgão vai se originar da fusão do Grupo do Rio com a Cúpula da América Latina e Caribe (Calc). Por cerca de um a dois anos, as entidades vão continuar mantendo suas agendas paralelas. Será montado um grupo de trabalho que organizará a fusão das duas entidades ao longo desse período.

O órgão, segundo apurou o Estado, não terá um aspecto de defesa, nem abordará as bases americanas na região, como pediam os países da Aliança Bolivariana (Alba). Será mais uma entidade de concertação política. “Um bom paralelo seria a Caricom (Comunidade do Caribe)”, diz Simões. A entidade tratará de mecanismos de cooperação em energia, como biocombustíveis e energia solar, medida que não faz parte do mandato da OEA, por exemplo. O Mercosul seria o mecanismo de maior integração, seguido da Unasul e depois a nova organização.

A ideia de montar uma Organização dos Estados Americanos sem os EUA e o Canadá foi lançada em dezembro de 2008, em Sauipe, Salvador, na primeira cúpula da Calc. Mas o Brasil tenta amenizar a ênfase na entidade como um contraponto ao poder dos EUA.

Na declaração final, também devem ser abordados o tema da reconstrução do Haiti, que deve ficar em termos mais genéricos, depois a Unasul anunciou uma grande doação ao país. Mais uma vez os países vão pedir que os EUA acabem com o embargo contra Cuba . E o líder cubano, Raúl Castro, confirmou presença na reunião, o que deve acentuar o teor anti-EUA nas plenárias, que começam hoje.

FONTE: O Estado de São Paulo

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