Segundo colunista do ‘Monitor Mercantil’, Brasil rompe negociações e fecha pacote bélico com Itália – acordo poderá ser sancionado na terça-feira

Nesta quinta-feira, o Brasil firmou com a Itália um inesperado acordo militar. Isso implicará o desenvolvimento de projetos para a construção de navios de guerra, em especial, navios de patrulha oceânica, fragatas e navios de apoio logístico. Assinado pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, e pelo subsecretário de Defesa da Itália, Guido Crosetto, o acordo inclui também transferências de tecnologia e desenvolvimento de sistemas de combate, navegação, armamento e radares. O documento abrange o desenvolvimento de mecanismos de segurança para a comunicação militar por meio de satélites. Atingirá ainda os sistemas utilizados pelo Projeto Amazônia Azul, responsável por proteger a costa brasileira.

Mas nem tudo é tão simples como parece. Na verdade, a Marinha do Brasil tinha emitido cartas-convite a grandes produtores mundiais de navios-patrulha. Assim, há mais de um ano, vinha negociando especificações e preços com gigantes da área bélica internacional, como: BVT (Inglaterra); Navantia (Espanha); Daewoo (Coréia do Sul); ThyssenKrupp e Fassmer (Alemanha); e Damen (Holanda). Da noite para o dia, o Brasil enviou uma carta a essas empresas – todas ligadas a seus governos, pois isso é fundamento básico na área de defesa – informando que o governo desistia de fazer encomendas isoladas e estava interessado em fechar um pacote mais amplo com um governo. Logo após receberem a carta, as empresas e seus governos ficam sabendo do acordo Brasil-Itália, que poderá ser sancionado na terça-feira, em Brasília, na presença do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. “Segundo a Estratégia Nacional de Defesa, o país prefere priorizar parcerias estratégicas para aquisição de “pacotes”, em vez e negociar a compra isolada de meios navais”.

O que se comenta é que o caso Cesare Battisti provocou um curto-circuito nas relações entre Brasília e Roma. A Itália queria ficar com Battisti, que lá tinha diversas condenações, e o Brasil, impulsionado pelo então ministro da Justiça, Tarso Genro, defendia a manutenção do preso por aqui, por considerá-lo criminoso político e não comum. Lula e Berlusconi desenvolveram, então, uma forma de pacificação, que vem a calhar para os europeus, diante da crise econômica e de emprego por lá: um pacote de compras.

Com a França, Lula assinou um contrato de R$ 19 bilhões, que envolve cinco submarinos, um estaleiro e uma base naval. E pode ainda comprar 36 aviões Rafale, da Dassault, por R$ 8 bilhões. Com a Itália, o interesse econômico passaria por cima de rusgas de relacionamento político. Mais uma vez Lula mostra que é um negociador de alto nível. E tudo vem a calhar, pois a primeira-dama, Marisa Letícia, e os filhos do casal presidencial têm cidadania italiana. O pacote italiano é estimado em R$ 3 bilhões, mas ninguém sabe que valor final poderia atingir.

Desagrado externo

No documento enviado aos licitantes, a Marinha afirmava que, caso as empresas possam fornecer todo o conjunto – navios-patrulha, navios-escola e navios de apoio logístico, “em parceria estratégica de governo a governo”, as negociações poderão ser mantidas. Com a rápida assinatura do acordo bilateral, confirma-se o que todos já desconfiavam: a parceria estratégica já está selada com a Itália e não adianta os demais interessados perderem tempo.

Sabe-se que muitos desses empresários comunicaram a seus governos seu desapontamento com a mudança de orientação do Brasil, o que pode provocar um desgaste de curto prazo, sem implicações graves no futuro.

Fontes empresariais já jogam no ar que os navios-patrulha italianos seriam pequenos e inadequados para operar no Atlântico Sul. Um consultor comentou com a coluna: “Empresas de todo o mundo investiram na licitação brasileira e agora estão aborrecidos, achando que o Brasil fechou um acordo comercial com viés político, com a Itália. Mas os demais governos, talvez só para dificultar a ação brasileira, vão mobilizar suas embaixadas, fazer contatos comerciais, apresentar propostas, nem que seja só para obrigar o governo brasileiro a ter muito trabalho e sofrer algum desgaste com ingleses, espanhóis, coreanos, alemães e holandeses”. Ou seja, haverá leve retaliação dos preteridos.

Pazes com a Itália

Há dias, informou o site Tecnologia & Defesa que, no dia 12 de abril último, Lula assinou, em Washington, com o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, acordo de parceria estratégica. “Com base neste acordo, a Itália teria apresentado através da Orizzonti Sistemi Navali, joint venture entre a Fincantieri e a Finmeccanica, uma proposta de parceria que abrangeria a construção no Brasil, com total transferência de tecnologia, de fragatas tipo Fremm, designadas localmente por Classe Carlo Bergamini, navios de patrulha oceânicos da Classe Commandante e de apoio logístico da Classe Etna. Existem indicações de que a Marinha do Brasil teria sido autorizada a iniciar as negociações quanto ao chamado “pacote italiano””.

As fragatas de 5.800 toneladas da Classe Carlo Bergamini são a versão italiana da Classe Aquitaine francesa, construídas pela DCNS. Comenta-se que os navios italianos, em princípio, teriam custo menor que os franceses, o que permitira a obtenção de um lote inicial de cinco unidades.

FONTE: Monitor Mercantil (coluna de S. Barreto Motta)

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gerson carvalho

Caros, muito boa esta decisão, pois são bons navios e não vamos ter todo o drama que a FAB está tendo com os aviões. Quem sabe a Avibras possa desenvolver um bom missil naval de longo alcance baseado no projeto Mt300.

Eduardo

Marinha 10 x 0 FAB, a marinha ta dando um show e agindo rapidamente para se reaparelhar, agora na FAB tem muita interferência política, por isso ta aew se arranstando até hoje…. ponto para a marinha mais uma vez…

Fragatamendes

No caso dos Navios de Patrulha Oceânicos, não estou bem a par da classe que os italianos estão oferecendo a Marinha, sou a favor de que sejam adquiridas unidades com espaço suficente para que sejam anexados no futuro equipamentos e armamentos adicionais para que em caso de necessidade os mesmos possam atuar como navios de escolta armados com sensores e armamento anti-subimarino, antinavio e antiaéreo.Se alguem puder falar mais sobre este assunto acho que seria muito interessante para todos os interessados neste assunto.Abraços para todos do José Henrique.

Aldo Ghisolfi

Muito bom tudo isso. Sem dúvidas, a Marinha está com agindo como eu gostaria que a Força Aérea também estivesse. O Exército também; comprou seus blindados e só ficamos sabendo quando começaram a ser desembarcados. Será que existe ‘algo’ na FA que não sabemos? Porque toda essa diferença de qualidade de ação?