Quanto custa a operação de um navio de guerra ao longo de sua vida útil?

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O CBO (Congressional Budget Office) dos EUA analisou o impacto da operação e apoio (O&S) e outros tipos de custos de ciclo de vida de quatro navios de guerra em serviço na Marinha dos EUA. A análise – que visa prover um contexto para a avaliação dos custos do novo navio de combate litorâneo (Littoral Combat Ship – LCS) – focou nos seguintes navios:

  • Classe “Avenger” MCM-1, navios de contramedidas de minagem;
  • Classe “Oliver Hazard Perry” FFG-7, fragatas;
  • Classe Flight IIA “Arleigh Burke” DDG-51, destróier;
  • Classe “Ticonderoga” CG-47, cruzadores.

O CBO escolheu estas quatros classes pois eles estão em serviço há décadas, os dados para eles estão disponíveis e todos conduzem pelo menos uma missão que será conduzida pelo LCS. Usando as definições do DoD (Department of Defense) de categorias de custos, o CBO calculou os custos da vida de cada navio nas seguintes categorias:

  • Pesquisa e desenvolvimento;
  • Aquisição;
  • Pessoal;
  • Combustível
  • Outras operações e apoio;
  • Desativação

O custo total de ciclo de vida resultante é menor do que o custo de posse do navio, que poderia incluir também os custos de pessoal indiretos (como recrutamento, treinamento e assistência médica) e custos de infraestrutura de longo prazo (para mudanças em bases, alojamento e outras infraestruturas associadas com mudanças em larga escala da Marinha). O CBO não tem um método confiável para estimar os custos adicionais, por isso limitou-se a analisar os custos de ciclo de vida de um navio de guerra.

Custo de ciclo de vida para quatro tipos de navios

A análise do CBO indica que os custos de O&S – para pessoal, combustível e outros itens – compreendem de 49 a 56 por cento dos custos de ciclo de vida dos quatro navios da lista acima (ver tabela 1). Os gastos com pessoal são o maior elemento dos custos de O&S.

Para um navio pequeno como o MCM-1 de contramedidas de minagem, os custos com pessoal representam 38 por cento dos custos do ciclo de vida do navio, comparados com 29% de um cruzador CG-47, que é sete vezes maior em deslocamento, mas tem tripulação quatro vezes maior.

Os gastos com combustível compreendem uma pequena parte dos custos: 8% a 11% no caso de uma fragata, destróier ou cruzador. Para um MCM-1, o custo de combustível é 1% do custo de ciclo de vida, principalmente porque o navio navega a velocidades muito baixas para operações de limpeza de minas.

Os custos de aquisição para a maioria do resto dos custos de vida dos navios, vai de 43% a 50%. Os custos de desativação tem uma média de pouco menos de US$ 1 milhão. No caso das fragatas FFG-7, a Marinha dos EUA tem vendido ou repassado os navios para outras marinhas.

No caso dos MCM-1, nenhum foi desativado ainda. Mas quando ela desativou 12 caça-minas costeiros MHC-51, similares aos MCM-1, há alguns anos, ela vendeu um e deu três a outras marinhas. (Os outros oito permanecem na reserva).

Base para a análise do CBO

O CBO usou o navio individual como unidade para esta análise. Ele alocou o custo de cada programa de pesquisa e desenvolvimento e dividiu pelo número de navios comprados no programa.

Os custos de aquisição são estimados pelo custo histórico médio de cada navio da classe. Os custo com pessoal foram computados levando-se em conta os custos atuais e futuros de pagamento e benefícios (referidos como custos plenamente onerados) de um oficial médio e de um tripulante médio alistado, multiplicado pelo número médio de oficiais e praças da tripulação do navio.

Os custos plenamente onerados do combustível representam o preço do combustível entregue pelo sistema de suprimentos da Marinha, incluindo os gastos de compra de óleo, refino para combustível e transporte. Outros custos O&S pertencem à manutenção do navio.

Os custos de desativação refletem os gastos com a remoção de navio do serviço ativo na frota. Para cada navio, o CBO estimou vários custos por cada ano de serviço (assumindo que todos os navios entraram em serviço hoje). Os custos então tiveram descontado o valor dos dólares de 2010, usando um desconto real de 3%, que foi a base no rendimento médio de longo prazo do Tesouro de 30 anos, com ajuste da inflação.

Os dados de custos de aquisição – pesquisa e desenvolvimento mais compra – vieram dos relatórios de aquisição selecionados do DoD, para cada programa de navio. O CBO estimou o número de pessoas e a quantidade de combustível usado em cada navio para a média de 5 anos do VAMOSC (Visibility and Management of Operating and Support Costs) da US Navy.

O preço total do pagamento de militares e benefícios e o preço do combustível consumido foram calculados usando dados do DoD e obtidos em análises prévias do CBO. Outros dados de custos de O&S foram obtidos diretamente no VAMOSC. Custos de desativação foram modelados usando dados da Marinha sobre a desativação de outros navios.

Custo de Ciclo de Vida do Littoral Combat Ship

O CBO incluiu nestas análises estimativas equivalentes para o LCS-1, USS Freedom. O banco de dados do VAMOSC atualmente contém dados válidos de um ano de operação do navio.

O CBO não incluiu o LCS-2 na sua análise de custos porque não há dados ainda sobre operações normais disponíveis sobre ele. O CBO projetou o custo de ciclo de vida do LCS-1 sob três diferentes hipóteses de gastos de combustível anual em 25 anos de vida útil: baixo, moderado e alto.

Nos três cenários, os custos de aquisição dominaram o custo de ciclo de vida no LCS-1, indo de 58% a 66% do total. Estes custos de aquisição são mais altos que os outros navios analisados pelo CBO. Entretanto, o LCS-1 é o primeiro navio de uma nova classe, e como acontece na maioria dos navios cabeça de série, ele passou por uma série de dificuldades – e consequentemente aumento de custos – durante sua construção.

Os custos com pessoal perfazem 14% a 16% do custo total de ciclo de vida do LCS-1 em vários cenários e o custo de combustível de 8% a 18%.

O caso de baixo consumo de combustível do LCS-1 geralmente ocorre quando ele opera relativamente a velocidades baixas – 10 nós ou menos, 90% do tempo em navegação e 30 nós ou mais, por cerca de 3% do tempo. Este perfil de velocidade em parte é como a US Navy operou o LCS-1 de março de 2009 a março de 2010.

Neste cenário, custos de operação e apoio totalizam 33% dos custos de ciclo de vida do navio: 16% para custos de pessoal, 8% para custos de combustível (presumindo que o navio consome 25.000 barris de combustível por ano) e 9% com outros custos de O&S.

A parte atribuível aos custos com pessoal é mais baixa que outros navios que o CBO analisou, refletindo o objetivo da Marinha de reduzir a tripulação do LCS substancialmente, comparado com outros navios.

Por exemplo, o LCS-1 tem cerca de 3/4 do tamanho do seu predecessor, a fragata FFG-7, mas sua tripulação é menor que 1/3 do tamanho da tripulação da fragata.

No caso de uso moderado de combustível, que o CBO considera o mais provável dos três cenários, assume-se que o LCS-1 opera a 30 ou mais nós de velocidade por cerca de 5% do tempo, 14 a 16 nós por 42% do tempo (num alcance típico do porto até a área de patrulha) e a menos de 12 nos pelo resto do tempo.

Neste cenário, os custos de O&S totalizam 34% dos custos de ciclo de vida, 15% para o pessoal, 11% para combustível e 8% para outros custos de O&S. O perfil de velocidade moderado resulta no consumo de 35.000 barris por ano, um pouco menos de 37.600 barris que a Marinha presumiu na formulação da requisição de orçamento de 2011.

Por comparação, a FFG-7 consome 31.000 barris de combustível por navio em 2009.

No caso de alto consumo de combustível, o LCS-1 opera a 30 ou mais nós durante 20% do tempo em navegação, presumindo-se parcialmente no perfil de velocidade desenvolvido pelo Naval Sea Systems Command para o Programa LCS.

Neste cenário, os custos de O&S representam 40% do custo de ciclo de vida – mais que em outros cenários para o o LCS-1, mas menos que qualquer outro navio considerado na análise.

Os custos com pessoal perfazem 14% do custo de ciclo de vida total; combustível, 18%; e outros custos de O&S, 8%. O custo projetado para este cenário é 67.000 barris por ano.

É improvável que esta estimativa seja superada na prática: ela é o dobro da média histórica para fragatas e cerca de 80% da quantidade para os destróieres operados pela US Navy (que não têm a capacidade  de velocidade de 40 nós, como o LCS-1 tem, mas são 3 vezes maiores que o LCS).

Abaixo, as tabelas com os dados dos navios analisados. Clicar nas tabelas para ampliar.

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