Cancelamento da visita de Jobim ao Pará levanta suspeitas
Anúncio da implantação da 2ª Esquadra era esperado, mas base deve ficar no Maranhão
O Ministério da Defesa cancelou, ontem à tarde, em telefonema de Brasília para a Seccional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Pará, a visita que o ministro Nelson Jobim faria nesta segunda-feira (16) a Belém. O ministro viria falar sobre o Plano Nacional de Defesa e a implantação da 2ª Esquadra da Marinha do Brasil na Região Amazônica.
No telefonema, a assessoria do ministro alegou como justificativa para a suspensão da viagem uma cirurgia de catarata a que Nelson Jobim precisaria ser submetido. A razão, porém, deve ser bem outra, e está provavelmente associada à decisão, que agora já se acredita formalmente tomada, de levar para o Estado do Maranhão a base naval da Segunda Esquadra.
Esta era, desde o início, a expectativa de setores do Comando da Marinha e do próprio Ministério da Defesa. O Governo do Estado do Maranhão, aliás, já vem considerando há meses a escolha de São Luís como fato consumado.
A decisão do cancelamento, porém, foi uma surpresa. Entre outros motivos, porque uma equipe de assessores do ministro já estava ontem em Belém para acertar detalhes da viagem e do programa que ele deveria cumprir na capital paraense.
Uma condição imposta pela equipe precursora do Ministério da Defesa foi muito mal recebida pelos dirigentes das instituições que aqui deveriam recebê-lo. Certamente cumprindo ordens expressas de Brasília, eles impuseram como exigência que Nelson Jobim seria o único a usar a palavra.
Ocorre que são muitas as entidades que, no Pará, vêm participando de debates e estudos em defesa da escolha do Pará como sede da futura Base Naval da Marinha. Entre outras, participam do grupo de trabalho a OAB, a Federação das Indústrias (Fiepa), a UFPA, o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) e a Comissão Pró-Base do Arquipélago do Marajó.
O professor Hito Braga de Moraes, docente e pesquisador da Faculdade de Engenharia Naval da UFPA, tinha pronto um estudo que seria entregue ao ministro mostrando a viabilidade da escolha de Belém como sede da Base Naval da 2ª Esquadra. Agora, não se sabe sequer se o estudo chegará às mãos do ministro a tempo de influenciar na escolha.
O estranho cancelamento de sua viagem a Belém, na última hora, sugere que não, e indica que todo o trabalho resultou em vão. Os maranhenses ganharam. O Pará, mais uma vez, perdeu.
FONTE: Diário do Pará