SNB em 2022, ‘São Paulo’ em 2011
S. Barreto Motta
Houve muita celeuma sobre a decisão do governo brasileiro de fechar um acordo com a francesa DCNS e a brasileira Odebrecht, para produção de cinco submarinos: quatro convencionais e o último, um modelo a propulsão nuclear. Leis internacionais não permitem transferência de tecnologia nuclear e, por isso, a DCNS fará, em Itaguaí (RJ), apenas o casco do submarino. A propulsão nuclear virá de Aramar (SP), onde a Marinha do Brasil está evoluindo essa tecnologia. Em declarações durante a 24ª Conferência Naval Interamericana, o comandante da Marinha, Júlio Moura Neto, explicou que, em Itaguaí (RJ), DNCS e Odebrecht já produziram uma chapa para o primeiro submarino convencional. Este submarino deverá ficar pronto em cinco a seis anos e, em sequência, os demais, até a fuselagem do modelo de propulsão nuclear, em 2022.
– O projeto de propulsão nuclear não será feito na França, mas no Brasil, com início em 2012 e começo de montagem do submarino em 2015 – disse o comandante Moura Neto, frisando que caberá à estatal Nuclep fazer os cascos, que serão unificados no novo estaleiro, lembrando que, anteriormente, o Brasil fabricou, no Arsenal de Marinha do Rio, cinco submarinos com tecnologia alemã.
O programa de reaparelhamento da Marinha é mais ousado e visa, entre outras coisas, a garantir segurança para a Bacia de Campos e a bilionária área do pré-sal. Informou Moura Neto que a Marinha está construindo quatro navios-patrulha de 500 toneladas – sendo dois no Nordeste e quatro no Rio. O plano oficial, no entanto, é de se chegar a 12 unidades. Especula-se que seriam feitos com tecnologia inglesa. A Marinha pretende se aparelhar ainda com cinco navios-patrulha de 1.800 toneladas – capazes de levar helicópteros a bordo – um navio de apoio logístico de 20 mil toneladas e cinco fragatas de 6.000 toneladas.
– É impossível estar presente a todo momento na costa brasileira. Mas a Marinha do Brasil terá poder de disuasão para afastar qualquer perigo, pois terá condições de mostrar sua bandeira e se fazer presente. Além disso, disporemos de meios aéreos e de submarinos.
Moura Neto disse que o mar concentra 95% do comércio mundial e que os desafios são poluição, terrorismo, tráfico de armas e drogas, crime, pirataria e ameaças aos estados, além do esgotamento das fontes energéticas. No caso do Brasil, há que se ter especial atenção com as plataformas de petróleo. Lembrou que, por dia, 500 embarcações trafegam pela costa brasileira e citou que, pela recente Lei Complementar 106, as Forças Armadas ganharam poder de polícia.
Moura Neto informou que em breve o único porta-aviões brasileiro vai voltar a operar. O São Paulo passou bom tempo no estaleiro e, no momento, está sofrendo inspeções. Tudo indica que, no início de 2011 vai estar tinindo, podendo receber helicópteros e aviões. Sobre a compra de aviões, disse Moura Neto: “A Marinha irá comprar tipo igual ao que for escolhido pela Aeronáutica, para garantir a padronização nas Forças Armadas”.
Brasil e ONU
O comandante da Marinha esclareceu que as 200 milhas marítimas propiciam ao Brasil uma área, no mar, de 3,6 milhões de quilômetros quadrados. No momento, o Brasil reivindica direitos econômicos sobre mais 950 mil km² e a ONU concedeu 750 mil km². Se o Brasil realmente conseguir mais 950 mil km², sua área no mar chegará a 4,5 milhões de km², ou seja, o país terá, no mar, praticamente metade de sua área em terra. O Brasil está coletando dados, com ajuda de empresas internacionais, e deverá apresentar o novo pleito à ONU em 2011.
Informou Moura Neto que esteve em contato com o dirigente máximo da Marinha chinesa e, em breve, receberá esse representante no Brasil. Em relação aos Estados Unidos, informou que Marinha mantém um oficial em Key West, na Florida, para receber informações e interagir na luta antidrogas – mas descartou a possibilidade de instalação de uma unidade norte-americana no Brasil, a pretexto de ajudar no combate a esse flagelo.
FONTE: Monitor Mercantil, via Sinopse