‘Passex Ocean 2010’
Poder Naval embarcou no maior navio de guerra da Royal Navy
Por Alexandre Galante
O porta-helicópteros de assalto HMS Ocean, da Marinha Real britânica, chegou ao Rio de Janeiro no dia 9 de setembro e recebeu a bordo um grupo de jornalistas brasileiros, para um embarque de três dias. Neste período, o grupo pôde conhecer o navio e suas instalações, bem como sua capacidade operativa. Havia também jornalistas internacionais a bordo.
A visita do HMS Ocean permitiu a realização de um exercício anfíbio conjunto entre os Royal Marines e o Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil, ao mesmo tempo em que o navio atuou como base para uma série de encontros diplomáticos e de negócios na área de Defesa.
O HMS Ocean deixou o Reino Unido há três meses e desde então conduziu exercícios na costa dos EUA, com a US Navy. Depois, o navio prosseguiu para o Caribe, onde realizou missões de segurança marítima, provendo apoio à Joint Inter-Agency Task Force, baseada em Key West.
O navio contribuiu em operações contra o tráfico de drogas na região, além de missões de apoio humanitário aos territórios britânicos durante a temporada dos furacões. Na chegada ao Rio, o navio conduziu exercícios anfíbios com a Marinha do Brasil.
Reformado
O HMS Ocean é um navio relativamente novo. Construído em Clyde pelo estaleiro Kvaerner Govan, foi equipado em Barrow-in-Furness pelo Vickers Shipbuilders. Sua quilha foi batida em 30 de maio de 1994, o lançamento ocorreu em 11 de outubro de 1995 e a incorporação deu-se em 30 de setembro de 1998.
De 2007 a 2008, o navio passou por uma reforma feita pela Babcock Marine, no estaleiro Devonport, para melhorias em diversos sistemas e nas acomodações dos tripulantes e dos Royal Marines. A reforma custou £30 milhões.
Primeiro dia de embarque
Os jornalistas embarcaram numa LCVP Mk 5 no cais do 1º Distrito Naval (Rio de Janeiro), por volta das 14h do dia 9 de setembro, partindo para o HMS Ocean, que estava fundeado na Baía de Guanabara.
Chegando no navio, a LCVP foi içada para bordo rapidamente pelos turcos laterais e encaixada no seu lugar.
Fomos recebidos a bordo pelos oficiais de RP (Relações Públicas) do HMS Ocean no hangar do navio. De lá fomos deixar as bagagens no nosso alojamento.
Logo após, o grupo de jornalistas foi levado ao passadiço para assistir à saída de porto. Aproveitando também a vista do convoo, pudemos fazer boas fotos do por do sol, com o navio já fora da barra. Já com o HMS Ocean a caminho da área de exercícios na Restinga da Marambaia, fomos levados ao hangar para assistir a um briefing da operação de desembarque que seria feita no dia seguinte, com a presença de Fuzileiros Navais brasileiros e dos Royal Marines.
Segundo dia de embarque
Às 5h da manhã, fomos despertados para o café e para assistirmos à preparação para o desembarque dos fuzileiros navais brasileiros e ingleses na Marambaia. Chamou nossa atenção a grande organização dos equipamentos individuais e o preparo da logística da operação de desembarque.
A atenção britânica para os detalhes pôde ser constatada, além da preocupação com a segurança dos militares envolvidos na operação de desembarque.
O desembarque dos jornalistas estava programado para o período da tarde, então ocupamos a manhã com a visitação de algumas instalações do navio, como o Centro de Operações de Combate, o Centro de Operações Anfíbias, o Centro de Controle de Máquinas e a Praça de Máquinas, onde ficam os motores e os geradores diesel do navio.
Estava previsto o desembarque dos jornalistas na Marambaia também por LCVP, para a cobertura das operações. Mas, graças à intervenção do CC Espozel do Esquadrão HU-2, pudemos voar de UH-14 Super Puma até as instalações do CADIM.
Durante o voo, fotografamos o HMS Ocean e as embarcações que faziam o movimento de tropas navio-terra.
Terceiro dia de embarque
Às 9h da manhã desembarcamos do HMS Ocean via LCVP, para assistirmos a outros exercícios dos Royal Marines e dos Fuzileiros Navais do Brasil.
Antes de chegarmos à praia, os britânicos demonstraram o lançamento de mergulhadores de combate por helicópteros Lynx, bem próximo à LCVP onde estavam os jornalistas. Após o lançamento, os mergulhadores foram recolhidos por outro helicóptero.
Depois da demonstração dos mergulhadores, partimos para o CADIM, onde assistimos a vários treinamentos dos fuzileiros.
Na volta para o navio, embarcamos num hovercraft e fizemos o trajeto numa fração do tempo que levaríamos numa LCVP.
A volta para o Rio de Janeiro
O HMS Ocean retornou ao Rio de Janeiro no domingo, dia 12 de setembro, atracando no cais da Praça Mauá por volta das 9h30 da manhã.
Impressões sobre o HMS Ocean
No tempo que permanecemos a bordo do maior navio de guerra da Marinha Real, pudemos aprender muitas coisas sobre ele e natureza das operações anfíbias.
Embora o HMS Ocean tenha uma semelhança externa com a classe “Invincible” de porta-aviões, na verdade internamente é muito semelhante a um navio mercante, pois ele foi construído dentro dos padrões mercantes para baratear os custos.
Os corredores são largos e compridos, com pouca compartimentação, para facilitar a construção e o trânsito a bordo. Por outro lado, o navio é mais vulnerável a incêndios e a avarias, por isso existe uma preocupação muito grande com o controle de avarias a bordo.
Equipamentos de combate a incêndio, máscaras de oxigênio e mangueiras estão presentes em quase todo o navio.
As instalações são muito confortáveis e a habitalidade é excelente.
O HMS Ocean foi o primeiro navio da Royal Navy projetado como porta-helicópteros de assalto anfíbio. Ele foi feito para levar mais de 500 Royal Marine Commandos com seu equipamento pessoal e possui um hangar que pode acomodar 12 helicópteros Sea King HC4.
Na popa, no final do hangar, existe uma garagem, acessível pelo elevador do convoo e rampas que descem até o cais, que pode acomodar veículos e peças de artilharia.
Soldados totalmente equipados podem se mover rapidamente pelos corredores até as estações de assalto, para embarque nas aeronaves e embarcações.
O HMS Ocean foi projetado para operar distante da terra, usando suas aeronaves para transportar suas tropas para os alvos em terra e depois apoiá-los.
Uma observação importante que os Royal Marines fizeram é que hoje não existe mais desembarques anfíbios como os retratados no filme “O Resgate do Soldado Ryan”. Os Royal Marines não batem de frente com inimigo, mas procuram desembarcar no ponto mais fraco do território hostil e pelos flancos de uma força inimiga. Como sua plataforma de operações é móvel, o inimigo nunca sabe de onde eles virão.
O objetivo é neutralizar a ameaça e alcançar o objetivo com o mínimo de perdas.
O HMS Ocean também não opera sozinho, pois normalmente ele faz parte de uma Força-Tarefa maior, com outros navios anfíbios, dotados de docas alagáveis e outras capacidades adicionais. A missão principal do Ocean é prover o apoio aéreo necessário para as operações anfíbias, trasportando cerca de 500 homens em 12 helicópteros Sea King, apoiados por 6 helicópteros de ataque e 4 embarcações de desembarque LCVP.
O Ocean normalmente embarca os seguintes tipos de helicópteros:
- Sea King HC4, cada um podendo levar até 27 soldados equipados ou 2.700kg de equipamentos, o que possibilita o transporte um Land Hover ou um obuseiro de 105mm pelo gancho externo.
- Lynx Mk.7 e Mk.9, para missões de reconhecimento armado, anti-carro e de apoio aéreo aproximado.
- Sea King Mk.7 ASaC, para missões AEW.
- Merlin, para missões antinavio e antissubmarino.
- Apache (do British Army), para missões anti-carro.
- Chinook HC Mk.2, que leva 50 soldados equipados ou 10 toneladas de carga.
Sua missão secundária inclui treinamento, plataforma de Guerra Antissubmarino (ASW) e base para operações anti-terrorismo.
O navio pode levar até 40 veículos Land Rover, 34 trailers e seis Light Guns de 105mm internamente, no deck de veículos.
Esses equipamentos podem ser rapidamente embarcados/desembarcados por rampas na lateral e na popa.
HMS Ocean para o Brasil?
Existe a possibilidade de que o navio vá para a reserva com os cortes que deverão ser anunciados pelo MoD britânico e que o mesmo possa ser oferecido à Marinha do Brasil.
A Estratégia Nacional de Defesa (END) preconiza a aquisição de “navios-aeródromo de propósitos múltiplos”:
“Entre os navios de alto mar, a Marinha dedicará especial atenção ao projeto e à fabricação de navios de propósitos múltiplos que possam, também, servir como navios-aeródromos. Serão preferidos os navios-aeródromos convencionais e de
dedicação exclusiva.”
O HMS Ocean, caso seja oferecido, poderia ser uma boa compra de oportunidade, enquanto o Brasil se prepara para construir seus próprios navios do tipo.
É um navio polivalente, capaz de realizar um amplo espectro de operações militares e também missões de paz e de apoio humanitário, como o Brasil faz no Haiti.
Não seria, porém, um substituto para os atuais NDD Rio de Janeiro e Ceará, já que não possui doca alagável. Mas cumpriria bem grande parte das missões que a Marinha da Brasil tem sob sua responsabilidade.
AGRADECIMENTOS: a equipe do Poder Naval agradece ao Consulado-Geral Britânico no Rio de Janeiro, ao gerente de comunicação Glauco Paiva e à coordenadora de comunicação da Embaixada Britânica em Brasilia, Maria Benevides, por terem possibilitado a realização desta reportagem. Agradecemos também à Marinha do Brasil e à Força Aeronaval, especialmente ao CF Rohwer e CC Espozel do Esquadrão HU-2, que nos permitiram a realização das fotos aéreas do HMS Ocean.
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