Brasil cria posto avançado de defesa na Ilha da Trindade
Marinha constrói estação científica a 1.167 km da costa do Brasil, para proteger riquezas naturais
Sidney Martins – Enviado especial
A Marinha do Brasil conquistou um forte aliado tecnológico dentro da Estratégia Nacional de Defesa (END). Com a construção, neste ano, da Estação Científica da Ilha da Trindade (ECIT), a Armada estabelece um novo rumo às atividades científicas na ilha. Por sua localização, próxima às principais bacias petrolíferas e à região de maior desenvolvimento econômico do país, Trindade é um posto avançado vital para a defesa nacional.
A nova Estação Científica faz parte do Programa de Pesquisas Científicas da Ilha da Trindade (Protrindade), criado no âmbito da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), com o objetivo de promover e gerenciar o desenvolvimento de pesquisas na área.
De acordo com a Marinha, o Protrindade atende as diretrizes da Política Nacional para os Recursos do Mar, de Defesa Nacional e Nacional de Meio Ambiente. Localizada a 1.167 quilômetros de Vitória (ES) e a 1.416 quilômetros do Rio de Janeiro, Trindade, além de ser estratégica para a defesa nacional, vai propiciar a obtenção de dados essenciais para a previsão meteorológica.
A Armada conta hoje com 30 militares na ilha, operando uma estação meteorológica para o serviço de previsão do tempo da Marinha. É a única ilha oceânica brasileira com água potável. A estação conta com geração de energia, refeitório, frigorífico, telefone, televisão e acesso à Internet.
A cada dois meses são realizadas viagens de reabastecimento, ocasião em que os militares selecionados embarcam para servir durante quatro meses. De acordo com o capitão-de-mar-e-guerra José Marques Gomes Barbosa, do Comando do 1º Distrito Naval (RJ), a seleção do pessoal leva em conta a capacitação específica e a vocação para a situação peculiar de se ficar longo tempo afastado da família.
Para a construção da estação foram superados diversos desafios, entre eles a dificuldade de acesso à ilha. Não há praias que facilitem o desembarque por superfície, em função da existência de um anel de corais. É necessário cuidado também com a arrebentação e com a mudança repentina do tempo.
Conforme levantamento feito pelo capitão-tenente Felipe Picco Paes Leme, 100 toneladas de material foram embarcadas no navio “Mattoso Maia”, em Vitória com destino à ilha. Após quatro dias de viagem, foram necessários 126 deslocamentos de helicóptero entre o navio e a terra, com duração de mais quatro dias. A concepção do projeto da Estação Científica foi feita por uma equipe da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), com larga experiência em construções em lugares inóspitos.
Assessor da Secretaria da CIRM, o capitão-de-mar-e-guerra Camilo de Lellis de Souza explica que o projeto buscou soluções arquitetônicas para minimizar os impactos ambientai, como ventilação natural e sistema energia solar. O PVC foi usado como material para a construção, por ser mais eficiente para obras em locais de difícil acesso.
A ilha possui uma extensão de 8,2 quilômetros quadrados e é fortemente acidentada, com elevações de até 600 metros. Surgiu há três milhões de anos. Devido a sua origem vulcânica, a presença de lavas, cinzas e areias vulcânicas pode ser constatada, mas a última erupção ocorreu há 50 mil anos.Desde 1700, a ilha foi intermitentemente usada como ponto de apoio marítimo por traficantes escravagistas e piratas ingleses.
Em 1916, foi ocupada pela primeira vez por brasileiros, em função da Primeira Guerra Mundial. Ao término da guerra, foi desguarnecida. Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, foi novamente guarnecida para impedir que submarinos alemães a utilizassem como base de apoio e para garantir a sua posse efetiva pelo Brasil.
FONTE: Hoje em Dia