Ruínas de madeira foram achadas na Praia de Castelhanos – análise definirá sua idade

As fortes chuvas que atingiram o litoral norte de São Paulo recentemente revelaram um achado histórico na Praia de Castelhanos, em Ilhabela. As águas da chuva formaram um “lago” na areia, de aproximadamente um metro de profundidade, e desenterraram ruínas de uma embarcação que pesquisadores acreditam ser uma antiga nau. A descoberta da estrutura, perto do Canto da Lagoa, foi divulgada na semana passada.

Segundo os moradores mais antigos da praia, a embarcação já teria sido vista em diferentes épocas, mas ninguém havia dado importância. O madeiramento usado na construção do navio está em bom estado de conservação. Porém, os pesquisadores não sabem afirmar se a parte exposta representa toda embarcação ou parte dela.

Ainda de acordo com eles, parte da madeira aparenta estar queimada, mas estudos deverão concluir se a avaria foi provocada por balas de canhão ou se moradores a queimaram acidentalmente ao fazer fogueira na areia. O que leva os pesquisadores a crer que o navio seja uma nau são as grandes pranchas de pinho de riga, madeira muito resistente que era usada na construção de naus, galeões e caravelas.

A arqueóloga Cintia Bendazzoli, responsável pelo Instituto Histórico e Arqueológico de Ilhabela, está realizando um levantamento do local e estudando uma forma de preservação do achado. “Veremos se é viável desenterrá-la, o que exigiria um considerável investimento, ou se a mantemos do jeito que está.”

Ela orientou os moradores a impedir que o local sofra intervenções, pois trata-se de um possível bem de natureza histórica e arqueológica protegido pelo Iphan Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural (Iphan). A Praia de Castelhanos é a mais procurada por turistas em Ilhabela, e só se chega a ela por uma estrada de terra de 24km. Lá moram cerca de 200 caiçaras, que sobrevivem da pesca, sem energia elétrica ou água encanada.

Datação. A arqueóloga colheu amostras da possível nau para tentar fazer a datação do material. Ela explica que caso tenha qualidade para a análise, as amostras serão enviadas pela prefeitura de Ilhabela para um laboratório em Miami. O resultado revelará a idade da embarcação.

“Este não é o único sítio arqueológico encontrado em Castelhanos, há muitos outros tão importantes quanto este”, revelou. Os sítios estão sendo estudados no âmbito do Projeto de Gestão e Diagnóstico Arqueológico de Ilhabela, por meio do Instituto Histórico Geográfico e Arqueológico de Ilhabela (IHGAI). Ela destaca o envolvimento dos moradores com o achado. “Eles pediram a colocação de uma placa informativa para que o local se transforme em mais uma atração em Castelhanos”, afirma.

A descoberta foi mantida sob sigilo enquanto os procedimentos técnicos eram feitos conforme as regras do Iphan. O objetivo era evitar um grande número de visitas ao local onde está a nau, o que poderia prejudicar o material encontrado. Hoje as ruínas do navio estão novamente cobertas pela areia.

Histórias. Ilhabela é muito conhecida pelas histórias de corsários e a Baía dos Castelhanos se tornou famosa por ter ficado marcada como refúgio de piratas e ponto estratégico de navios negreiros que traficavam escravos mesmo após a abolição.

Ainda não há evidências de que o navio encontrado tenha sido usado realmente por corsários, uma vez que diversas embarcações, em diferentes períodos, transportavam escravos, bens de consumo, materiais de construção, madeira e itens de exportação, como açúcar e café.

As fontes sobre a história da comunidade local se baseiam nos depoimentos dos moradores mais velhos, transmitidos de geração em geração, pois pouco se escreveu sobre o local e raros são os documentos oficiais do início da povoação.

PONTOS-CHAVE

Tesouros

A Marinha já catalogou 1.320 naufrágios de interesse histórico na costa brasileira. Na foto, cinzeiro encontrado no navio Príncipe das Astúrias, que naufragou em 1916 no litoral de SP.

Tenentismo

1924 É o ano de dois barcos usados na revolta dos tenentes. As embarcações foram encontradas em 2009, no Rio Paraná.

Mergulho

O navio Therezina naufragou em 2 de fevereiro de 1919, em Ilhabela. As ruínas da embarcação estão a 17 metros de profundidade e se tornaram ponto de mergulho na cidade.

FONTE: Estadão (reportagem de R. Pupo) FOTO DE BAIXO: V. de Paula/PMI, via Estadão

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