Almirante sem navio
Brasileiro chefia Marinha da ONU no Líbano há 4 meses de escritório em terra, enquanto espera por embarcação
Por Luis Kawaguti
À espera da chegada de um navio de guerra brasileiro à missão de paz da ONU no Líbano, o Contra-Almirante Luiz Henrique Caroli está há quatro meses comandando uma esquadra internacional a partir de um escritório em terra.
O Brasil assumiu o comando da Força Tarefa Marítima da Unifil (missão da ONU no Líbano) em fevereiro de 2011, como parte dos esforços do Itamaraty, iniciados no governo Lula, para fazer do país um ator relevante no cenário do Oriente Médio.
A negociação com a ONU, delineada em agosto de 2010, incluía o envio de uma fragata no primeiro semestre de 2011 e de até 300 fuzileiros e especialistas em desminagem no futuro.
Caroli e seus assessores são hoje responsáveis por oito navios militares, cedidos à ONU por Bangladesh (2), Alemanha (3), Grécia (1), Indonésia (1) e Turquia (1).
Só a embarcação brasileira não chegou, e Caroli precisa contar com a boa vontade desses países para missões em alto-mar.
A frota tem o objetivo de impedir o contrabando de armas pelo mar para o Líbano.
“Todos os navios vêm [de seus países] com a tripulação completa e não têm como acomodar o Estado-Maior do comandante. Então eu tenho que comandar de terra”, disse Caroli à Folha.
De um escritório da base da ONU no Líbano, o Contra-Almirante traça estratégias, planeja operações e controla as estatísticas da missão.
Quando acontece um evento fora do comum, como o encontro de um navio suspeito ou à deriva, ele é informado por rádio e toma decisões à distância.
“Os embarques que eu faço [em navios] são esporádicos, [começam] de manhã [e vão] até a tarde ou a noite. Eu embarco e desembarco de helicóptero. Só dormi [no mar, durante a missão] duas vezes, em um navio da Indonésia e em um da Turquia”.
Segundo o Contra-Almirante, o problema é que, longe da ação, não é possível ter o controle tático da esquadra.
“O que a Unifil espera, ou esperava, era eu exercer o controle no mar. Seria melhor”, afirmou ele.
A pedido do Ministério da Defesa, a Marinha do Brasil concluiu no início de abril um estudo favorável ao envio ao Líbano da fragata Independência. Ela seria comandada por Caroli e se tornaria o navio capitânia da frota da ONU.
A fragata, navio de grande porte armado com canhões e mísseis antinavios, levaria 257 militares e um helicóptero. Ela ficaria ao menos seis meses no Líbano.
Porém, após o retorno do estudo ao Ministério da Defesa, a iniciativa travou, à espera de envio ao Itamaraty e à Casa Civil, para depois ser submetida ao Congresso.
O Ministério da Defesa afirmou que o assunto ainda está sendo estudado porque, na prática, significa enviar tropas ao exterior.
A Folha apurou que diplomatas do Itamaraty envolvidos na negociação são favoráveis ao envio da fragata.
PRESSÃO
Em quatro meses, os brasileiros subiram a média de navios investigados na missão de 16 para 60 por mês.
Mas isso não diminuiu a pressão sobre Caroli, exercida pela ONU, pelo envio imediato da fragata brasileira.
“Minha resposta tem sido: a Marinha está pronta, mas está aguardando a decisão do Ministério da Defesa e do Congresso'”, diz Caroli.
FONTE: Folha