Recentemente a Marinha do Brasil enviou a fragata União para comandar a Força Tarefa Marítima (MTF) da Força Interina da ONU no Líbano (UNIFIL) na costa oriental do Mar Mediterrâneo. Além dos problemas históricos que a região apresenta, recentemente mais uma disputa foi acrescentada ao conturbado equilíbrio geopolítico daquele canto do mundo. Uma disputa entre Israel e Turquia ameaça dragar outros países da região para uma escala de terror ao redor de jazidas de óleo a gás recentemente descobertas. Saiba mais sobre esta disputa no texto abaixo, de autoria de David Eshel, enviado da DTI em Tel Aviv.

A tensão está aumentando no Mediterrâneo Oriental entre Israel e Turquia e desta vez o foco não é religioso ou político, mas envolve recursos naturais – a descoberta de campos de óleo e gás distantes cerca de 160km ao sul da ilha de Chipre.

O envolvimento da Turquia está relacionado à ocupação e subsequente divisão de uma porção norte da ilha em 1974, depois do conflito com a Grécia para o controle daquele pedaço de terra. A Turquia chama aquela região de República Turca do Chipre do Norte – uma entidade que nenhum outro país reconhece. A Turquia controla cerca de 36% da ilha e a maioria grega da República do Chipre outros 59%. O resto é ocupado por duas bases britânicas.

Um dia após os informes de que a companhia Noble Energy deu início às perfurações em busca de óleo e gás no litoral da República do Chipre, a Turquia disse que deslocaria seus navios para proteger a exploração no norte da ilha.

O campo em questão não estão muito distante do campo de israelense de Leviatã, descoberto no ano passado no litoral de Israel, próximo à fronteira com o Líbano. Israel e a República do Chipre concordaram em suspender suas respectivas Zonas Econômicas Exclusivas e cooperarem na exploração de campos de óleo e gás com a Noble Energy. A Noble está trabalhando juntamente com a companhia israelense Delek no projeto. Israel e a República do Chipre também assinaram um acordo de cooperação na área de perfuração de óleo e gás que pode ser bastante rentável para ambas as partes. No ano passado o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) informou que a bacia costeira que se estende desde o litoral do Egito até a Síria contém cerca de 3,45 trilhões de metros cúbicos de gás natural e 4,3 bilhões de barris de óleo.

A corrida pelo gás começou em junho de 2010 quando o campo de Leviatã foi descoberto a cerca de 130km da costa de Israel. Com reservas estimadas em 450 bilhões de metros cúbicos de gás natural, o campo poderia tornar Israel um exportador deste bem mineral, segundo a Noble Energy, empresa que descobriu o campo de Leviatã.

O primeiro ministro turco, Tayyip Erdogan aumentou a possibilidade de um confronto entre Israel e a Turquia quando despachou uma força-tarefa em setembro passado para o Mediterrâneo Oriental com ordens para confrontar unidades navais israelenses. A força-tarefa operou sob o manto de um enorme exercício naval denominado “Barbarossa”, uma escolha bastante interessante. Barbarossa Hayreddin Pasha foi um almirante otomano cuja frota dominou o Mediterrâneo por anos. Um nome como este sugere que a Turquia ambiciona retomar os dias em que o Império Otomano comandava o Oriente Médio. A visita recente de Erdogan aos países da “Primavera Árabe”, onde levantes populares ocorreram, foi encarada como uma tentativa de promover suas ambições regionais.

Ancara não está apenas mostrando sua bandeira no mar. Um esquadrão de caças F-16 turcos foi enviado à República Turca do Chipre do Norte. Em setembro, a mídia internacional noticiou que aviões de combate da Turquia sobrevoaram o local onde a plataforma Homer Ferrington da Noble Energy realizava perfurações exploratórias no Bloco 12, uma das áreas concessionadas pelo Chipre. Os aviões evadiram-se quando unidades navais israelenses armadas com mísseis e drones realizaram vigilância além do horizonte para acompanhar os movimentos turcos.

A Turquia repetidamente tem apresado navios mercantes israelenses ao longo da costa de Chipre e especialistas dizem que a situação pode deflagar um incidente internacional. A inteligência de Israel está monitorando os movimentos da frota turca no Mediterrâneo. Uma unidade naval turca de porte médio recentemente navegou de norte para sul no Mediterrâneo Oriental seguindo a mesma rota do navio carregado de ativistas, o Mavi Marmara, em maio de 2010, e aproximou-se das águas territoriais de Israel. Informações não confirmadas dão conta de que jatos israelenses foram acionados mas não fizeram contato, e o navio turco mudou a sua rota.

No dia 20 de setembro uma força-tarefa turca composta por fragatas, lanchas lança-mísseis, um navio de apoio e possivelmente dois submarinos navegaram até a costa da República do Chipre, mas depois rumaram para o norte.

Em vista das ameaças turcas na disputada, e agora estratégica, região Israel e Grécia acionaram o pacto de defesa mútua que foi assinado em segredo. O governo de Atenas está preocupado com a segurança da ilha de Kastelorizo – apenas 2km da costa turca, onde voos de vigilância foram detectados recentemente.

Uma questão foi levantada pelos analistas. O que a 6ª Frota dos Estados Unidos fará se as ameaças elevarem-se? O fato da Grécia, da Turquia e dos EUA serem membro da OTAN não facilita a busca por uma solução pacífica. No entanto, Washington não apenas deu luz verde para a Noble Energy continuar perfurando na costa do Chipre, como também deu apoio para a empreitada.

FONTE: DTI nov/11 TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: Poder Naval

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