Herói que morreu na Antártica era de Nilópolis

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Militar tentou conter fogo que destruiu 70% da base junto com colega carioca, que está ferido, e baiano, também morto

 

POR PAMELA OLIVEIRA

Rio – O incêndio que destruiu pelo menos 70% das instalações da Estação Antártica Comandante Ferraz, na madrugada de sábado, acabou também com parte dos sonhos de uma família do Rio. Morador de Nilópolis, pai de dois adolescentes, o primeiro-sargento da Marinha Roberto Lopes do Santos, 45 anos, foi um dos mortos no incidente. Ele morreu tentando evitar que o fogo se alastrasse e atingisse os tanques de óleo usados no gerador de energia, o que poderia causar uma grande explosão e colocar em risco as vidas das cerca de 47 pessoas que estavam na base.

As outras vítimas do desastre foram o suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo, da Bahia, que morreu, e o primeiro-sargento Luciano Gomes Medeiros, carioca, que sofreu queimaduras nos braços e na mão e precisou ser internado em um hospital no Chile. Eles também tentaram apagar o fogo.

De acordo com a família, esta foi a terceira missão de Roberto na Antártica. “A gente já estava acostumado com as viagens do meu pai para lá. Era o que ele mais gostava de fazer. Ele foi em novembro. Estava muito feliz porque ir nessa última missão era o sonho dele, já que se aposentaria no início do ano que vem. Nunca imaginei que ele poderia não voltar”, disse a filha, Aline Colares dos Santos, 18.

Ela conta que, apesar da distância, o contato da família com o pai era diário. “Não parecia que ele estava tão longe. A gente se falava todos os dias. Ele perguntava como estava na escola, no curso. Quando a gente queria comprar alguma coisa, como um jogo, por exemplo, perguntava a ele. Ele sempre esteve muito presente. Não sei como vai ser”, lamentou ao lado do irmão Allan, 14 anos.

Já Luciano, o sobrevivente, estava na Antártica desde março de 2010 e voltaria da missão no próximo dia 25. Ele era responsável pela parte mecânica e manutenção de motores e lanchas. “O importante é que meu pai está vivo”, disse uma das filhas dele, Thaís Medeiros, 24 anos.

O baiano Carlos Alberto estava há 29 anos na Marinha. A previsão era de que se aposentasse no próximo ano. O suboficial foi enviado para a Antártica também em março de 2011 e deveria voltar ao Brasil no próximo mês. De acordo com o relato da família, Carlos Alberto se comunicava diariamente com os parentes, tanto por telefone quanto pela Internet. Numa das últimas conversas, teria garantido que voltaria, ao contar que as malas já estavam arrumadas.

Auxílio de quatro países

A operação de salvamento e resgate dos militares e cientistas da base brasileira na Antártica envolveu quatro países. Poloneses foram os primeiros a chegar de bote na estação brasileira e ajudaram no resgate do primeiro-sargento Luciano, que foi atendido por médicos russos.

Militares chilenos usaram helicópteros e argentinos ajudaram a apagar o fogo e resgatar os brasileiros. Ontem, a presidente Dilma Rousseff agradeceu o apoio dos países.

Um voo com 45 pessoas que trabalhavam na estação decolou ontem à tarde de de Punta Arenas, no Chile. Até o fim da noite de ontem, a previsão era de que o avião C-130 Hércules da Força Aérea Brasileira pousasse em Pelotas, onde desembarcariam quatro pessoas. Em seguida, a previsão era de seguir para a Base Aérea do Galeão, para desembarque de 41.

PESQUISAS DE IMPACTO MUNDIAL

METEOROLOGIA
A estação mantinha importante linha de pesquisa sobre Meteorologia. Fornecia dados importantes para previsão de frentes frias no Brasil, por exemplo. Segundo os cientistas, na Antártica os dados tinham impacto mundial.

RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA
Outras linha de pesquisa analisava o impacto da radiação ultravioleta. Os pesquisadores estudavam espécies de organismos antárticos que resistem melhor aos efeitos deste tipo de radiação. Segundo os cientistas, eles são fontes potenciais para protetores solares mais resistentes.

CLIMA
Outra linha de estudo investigava a retração das geleiras e o impacto no clima global. Os cientistas estudavam ainda a relação entre a redução das geleiras e a existência de crustáceos que fazem parte da alimentação de baleias azuis e uma série de outras espécies marinhas.

Dois anos para reconstrução

O incêndio destruiu completamente o prédio principal, onde fica a parte habitável, como dormitórios dos pesquisadores e militares, e alguns laboratórios, de acordo com a Marinha. Segundo o ministro da Defesa, Celso Amorim, o planejamento da nova estação deve começar hoje e será necessário prazo de dois anos para ela ser reconstruída. Durante este período, as pesquisas vão ficar paralisadas.

Os módulos isolados para casos de emergência, os laboratórios de Meteorologia, Química e de Estudo da Alta Atmosfera, os tanques de combustíveis e o heliponto, que são isolados, não foram atingidos.

Em comunicado oficial, a presidenta Dilma Rousseff afirmou ter recebido com “grande consternação” a informação sobre o incêndio e destacou o heroísmo dos militares que tentaram apagar o fogo.

O destino das estrelas

A tragédia poderia ter sido maior, segundo sobreviventes. Um alerta de incêndio e roupas de frio armazenadas fora da estação, além da coragem dos militares que tentaram apagar o fogo, podem evitado mais mortes. Por volta das 2h da manhã, houve um apagão e o biólogo Cesar Rodrigo dos Santos e um físico gaúcho que pesquisa ondas eletromagnéticas aproveitaram para sair e observar estrelas. Ao saírem da estação, viram o incêndio na casa de máquinas e deram o alerta.

“A gente viu um clarão, voltou correndo e anunciando o incêndio, mas na hora que a gente viu, o fogo já estava alto”, disse Santos ao jornal ‘Zero Hora’. Nesse momento, a equipe de combate a incêndio começou a colocar as roupas especiais e correu em direção ao foco principal. Enquanto isso, os pesquisadores acordaram a parte do grupo que estava dormindo. Segundo testemunhas, muitos saíram das instalações com roupa de dormir, enfrentando temperatura em torno de 5 graus negativos. O que ajudou a combater o frio foi que alguns tinham fora da estação estoques de roupa de frio, que foram distribuídas. Logo depois, o grupo se refugiou em dois módulos isolados, de onde acompanhou por rádio a atuação dos militares que tentavam combater o incêndio.

FONTE: O Dia Online

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