Transpetro deve receber ‘João Cândido’ dia 15
No meio marítimo, especula-se que a Transpetro vai, afinal, receber o polêmico navio João Cândido no dia 15 de maio. Poucos acreditam que haverá uma solenidade e a maioria dos analistas prevê que a subsidiária da Petrobras apenas assine um documento em que integra o navio a sua frota.
Um fato relevante, em tudo isso, é o carimbo do American Bureau of Shipping (ABS). Entidade norte-americana fundada em 1848, o nihil obstat do ABS garante a todo o mundo que o navio está plenamente navegável. Assim, encerra-se uma novela.
Tudo começou com a decisão do governo de criar um novo e grande estaleiro no Nordeste. Com apoio entusiasmado do então presidente Lula, deu-se a partida para o Atlântico Sul. Da noite para o dia, os gigantes Camargo Corrêa e Queiróz Galvão lançaram suas máquinas no terreno e, ao mesmo tempo em que construíam o estaleiro, conseguiram encomendas de 22 unidades, que viabilizaram o empreendimento. A participação da Samsung foi polêmica desde o início: falava-se alternadamente em participação no capital ou apenas em venda de tecnologia, até que se anunciou quota de 5% do capital, em seguida desfeita. Somando-se sete navios-sonda, a carteira de encomendas beira US$ 9 bilhões.
Um passo em falso foi o nome do navio. João Cândido comandou uma revolta contra o comando da Marinha, o que as Forças armadas não aceitam, sob qualquer argumento, por ser quebra de hierarquia. Nenhum oficial da Marinha do Brasil compareceu ao lançamento do navio, em maio de 2010. Em seguida, surgiram os problemas.
O navio deveria ter sido entregue no início de 2011, mas isso não ocorreu. Em todo o mundo, há menos de dez sociedades certificadoras de renome internacional – como Lloyd”s Register, DNV, Germanisher Lloyd, Bureau Veritas e poucos mais. O Brasil tem sociedades de tradição, mas que, em geral, certificam navios menores, destinados ao mercado interno. O selo de uma das sociedades internacionais dá a cada navio ou plataforma garantia plena de qualidade no mercado mundial.
Não se sabe se a pressa de Lula em alardear o fato político prejudicou a montagem industrial. No Nordeste não havia tradição no setor, exceto para navios de menor porte, não para um Suezmax, de 160 mil toneladas de capacidade, como o João Cândido. Agora, se tudo correr bem, o problema estará sanado e a construção naval consolidará sua presença na região. Ao lado do Atlântico Sul está sendo construído o STX-Promar e, nas proximidades, o Eisa-Alagoas. Afinal, tudo caminha para um happy end, fato importante para a Transpetro, que tem encomendas de 49 navios no mercado interno e, dia 15, se livra de um pesadelo.
Pressão
Comenta-se que a presidente Dilma e a titular da Petrobras, Graça Forster, andam pressionando os estaleiros para cumprirem prazos. No entanto, o que se vê no eixo Rio-Niterói é expansão sem limites – e sem atrasos. Os estaleiros Eisa e Mauá – do grupo Sinergy, de German Efromovich – vão de vento em popa. O Eisa tem lançado navios antes do prazo e o Mauá foi o primeiro a entregar um navio encomendado pela Transpetro – beneficiando-se do atraso do “João Cândido”.
O STX-OSV, ex-Promar, de Niterói, está com 1.500 empregados e carteira de US$ 600 milhões e a unidade de Pernambuco deverá ficar pronta em meados do próximo ano. A nova unidade já nasce com encomenda de oito navios de gás para a Transpetro, feitos – para não haver risco de atraso – no Rio Nave, que ocupa a área do antigo Caneco, no Caju.
Onde funcionava a CEC, bem perto da Ponte Rio-Niterói, o grupo europeu SBM está pondo para funcionar uma área nobre que estava sub-utilizada. A SBM produz plataformas e, além do mais, fornece, inclusive para concorrentes, pernas de plataformas.
Novidade mesmo é o estaleiro Inhaúma, a antiga Ishibrás, que entrou para a história quando, com tecnologia da japonesa IHI, construiu os maiores navios já feitos no país, Tijuca e Docefjord, de 313 mil toneladas, para a então estatal Vale do Rio Doce – hoje só Vale. O Inhaúma está prestes a ser inaugurado e pertence à Petrobras, que, conforme o caso, arrendará as instalações para quem ganhar licitações. O primeiro ocupante do Inhaúma será o consórcio Paraguassu – formada pelas gigantes baianas OAS e Odebrecht, com a carioca UTC. No velho estaleiro, hoje renovado, três velhos navios serão transformados em plataformas de tancagem (FSOP).
E, no Rio, ainda estão sendo finalizados o estaleiro OSX, de Eike Batista, no Norte fluminense e o estaleiro da Marinha que produzirá cinco submarinos, em associação do grupo francês DCNS com a brasileira Odebrecht.
Fora estaleiros menores e o anunciado interesse da coreana Samsung em ocupar área do grupo Mac Laren em Niterói.
FONTE: Monitor Mercantil
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