Japonesa IHI vai definir até julho se entra no EAS
Cláudia Schuffner e Francisco Góes
Rio – As negociações entre o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) e a japonesa IHI, controlada pela Mitsui, estão avançadas. Os japoneses estão há cerca de um mês e meio fazendo um processo de investigação e auditoria (due diligence) nas informações da empresa. Foi acertado um acordo de confidencialidade e o grupo japonês tem prazo até o fim de julho para tomar uma decisão se vai tornar-se sócio e parceiro tecnológico do EAS, hoje controlado por Camargo Corrêa e Queiroz Galvão.
O Valor apurou que três equipes da IHI inspecionaram o estaleiro e, segundo relato de uma fonte, teriam ficado “maravilhadas” com a estrutura que está pronta em Ipojuca (PE) e pode ser adquirida por um “preço de ocasião”. Mas é o valor da aquisição que também pode dificultar o negócio. A IHI tende a querer desvalorizar o ativo enquanto os sócios do EAS tentam adicionar valor. Conta a favor o fato de Camargo e Queiroz estarem interessadas em fechar o negócio, assim como os japoneses também demonstram interesse.
A decisão final depende ainda do apetite da IHI em sua volta ao Brasil. A IHI abriu um escritório no Rio para sondar oportunidades de negócios, mas as discussões com o EAS estão sendo tratadas exclusivamente pela matriz da empresa em Tóquio, no Japão.
O estaleiro precisa ter suporte técnico de um parceiro de classe mundial na construção de 22 navios petroleiros encomendados pela Transpetro, um pacote de cerca de R$ 7 bilhões. Mas esse parceiro não precisa ser sócio do EAS. A decisão de atrair um sócio que traga também tecnologia é, portanto, uma decisão dos acionistas do estaleiro depois da saída dos coreanos da Samsung do capital da empresa.
O EAS tem também um contrato com a Sete Brasil para a construção de sete sondas de perfuração. Neste caso, o estaleiro definiu que o projeto vai ser fornecido pela LMG Marine em parceria com a polonesa Remontowa. No caso dos navios, a Samsung é responsável pelos projetos dos primeiros seis navios da Transpetro. O primeiro deles, o João Cândido, foi entregue semana passada com quase dois anos de atraso e custo 23% acima da média do contrato original, segundo estimativas de mercado.
Para os restantes 16 navios ainda será preciso contratar os projetos. A Transpetro disse que o atraso na entrega do João Cândido acarretou ajustes nos cronogramas dos outros cinco navios cuja assistência técnica é dada pela Samsung. A empresa espera a definição de um novo cronograma de entrega para as 16 embarcações que ainda estão sem parceiro tecnológico, o que acarreta descumprimento do contrato com a Transpetro.
Os projetos para esses navios podem ser comprados de fornecedores tradicionais no mercado, mas se o EAS o fizesse poderia criar um conflito de interesses comerciais com os japoneses da IHI com quem está negociando, avaliou fonte do setor. A decisão anunciada pela Transpetro de suspender por três meses (até 30 de agosto) a execução de contratos de compra e venda desses 16 petroleiros com o EAS pode ser uma maneira de evitar esse potencial conflito comercial. Com a medida, o estaleiro ganha tempo de negociar com um novo sócio que também será parceiro tecnológico e poderá fornecer parte dos projetos. Há quem considere a possibilidade de que os japoneses possam vir a substituir a LMG e sua subcontratada, a polonesa Remontowa, no projeto de construção das sondas.
FONTE: Valor Econômico