Em visita histórica ao Comitê de Descolonização, presidente argentina reivindica soberania sobre arquipélago ocupado pela Grã-Bretanha desde 1833

 

GUSTAVO CHACRA

Em histórica aparição no Comitê Especial de Descolonização da ONU em Nova York, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, pediu para a Grã-Bretanha negociar a soberania das Malvinas (Falkland, para o britânicos).

O pedido contrasta com o que querem os representantes das ilhas, que também discursaram ontem na ONU. Eles afirmam que ninguém, a não ser os próprios ilhéus, pode determinar o destino do território, que tem de relativa autonomia, que inclui o pagamento de impostos e gastos públicos. Londres não se manifestou, mas apoia a delegação de kelpers – como são chamados os habitantes das Malvinas.

“Queremos apenas que os britânicos se sentem para dialogar”, disse Cristina, que usou como exemplo o diálogo secreto, nos anos 70, durante a presidência de Juan Domingo Perón, que propôs um condomínio entre Londres e Buenos Áries para administrar as ilhas.

Cristina adotou um tom duro com os britânicos e questionou a soberania das Malvinas com frases de efeito. “Londres fica a 14 mil quilômetros das ilhas. Eu sou de Rio Gallegos, que fica a apenas 400 quilômetros. Consigo ver as aves que partem das Malvinas. Elas vão até o Equador, não até a Grã-Bretanha.”

Cristina também se queixou que as mães de militares argentinos mortos no conflito, encerrado há 30 anos, não podem recuperar os restos mortais deles nas ilhas. Para ela, foi “vergonhoso ver os britânicos hasteando a bandeira de Falkland em Londres”, no dia do fim da guerra, porque não se deve, segundo ela, comemorar mortes.

Mike Summers, representante das Malvinas, tentou entregar uma carta para a delegação argentina, mas o chanceler Héctor Timerman recusou-se a recebê-la.

Lennon. Ontem, em carta ao jornal londrino The Times, Cristina usou uma famosa frase do beatle John Lennon para pedir a retomada das negociações entre Londres e Buenos Aires. “Deem uma chance à paz”, escreveu ela. Na carta, a presidente afirmou que a presença britânica nas Malvinas é “um anacronismo colonial” e disse que os britânicos não têm direito sobre as ilhas, que estão a “apenas 700 quilômetros da costa argentina”.

FONTE: O Estado de S. Paulo / COLABOROU ARIEL PALACIOS

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