A parte maior do novo modelo britânico chegou às docas, a China está testando um. Mas após 100 anos desde que o conceito foi criado, ainda precisamos de porta-aviões?

Por Tom de Castella

Eles são campos aéreos flutuantes que podem descarregar o poderio militar de uma nação ao longo de todos os oceanos do mundo.

Em maio de 1912, o primeiro avião decolou de um navio de guerra em alto mar, o HMS Hibernia, temporariamente adaptado para a finalidade. A ideia de plataformas flutuantes dedicadas à decolagem e pouso de aeronaves foi concebida em 1909, mas foi só em 1918 que o HMS Argus se tornou o primeiro porta-aviões propriamente dito.

Hoje em dia, a posse de um navio-aeródromo para aviões de asa-fixa é o passaporte de um país para um clube de elite, mas os Estados Unidos têm mais do que todos os detentores desses navios no mundo combinados.

O Reino Unido atualmente não é membro desse clube, mas nesse mês testemunhou um marco na jornada do país para retomar seu lugar.

Parte do casco do “Queen Elizabeth” chegou a Rosyth, onde deve entrar nas docas para o resto da construção. O navio – que deixou o estaleiro da BAE Systems, em Portsmouth – deve ficar pronto em 2017, e em seguida virá o irmão, o “Prince of Wales”.

O Ministério da Defesa britânico afirma que os porta-aviões e as aeronaves custarão sete bilhões de libras, o que levou alguns colunistas na mídia a argumentar que os equipamentos são tanto um gasto desnecessário, como estrategicamente inúteis para o Reino Unido.

Para Simon Jenkins, do The Guardian, trata-se do “maior desperdício de verba pública” de qualquer programa do governo. Metthew Parris, do The Times, coloca que a ação na Líbia não demonstrou necessidade de uma embarcação desse tipo.

Os céticos já existem faz algum tempo. Em 1981, David Howarth escreveu em Famous Sea Battles que “o único valor prático dos porta-aviões no futuro será em sua simples existência, e não no combate”. O autor argumentava que usá-los por impulso desencadearia uma guerra nuclear.

Mas no ano seguinte, os navios-aeródromos do Reino Unido garantiram que as Malvinas fossem reconquistadas.

Diferentes nações têm diferentes abordagens acerca dos porta-aviões. Os Estados Unidos possuem 11, ou 20 se contarmos navios de assalto amfíbios que transportam aeronaves.

Seus 10 classe Nimitz são cidades flutuantes do tamanho de quatro campos de futebol cada um – e com tripulações de 5 mil pessoas mais 80 aviões de ataque.

Por outro lado, Espanha e Itália têm modelos miniatura com cerca de uma dúzia de aviões, enquanto a China possui apenas um navio ex-soviético, e prefere investir as verbas para Defesa em tecnologia de mísseis.

Seguindo a linha norte-americana, a França é dona da única aviação naval séria, segundo IHS Janes’s Fighting Ships.

A Tailândia tem um navio-aeródromo muito pequeno, que já não lança aeronaves há alguns anos. A Índia está usando o antigamente britânico “HSM Hermes” e um modelo adquirido da Rússia, e o do Brasil é um navio anteriormente da França.

Mas algum país precisa de porta-aviões?

Os Estados Unidos não precisam de tantos, diz o professor Andrew Lambert, historiador naval da King’s College em Londres.

Mas para os americanos, a questão é projetar poder ao redor do mundo. E eles vêem o porta-aviões como o melhor equpamento para desempenhar esse papel global, afirma o professor.

A lógica por trás desses navios é muito simples. Eles permitem que uma nação adquira domínio no ar, sem precisar se preocupar com países que possam negar o uso de bases em terra ou vetar seu espaço aéreo. A Bósnia foi um exemplo disso, diz o Major-General reformado dos Reais Fuzileiros, Julian Thompson. “Os italianos disseram ‘vocês não voar das nossas bases nem sobre a Itália’”.

Thompson aponta também que os únicos aviões inimigos abatidos por naves britâncias desde a Segunda Guerra Mundial foram abatidos por forças baseadas em navios-aeródromos.

Mas as coisas mudaram na era dos submarinos nucleares, dos mísseis de precisão e dos veículos não-tripulados?

Diferente das fragatas “sem propósito”, os porta-aviões continuam relevantes como nunca, diz Lewis Page, antigo oficial da Marinha e autor de Lions, Donkeys and Dinosaurs: Waste and Blundering in the Military. A nave não-tripulada pode ser a moda agora, mas você ainda precisa de uma plataforma para lançá-la.

Submarinos nucleares são “excelentes” para muitas coisas. Seus mísseis de cruzeiro Tomahawk voaram centenas de milhas para derrotar a força aérea do Coronel Gaddafi.

“Mas um submarino não diz aonde o salvos estão. E não é fácil de ser rearmado longe de uma base naval”.

“Armas nucleares dão ‘prestígio’ a uma nação”, afirma Andrew Lambert. “Mas os porta-aviões lhe dão ‘capacidade’”, defende.

Lambert sugere tomarmos como exemplo um cenário em que o Irã decida fechar o Estreito de Ormuz. Um bloqueio dessa natureza teria efeitos imediatos nas reservas mundiais de energia.

O Irã tem em torno de mil barcos de patrulha velozes e pode oferecer um novo tipo de guerra assimétrica. Ao operarem como um enxame, uma fragata ou destróier ficaria sobrecarregado pelo número superior de barcos inimigos. Enquanto que um navio-aeródromo afastado desse perigo poderia abater os atacantes um a um ao colocar suas aeronaves no ar.

Sendo assim, é fácil concordar com os especialistas na área naval, que dizem ser necessário um porta-aviões para ser uma potência nos mares.

Mas o Reino Unido tem essa necessidade?

Por ser uma ilha, ter esse tipo de equipamento é uma questã particular para o Reino Unido, diz o pofessor Lambert.

“Se não tivermos segurança no mar, corremos o risco de passar fome. De uma população total de mais de 60 milhões, somos capazes de alimentar por nós mesmos provavelmente uns 25 milhões”, estima Lambert. E 95% das importações do país vêm pelo mar, incluindo muito de sua demanda energética abastecida pelo Oriente Médio.

Mas haverá aqueles que sugerem que a redução no poder militar britâncio torne os navios-aeródromos desnecessários. “Qualquer conflito em Ormuz ou no Golfo não será decidido pela Inglaterra”, defende Matthew Parris, “Será decidido pelos Estados Unidos”.

Mas o Reino Unido toma parte em ações de coalisão, e para quem os defende, os porta-aviões seriam a única coisa que dá autoridade ao país

Para uma nação com uma orgulhosa história marítima também há a questão da imagem. Andrew Lambert diz que o poder naval é “a expressão mais elevada do significado de ser britânico”.

Seu tamanho puro e simples enquanto o navio corta o oceano, o grito dos aviões decolando e pousando, tudo isso faz dos porta-aviões uma experiência visceral, segundo o ex-fuzileiro Julian Thompson. “O convés durante a decolagem dos aviões é frenético e extremamente barulhento. É como um balé – um triunfo no qual todos fazem seu trabalho. Se você pisar na bola, corre o risco de ter sua cabeça decepada por uma lâmina de rotor”.

E a poderosa imagem e simbolismo dos porta-aviões continuarão a ter um papel nesse debate.

FONTE: BBC Londres

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