Projetos do Exército e Marinha atraem novatas
Peixoto, diretor do Instituto C.E.S.A.R., fechou parceria com a inglesa General Dynamics para disputar licitação do Exército
Por Virgínia Silveira | Para o Valor, de São José dos Campos
Interessadas em participar mais ativamente do processo de expansão do setor de defesa, empresas até então pouco conhecidas começam a se destacar no mercado nacional. O Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R.), por exemplo, formou recentemente uma parceria com a inglesa General Dynamics para participar da licitação do Exército Brasileiro, no projeto piloto do Sistema de Monitoramento de Fronteiras (Sifron), etapa avaliada em R$ 1 bilhão e vencida pela Embraer.
“A nossa expertise está na parte de integração lógica de sistemas, onde a área de tecnologia da informação e de comunicação são essenciais para o monitoramento de fronteiras”, disse o diretor do C.E.S.A.R, Eduardo Peixoto. Se não houver essa integração, diz ele, os sistemas atuam de forma isolada e pouco eficiente.
A aproximação com os ingleses, segundo ele, foi importante porque o instituto precisava de um parceiro com experiência prévia em gestão de projetos complexos e integração de sistemas. Peixoto destaca o fato de a General Dynamic estar entre as dez maiores do mundo na área de defesa.
A primeira experiência do instituto com a área de defesa aconteceu no ano passado, ao vencer uma licitação internacional para fazer a concepção dos sistemas de informação do projeto Brigada Braço Forte, também a cargo do Exército. O contrato, segundo Peixoto, está avaliado em US$ 15 milhões.
Peixoto explica que o Brigada Braço Forte está sendo concebido com o objetivo de preparar os militares para atuar na segurança de grandes eventos esportivos e em situações de calamidade pública. “Há mais de dois anos vínhamos trocando ideias com o Exército nas áreas de segurança cibernética e antivírus, onde a inteligência de TI é necessária”, comentou.
O C.E.S.A.R, segundo o executivo, desenvolveu o projeto básico e o executivo do Braço Forte, envolvendo a concepção dos sistemas, características e desempenho dos equipamentos e como eles deverão ser interligados para o desenvolvimento do sistema. “Devemos entregar nosso trabalho entre outubro e novembro. Haverá ainda uma segunda etapa neste projeto, para definir a empresa integradora dos sistemas”, comentou.
Centro privado de tecnologia e inovação sem fins lucrativos, o C.E.S.A.R foi criado há 15 anos e se tornou um dos principais articuladores do cluster de tecnologias a informação e comunicação no Estado de Pernambuco. Em 2011 faturou R$ 60 milhões, dos quais a área de defesa respondeu por 20%. A receita, segundo Peixoto, foi revertida na criação de outras empresas e no desenvolvimento de tecnologias dentro do próprio instituto.
Outra empresa que vem se destacando nessa nova etapa da indústria de defesa é a Jaraguá Equipamentos Industriais, responsável pelo projeto e construção da nova torre de lançamento do foguete brasileiro VLS, em Alcântara (MA), que enxerga no mercado de defesa a possibilidade de elevar o seu nível tecnológico e equilibrar sua receita.
Cerca de 85% do faturamento de R$ 1,2 bilhão registrado em 2011, segundo o diretor de engenharia e desenvolvimento, Oswaldo Luiz Guimarães, veio da área de óleo e gás e a Petrobras é a principal cliente. “A tecnologia de defesa é dual e poderemos aplicar esse conhecimento na área do pré-sal, por exemplo, onde existem grandes desafios tecnológicos a serem superados pelas empresas brasileiras.”
A empresa acaba de assinar um memorando de entendimento com a italiana Oto Melara para formação de uma joint-venture para o desenvolvimento conjunto de canhões de uso naval e terrestre. A Jaraguá, de acordo com Guimarães, terá 66% de participação na empresa, chamada Jaraguá Oto Melara Defesa e Segurança.
A nova empresa, segundo Guimarães, também já está de olho na concorrência da Marinha Brasileira para o fornecimento de onze navios de superfície, conhecido como Programa de Obtenção de Meios de Superfície (Prosuper), avaliado em € 3 bilhões.
“Queremos fornecer parte dos canhões que vão equipar esses navios, produzindo no Brasil”, disse Guimarães. O objetivo é transformar o Brasil em um centro de excelência para exportação de canhões navais de 40, 76 e 105 milímetros e uma referência para a modernização dos equipamentos já existentes nas marinhas da América Latina, que utilizam os produtos da Oto Melara.
Além dos produtos da Oto, diz o executivo, a Jaraguá vai investir no desenvolvimento de novos tipos de canhões para o Exército Brasileiro. “Eles (Exército) têm uma necessidade específica de canhões de fácil manuseio e transporte em áreas da fronteira norte do país, onde o acesso é difícil e os equipamentos precisam ser transportados em embarcações rústicas, feitas de tronco de árvore”, comentou.
A Jaraguá fornece ainda tecnologia e equipamentos que usam combustível de foguete. Na área nuclear, a empresa participa do projeto do submarino brasileiro, como subcontratada da Odebrecht. “Produzimos, principalmente, o trocador e o vaso de contenção do reator nuclear do submarino brasileiro”, explicou.
FONTE: Valor Econômico