EAS muda gestão para melhorar performance
A bandeira do Japão se mantém hasteada na frente do prédio do Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Ipojuca, Pernambuco. A deferência tem uma razão: os japoneses da IHI Marine, consultora técnica do EAS, são hoje peça fundamental para transformar o estaleiro, às voltas com baixa produtividade, prejuízos e atrasos na construção de navios e sondas de perfuração para a Petrobras. Os problemas levaram à suspensão dos contratos de 16 navios encomendados pela Transpetro, subsidiária de logística da Petrobras. Hoje, a Transpetro deve anunciar se cancela a suspensão ou se dá mais tempo para o EAS atender uma série de exigências e, assim, recuperar as obras dos navios.
“O tema está na mão da Transpetro”, disse Otoniel Silva Reis, presidente do EAS. Mineiro de Uberaba, Reis é o quarto presidente do EAS desde que o estaleiro foi implantado, em 2007. Na visão de Reis, o EAS precisará de mais cinco anos para navegar em “mar de almirante” e desenvolver uma cadeia de fornecedores que permita aumentar a produtividade. Mas a curto prazo o estaleiro foca em ações para melhorar a performance. Com longa carreira na área de engenharia e de petróleo, Reis assumiu o estaleiro a pedido dos acionistas – Queiroz Galvão e Camargo Corrêa – há pouco mais de três meses com objetivos claros: “Meu compromisso é neutralizar o caixa e fazer o estaleiro ser produtivo”, disse Reis em sua primeira entrevista após assumir o cargo.
Desde 2007, o estaleiro recebeu R$ 3,6 bilhões em investimentos, dos quais cerca R$ 1,2 bilhão financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Nos próximos três ou quatro anos, o EAS deve investir mais R$ 700 milhões para fazer ampliações necessárias à construção de sondas de perfuração para a Sete Brasil. “Estamos em processo de plena confiança com a Sete”, disse Reis. A Sete encomendou sete sondas ao EAS por US$ 5,2 bilhões, mas a construção da primeira unidade está atrasada em cerca de oito meses. Reis disse que o corte de chapa da primeira sonda começa em março de 2013.
O ano de 2012 está sendo difícil para o EAS, assim como 2011 também havia sido (no ano passado, o estaleiro teve prejuízo de R$ 1,45 bilhão). “O estaleiro balançou, mas a situação melhorou e o EAS está adimplente com os bancos financiadores [BNDES e Banco do Brasil]”, afirmou Reis.
Em março, a coreana Samsung deixou a sociedade e, em maio, a Transpetro multou o estaleiro por atraso na entrega do primeiro navio suspendendo os contratos de 16 das 22 embarcações encomendadas por R$ 7 bilhões.
Reis disse que os pontos-chave a serem atacados são treinamento e melhoria dos processos produtivos, cujas etapas essenciais vão passar por análises críticas. Também haverá terceirização de tarefas para fornecedores credenciados. O EAS deve perseguir o modelo semelhante ao da indústria automotiva em que o fabricante delega a fornecedores a produção de uma série de itens. Uma ideia é aproveitar fornecedores que se instalaram em Pernambuco para atender a Refinaria Abreu e Lima, da Petrobras. Quando foi idealizado, o estaleiro montou estrutura para produzir grande parte do que pode ser feito no Brasil, como vigas estruturais dos navios. Já se tomou a decisão de procurar um fornecedor externo de vigas. O EAS também começou a cadastrar empresas para fazer serviços de galvanização, revestimento interno e de pintura de tubos de aço.
O EAS tem cerca de cinco mil funcionários, contingente que chegou a dez mil, incompatível com a demanda em carteira, o que aumentou custos e levou ao prejuízo de 2011. Do total de empregados, 500 são soldadores, a alma do negócio. Eles passam por reciclagem e treinamento para evitar novos erros. O primeiro navio entregue pelo EAS, o João Cândido, foi montado com 24 mil metros de solda, dos quais 18 mil foram “revisitados” (corrigidos). O nível de reparo do segundo navio, o Zumbi dos Palmares, previsto para ser entregue no primeiro semestre de 2013, será bem menor do que o primeiro. E no terceiro navio, ainda sem nome (para ser entregue no segundo semestre do ano que vem), o nível de reparo deve ficar em 3%, quando o ideal é 1%. Essa é a meta a ser perseguida pelo EAS. E para atingi-la o estaleiro precisará focar em soldagem, tubulações e pintura.
Uma das iniciativas foi contratar profissional da classificadora ABS. Ele começa a trabalhar em setembro e vai analisar as diferentes etapas de produção. No processo produtivo, os japoneses da IHI Marine United, divisão de construção naval e offshore da Ishikawajima-Harima Heavy Industries, tem papel importante. Hoje são nove técnicos japoneses trabalhando no EAS, número que vai subir até chegar a 31 profissionais em dezembro.
A parceria entre o EAS e IHI foi anunciada no fim de junho, depois da saída repentina da Samsung da sociedade do estaleiro, no qual detinha 6%. O acordo com a IHI aumentou as expectativas em relação a uma possível entrada dos japoneses na sociedade do estaleiro. Reis confirmou que existem conversas com a IHI nesse sentido e que existe um prazo (não revelado). “Mas eles [a IHI] não vão decidir nada em dois, três meses. Eles trabalham ponto a ponto, é o estilo japonês de negociar.” Na visão de Reis, a IHI, se entrar no EAS, terá, no máximo, 49% das ações do estaleiro. “Menos de 30% não faz sentido”, afirmou.
FONTE: Valor / Francisco Góes e Murillo Camaroto