As recentes fotos divulgadas pela Marinha dos EUA (USN) da fragata Greenhalgh (F46) da Marinha do Brasil, participando da “Unitas Atlantic”, mostraram um detalhe curioso: a volta dos lançadores de MM38 Exocet à proa do navio. E esse fato, aparentemente, é recente.

Isso porque fotografamos o mesmo navio em junho deste ano, durante a “Passex” com o BPC Dixmude francês (veja mais em matérias da época no Poder Naval e na revista Forças de Defesa número 5). E, nas fotos tiradas de helicóptero ao final daquela “Passex”, a Greenhalgh não trazia nenhum lançador de Exocet na proa (veja imagem abaixo e compare com a foto da USN.

As duas imagens abaixo são ampliações das que você vê acima. Nelas, pode-se ver com mais detalhes a proa do navio nas duas ocasiões.

Apenas por “desencargo de consciência”, demos uma boa ampliada no helicóptero que é mostrado no convoo da F46 na foto da USN, para nos certificarmos de que não era uma foto mais velha, de arquivo, colocada por engano. É possível identificar, na ampliação abaixo, o helicóptero da Marinha do Brasil como um Super Lynx já atualizado com FLIR, o que atesta definitivamente que a imagem é recente.

Mas as curiosidades a respeito dos mísseis da Greenhalgh não param por aí. Vamos voltar um pouco mais no tempo.

Quando foram incorporadas à Marinha do Brasil (MB) na segunda metade da década de 1990, as fragatas “Tipo 22 Batch 1” que se tornaram a nossa classe “Greenhalgh” eram preparadas para o disparo do MM38, sendo que a MB já estava padronizando seus outros navios de escolta com a versão mais nova MM40, de maior alcance, capaz de atingir alvos “além do horizonte” desde que o alvo fosse iluminado no meio do caminho para o míssil, por exemplo, por meio do radar de um helicóptero. As “Greenhalgh” acabaram mantendo o modelo MM38 para o qual estavam preparadas, e que a MB estava tirando de linha de suas fragatas classe “Niterói” (versão Emprego Geral).

Na década seguinte, a MB testou o reequipamento da classe com o MM40, instalando um lançador desse modelo num suporte colocado sobre a base onde ficavam os lançadores de MM38 de boreste, como pode ser visto nessa foto abaixo, tirada em junho de 2004 no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ). Na imagem, pode ser visto claramente o contêiner cilíndrico e mais compacto do lançador de MM40 na proa da fragata.

Anos depois, no final de 2007, o mesmo navio foi flagrado em Santos (SP) sem o lançador a boreste, porém com o suporte instalado sobre a base original, como pode ser visto nas duas fotos abaixo. A foto que mostra a base de lançadores de bombordo, vazia, deixa claro que a adaptação para o lançador do MM40 só existia a boreste, na ocasião.

Era uma fase em que se via muitos navios da MB sem lançadores de mísseis MM40, que mal estavam iniciando seu processo de revalidação / troca do motor. Esse foi até o tema da primeira matéria que publiquei no Poder Naval, “À espera de dias melhores“, em 24 de agosto de 2008, mostrando os suportes vazios de uma corveta classe “Inhaúma”.

Agora, na nova imagem da “Unitas Atlantic”, operação da qual a F46 participa, podemos ver que o ciclo de mudanças se completou para a Greenhalgh, e ela voltou a mostrar os lançadores dos velhos MM38 à proa. Talvez os “dias melhores” com mísseis mais modernos nunca chegue de vez para a classe, que mesmo assim prossegue cumprindo seu papel na Marinha.

Vale lembrar que as “Tipo 22 Batch 1” foram incorporadas como “solução tampão” devido aos atrasos no programa das corvetas classe “Inhaúma” e “Barroso”, que não conseguiram cumprir seu papel de substituir todos os velhos contratorpedeiros de origem norte-americana remanescentes das décadas de 1980 e 1990 (e para isso também foram adquiridos, no fim dos anos 1980, os navios da classe “Garcia”  de contratorpedeiros de escolta ex-USN – classe “Pará” na MB). Nas últimas semanas, a notícia que chama a atenção é a retomada do programa de corvetas, agora com sucessoras do projeto aperfeiçoado da Barroso. Esperemos que a classe “Greenhalgh”, que veio para a MB como um tampão devido aos atrasos e cancelamentos do programa de corvetas, seja enfim substituída por novas… corvetas! Aí o ciclo vai se completar de vez, como planejado, embora com algumas décadas de atraso.

FOTOS: Marinha dos EUA (USN) e Poder Naval

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