Os objetivos da Marinha russa no Ártico – das viagens à criação de bases
Por Ilya Kramnik
As recentes manobras da Frota do Norte nos mares de Barents e de Kara, a viagem do cruzador Piotr Veliki à parte oriental do Oceano Glacial Ártico e as manobras em preparação da Frota do Pacífico na zona junto ao Ártico são um indicador da retomda da presença permanente da Rússia no Ártico.
A Rússia está assumindo uma presença mais ativa para além do círculo polar. Neste momento, todos os países adjacentes ao Ártico pensam no reforço e na modernização da sua infraestrutura militar na região. Não é só a Rússia a efetuar manobras de envergadura, também o fazem os países da OTAN. Há que salientar que a Rússia tem determinadas vantagens: possuindo a Rota Marítima do Norte, a maior frota de navios quebra-gelos e um dispositivo militar, cuja espinha dorsal é a Frota do Norte. Além disso, na região polar do país, por exemplo, vivem mais pessoas que nos territórios para além do Círculo Polar Ártico de todos os outros países juntos, enquanto que Murmansk e Norilsk ocupam o primeiro e o segundo lugar, respetivamente, como as cidades árticas mais populosas.
No entanto, fora dos limites de algumas zonas mais ou menos ocupadas, a região Ártica russa é tão despovoada como as ilhas do arquipélago ártico canadense. Essa situação representa uma possível fonte de problemas num cenário em que o potencial de recursos e de vias de comunicação do Ártico atraem cada vez mais atenções. Isso é especialmente importante em relação à Rota Marítima do Norte. A exploração plena da via, que vai se tornando possível devido ao progressivo degelo na área do Polo, será bastante dificultada pela ausência de uma infraestrutura costeira.
O desenvolvimento de um aparato militar na região polar, já só por si necessário, nestas condições poderá vir a ser um meio real para um novo arranque do desenvolvimento integrado da região. Se o Ministério da Defesa da Rússia conseguir recriar o sistema de bases e de apoio à navegação ao longo da Rota Marítima do Norte, já se poderá então desenvolver os projetos civis. Todos eles, considerando a especificidade da região e os custos dos trabalhos envolvidos, ainda em fase de estudo, devem se integrar intimamente com os respectivos trabalhos dos militares: a Rússia não se pode permitir criar duas infraestruturas árticas, a civil e a militar, independentes. Quanto ao papel do Ártico no potencial defensivo do país, a instalação nessa região de forças navais seria um trunfo importante no caso de a Rússia e os EUA não conseguirem chegar a um consenso relativo à instalação do sistema de defesa anti-mísseis.
FONTE: Voz da Rússia