Rússia envia tropas ao Ártico
O Ártico é uma região de crescente atenção internacional devido às tentativas de alguns países de estender sua plataforma continental, das oportunidades de trânsito nas rotas marítimas do Norte e do Sul e pelas perspectivas muito promissoras da exploração de seus recursos naturais.
Durante os exercícios de postos de comando recentemente iniciados na Região Militar Ocidental, a Esquadra do Norte da Marinha russa desembarcou, pela primeira vez na história, tropas na ilha de Kotelni.
“Durante a operação de desembarque, foram identificadas novas áreas de navegação e possibilidades de desembarque de tropas em diferentes locais da costa ártica. Foi feito um reconhecimento do terreno no arquipélago de Novosibirsk e verificada a possibilidade de usar equipamentos militares e armas no Ártico”, disse o porta-voz da Esquadra do Norte da Região Militar Ocidental, capitão-de-mar-e-guerra V. Serga.
Foi dada atenção especial à segurança de bens civis no Ártico, como estações científicas, instalações de perfuração e unidades de energia.
Para tanto, nas áreas adjacentes à Rota do Mar do Norte, foram colocados o contratorpedeiro Vice-Almirante Kulakov e o cruzador porta-mísseis nuclear Pedro, o Grande.
Os exercícios de postos de comando envolvem mais de 7.000 homens e 150 blindados. Algumas operações serão treinadas nos campos de provas no mar de Barents, nas áreas adjacentes à Rota do Mar do Norte, nos campos de provas do distrito de Pechenega, da Região de Murmansk, e nas penínsulas de Sredni e Ribachi.
Sobre a Rota do Mar do Norte
A Rota do Mar do Norte é o trajeto mais curto entre a zona europeia da Rússia e o Extremo Oriente. As vias alternativas passam pelos canais de Suez ou do Panamá.
A distância percorrida por navios entre o porto de Murmansk, na Rússia, e o porto de Yokohama, no Japão, através do canal de Suez, é de 12.840 milhas náuticas. Pela Rota do Mar do Norte, o percurso cai para 5.770 milhas náuticas.
O gelo é o principal obstáculo à navegação por esta rota. Mas equipamentos quebra-gelos modernos atualmente possibilitam a navegação durante todos os meses do ano.
Outros países
A Rússia não foi o primeiro país a anunciar a intenção de criar bases militares no Ártico. No início de 2012, o Canadá anunciou a intenção de construir uma base militar na ilha ártica de Cornwallis.
A Dinamarca também tem planos de reforçar sua presença militar no oceano Ártico. Em 2009, o país anunciou a criação de um comando militar especial do Ártico e de uma força de pronto emprego.
No ano seguinte, a Noruega transferiu seu comando militar para além do Círculo Polar Ártico, enquanto os EUA e o Canadá começaram a realizar regularmente exercícios militares na região.
A intensificação das atividades militares pode ser explicada pelo aumento da competição internacional pela influência nessa região, provocada inclusive pelas mudanças climáticas observadas nessas latitudes. As reservas de hidrocarbonetos das jazidas árticas são estimadas em 25% de todas as reservas mundiais não prospectadas.
Interesses econômicos e geopolíticos de diferentes países se cruzam na região. O vice-presidente da Academia de Problemas Geopolíticos da Rússia, Konstantin Sivkov, afirma que “numa altura em que o centro do desenvolvimento econômico está se deslocando da Europa à Ásia do Pacífico, a importância da Rota do Mar do Norte está aumentando.”
Trajeto curto
O Ártico é o trajeto mais curto não só para navios, mas também para aviões estratégicos e mísseis balísticos intercontinentais, adianta Sivkov.
“A possibilidade de instalar sistemas de defesa antimíssil poderosos e submarinos nucleares equipados com mísseis balísticos intercontinentais nessa região terá grande importância para todos os atores globais. Tenho informações de que submarinos norte-americanos se revezam no patrulhamento no Ártico, em particular no mar de Barents, desde os anos 1990”, salienta o cientista.
Obviamente, a principal missão de defesa das instalações árticas russas cabe à Marinha. O programa federal de desenvolvimento de armamentos até 2020 prevê, entre outras coisas, a construção de novos navios para a Esquadra do Norte.
“Precisamos de navios que sejam capazes de executar missões no Ártico durante longo tempo. Eles devem possuir uma unidade de propulsão nuclear e um casco resistente ao gelo. Também precisamos de navios da zona costeira, especialmente no mar de Barents e, no futuro, no mar de Kara, para executar missões de segurança das atividades econômicas marítimas”, disse o contra-almirante Vasílii Liachók, chefe-adjunto do Estado Maior da Marinha.
Segundo a imprensa local, até 2013 a Rússia irá estacionar um grupo de aviões de caça interceptores de longo alcance no arquipélago de Terra Nova, no oceano Ártico, para defender seu território contra uma possível agressão a partir do Norte.
Também estão sendo intensificadas as atividades para o reforço da infraestruturas na fronteira polar russa. Em agosto passado, o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Pátruchev, disse que, ao longo da Rota do Mar do Norte, serão instaladas bases navais e postos de guarda-fronteira.
Prevê-se também a construção de portos marítimos e aeródromos para fins civis e militares.
FONTE: Gazeta Russa