As perspectivas da Marinha russa após a demissão do ministro da Defesa
Por Andrêi Kisliakov, especial para Gazeta Russa
Com a demissão de Anatóli Serdiukov do cargo de ministro da Defesa, observadores não descartam que o componente naval das Forças Armadas russas, cujo desenvolvimento tem sido impedido ultimamente pelas contradições entre os militares e os executivos da indústria bélica de um lado e o ministro da Defesa, do outro, seja colocado em harmonia com os planos da liderança política e militar do país.
Em uma reunião com adidos militares em Moscou poucos dias antes da demissão de Serdiukov, o comandante da Marinha, Víktor Chirkov, falou sobre os desafios enfrentados pela força naval do país.
Segundo Chirkov, em 2030, a Marinha deve ser capaz de defender firmemente os interesses nacionais da Rússia em qualquer região do oceano e atender aos desafios das disputas estratégicas nucleares e convencionais.
Nos últimos três anos, o papel do Estado Maior da Armada no esquema de gerenciamento das Forças Armadas e da Marinha foi substancialmente revisto, salientou Chirkov.
Para o comandante, a nova configuração das Forças Armadas prevê a criação de comandos militares de área, ou seja, grupamentos de tropas de diferentes ramos sob um único comando regional.
“O Ministério da Defesa continua seus esforços para otimizar as estruturas de gerenciamento das Forças Armadas”, disse Chirkov.
Porta-aviões
Várias conclusões podem ser tiradas dessas declarações. Uma delas é a de que, hoje, só os grupos-tarefa de porta-aviões são capazes de atender com êxito aos desafios estratégicos em um teatro de operações militares.
Atualmente, uma simples aparição de um navio com soldados e aviões a bordo nas águas costeiras de uma região conflagrada pode ser suficiente para pacificar um potencial agressor. A possibilidade do pronto emprego de forças-tarefa de navios-aeródromos é um instrumento de influência política da Rússia nos tempos de paz.
De acordo com os planos de construção de porta-aviões anunciados no ano passado pelo Estado Maior da Armada, o primeiro navio desse tipo pode ser lançado na água já no final de novembro.
Em um encontro com jornalistas em meados de 2011, o executivo da corporação de construção naval, Roman Trotsenko, disse que o desenvolvimento do projeto de um novo porta-aviões atômico começaria em 2016 e sua construção, em 2018. Em 2023, o grupo-tarefa composto pelo novo navio-aeródromo e alguns contratorpedeiros de escolta deveria ser entregue à Marinha.
O Ministério da Defesa, no entanto, rejeitou todas e quaisquer hipóteses de construção de embarcações desse tipo.
“Estamos realizando trabalhos de análise e pesquisa sobre o assunto. Enquanto não tivermos resultados claros, a possibilidade de construção de porta-aviões não vai nem sequer se examinada”, disse, na época, o ministro Serdiukov.
Uma posição estranha e contrária à realidade. Recentemente, a Rússia vendeu dois navos aeródromos. Um deles, o Admiral Gorchkov, à Índia, e o outro, o Variag, à China. Ambos os navios haviam sido construídos com seis anos de intervalo na cidade de Nikolaev, na Ucrânia, com o projeto 1143, e submetidos posteriormente a modernização. O Admiral Gorchkov foi modernizado pela empresa russa Sevmach e o Varaig, pela empresa chinesa Dalian Shipyard .
Sem previsão
Segundo o engenheiro naval Valeri Bábich, que vive atualmente na Ucrânia, após a modernização do Admiral Gorchkov, a experiência de construção de navios-aeródromos não terá demanda na Rússia até, ao menos, 2020.
“O programa federal de armamentos previsto para os próximos oito anos não faz nenhuma referência aos porta-aviões”, disse o engenheiro.
O presidente da comissão de defesa da Duma de Estado (câmara baixa do parlamento russo), almirante Vladímir Komoedov, ex-comandante da Esquadra do Mar Negro, acredita que a experiência de construção de porta-aviões acumulada na URSS pode ser perdida até 2020.
“Não temos nenhum porta-aviões em construção. Limitamo-nos a fazer declarações vazias e a marcar novas datas. Em 2030, na empresa Sevmach, não restará nenhum dos trabalhadores que participaram no programa de modernização do Vikramaditya (nome dado ao Admiral Gorchkov na Índia)”, disse o deputado.
Já o porta-voz da corporação de construção naval, Aleksêi Krávchenko, acredita que os trabalhos de modernização realizados no Vikramaditya mostram que a Rússia mantém sua escola de engenharia naval e seu potencial tecnológico para a construção de navios-aeródromos. O que lhe falta é a respectiva decisão política, disse Krávchenko.
“O ministério da Defesa não disse, até agora, para quando precisa de porta-aviões, quantos navios devem ser construídos nem qual deve ser seu preço”, completou.
FONTE: Gazeta Russa
FOTO: Wikimedia Commons
Hummm…
Quer dizer que os russos deram a mão à palmatória e reconheceram o valor de um “carrier battle group”?
Será que a marinha russa não ficará com a cara de uma marinha ocidental no futuro?
O Termo “Carrier Battle Group” foi substituido por “Carrier Strike Group”, e os sovieticos já haviam reconhecido o valor do NAe tanto que além do Kuznetsov, tinham planejado NAes maiores e que rivalizariam em tamanho com os NAes da US Navy. Com o fim da União Sovietica estes planos foram arquivados e quase o Kuznetsov foi retirado de serviço por falta de dinheiro para mante-lo. A marinha russa já está com cara de ocidental, inclusive oferecendo melhores condições e maiores soldos aos seus marinheiros e adquirindo tecnologia ocidental. Sóbria reportagem, ao invés dos delirios que as vezes lemos sobre a… Read more »