Para o ‘The Guardian’, HMS ‘Astute’ é muito lento
O bilionário submarino HMS Astute da Royal Navy tem sido assolado por problemas de projeto e de construção que levantaram dúvidas sobre o seu desempenho e sua segurança, informou o jornal The Guardian em seu site. Segundo a matéria, o submarino não pode atingir a sua velocidade máxima de projeto.
Até o momento o navio, o mais sofisticado já produzido para a marinha do Reino Unido, não pode realizar fugas em alta velocidade para escapar dos seus perseguidores – um requisito essencial para um navio da sua classe.
Ele também seria incapaz de acompanhar o mais recente navio-aeródromo da Royal Navy, que poderá navegar a mais de 30 nós. Uma fonte do Guardian disse que o navio possui “um motor V8 com uma caixa de transmissão tipo Morris Minor”.
O ministério da Defesa do Reino Unido confirmou que o Astute apresentou alguns problemas durante os testes de mar. “É normal que a primeira unidade de uma classe apresente áreas onde modificações são necessárias e estas são então incorporadas pelos navios seguintes,” informou um porta-voz.
Embora o Ministério da Defesa informe que não pode discutir a velocidade dos submarinos, o porta-voz disse que o Astute “proporcionará uma capacidade notável para as próximas décadas”.
No entanto, se os problemas de propulsão persistirem, eles representarão um dos maiores desastres que o Ministério da Defesa já teve de lidar, e, potencialmente, deixará o desempenho da frota muito aquém das tarefas para as quais ela foi projetada.
John Large, um engenheiro e analista de segurança nuclear independente, disse: “Estes problemas são muito mais significativos do aqueles que se esperam durante a construção de uma nova classe de submarino nuclear. O que mais preocupa é o aparente descompasso entre a planta do reator nuclear e o sistema de turbina a vapor, colocando a velocidade do submarino abaixo das expectativas e ao alcance de armas anti-submarinas.”
O secretário substituto do Defesa, Jim Murphy, disse que os ministros “devem ser claros sobre o impacto de quaisquer problema com este programa essencial tanto em tempo como em custo”.
Mesmo que o navio ainda tenha que dar início ao seu serviço ativo, o Astute – quatro anos atrasado e R$ 2 bilhões acima do orçamento – sua entrada em operação foi cercada de polêmica desde que foi encomendado há 15 anos. Em 2010, encalhou perto de Skye, uma calamidade que levou o seu comandante a ser removido do posto. No ano passado, um oficial superior foi morto a tiros por um membro da tripulação.
O Guardian soube que durante exercícios realizados ao longo da costa leste dos Estados Unidos, um tampão de um dos dutos que leva água salgada para o reator apresentou um vazamento. Um compartimento foi inundado, forçando o comandante a emergir imediatamente. Embora não tenha causado vítimas, a investigação mostrou que o tampão foi produzido com uma liga metálica errada, mesmo que os registros da construção demonstrem que o metal correto tenha sido usado.
“O fato do tampão ter falhado já é uma notícia ruim, mas o mais preocupante é que não há como saber se o submarino possui outras peças como estas a bordo,” informou uma fonte. “O teste de qualidade existe para garantir que este tipo de coisa não ocorra, mas aconteceu. Então, o que mais pode estar instalado a bordo que nós não temos conhecimento? É impossível de saber. Eles instalaram o tampão errado e passou.”
O Ministério confirmou o problema. “Durante testes no ano passado, o HMS Astute apresentou um vazamento que foi imediatamente isolado e o submarino retornou em segurança para a superfície,” disse um porta-voz na época.”A investigação demonstrou que uma peça não construída com a liga apropriada apresentou corrosão. Uma peças substituta foi empregada e o submarino seguiu com o seu programa.”
Alguns dos instrumentos que indicam o estado do reator nuclear também estariam comprometidos, informou o Guardian. O chumbo empregado deve ser um “metal virgem”, proveniente de grandes profundidades, de forma que não carregam cargas elétricas que possam gerar uma leitura falsa.
No entanto, o chumbo empregado no Astute não era dessa qualidade, o que significa que os instrumentos apresentam leituras incorretas. Usar um metal impuro pode ter também um efeito em cadeia durante a manutenção – o metal com carga elétrica cria uma radioatividade crescente e persistente dentro do compartimento do reator.
Uma fonte disse que este descuido é “imperdoável”. Inicialmente o Ministério da Defesa negou que havia um problema com os instrumentos do reator. No entanto, em seguida foi confirmado que um metal errado havia sido usado – mas os testes mostraram que a precisão das leituras não foram afetadas, insistiram. Além disso, alguns dos quadros de distribuição de pequenos computadores do Astute deveriam ter sido colocados seis polegadas de distância um do outro, mas apresentaram apenas uma polegada de distância.
Eles não eram compatíveis com normas de segurança da marinha ou civis e agora estão tendo de ser movidos ou substituídos. O Ministério da Defesa diz que este trabalho já foi concluído.
De todos os problemas, aqueles relacionados com propulsão, que são os mais sensíveis. O Ministério da Defesa afirmou que o Astute seria capaz de fazer 29 nós, mas ao Guardian foi dito que isso não é possível.
Ao invés de construir uma nova planta nuclear para Astute, o Ministério da Defesa optou por usar o reator de água pressurizada 2 (PWR2) dos submarinos da classe Vanguard, muito maiores. O reator foi conectado com um sistema de turbina a vapor baseado no modelo utilizado pelos antigos submarinos da classe Trafalgar.
“Este sempre apareceu como um problema possível, e foi o que aconteceu”, disse uma fonte. “O PWR2 foi feito para um navio muito maior, e o Astute teve que ser projetado em torno dele. Isso pode ter gerado corte de custos, mas tem causado problemas. A potência do reator não se traduz em movimento para a frente.”
Large acrescentou: “Muito se esperava da classe Astute, mas essas falhas que ocorreram durante a sua entrada no serviço ativo, particularmente no sistema de propulsão, e o seu desempenho abaixo do projetado, sugerem que tudo partiu de um grande improviso feito a partir de algumas peças mal ajustadas – A verdadeira preocupação aqui é se essas incompatibilidades ou similares irão comprometer a segurança nuclear pondo em risco a tripulação e do público em geral”.
FONTE: The Guardian (tradução e adaptação do original em inglês pelo Poder Naval)
FOTO: MoD UK, COLABOROU: Luiz Neto
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