Bienal-SP: últimos dias para ver a Marinha de Arthur Bispo do Rosário
No próximo domingo, dia 9 de dezembro, encerra a 30ª Bienal de São Paulo. A exposição que recebeu o nome “A iminência das Poéticas”, e que está aberta desde 7 de setembro no Pavilhão da Bienal do Parque do Ibirapuera, na capital paulista, trouxe uma área dedicada ao trabalho de Arthur Bispo do Rosário, considerado uma das referências da arte contemporânea brasileira.
E por que resolvemos falar desse artista e de sua obra aqui no site Poder Naval? Porque parte considerável do trabalho de Bispo do Rosário reflete o tempo em que serviu na Marinha.
A primeira vez que tomei contato com sua obra foi numa exposição no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, em 1990, um ano depois da morte do artista, cujo nascimento varia conforme a fonte – 1909 ou 1911. Estudante universitário beirando os 20 anos mas já com algum conhecimento da história da Marinha do Brasil, imediatamente chamou-me a atenção um imenso painel bordado mostrando diversos navios da Marinha, representando a Esquadra nas décadas de 1920 e 1930. Intermináveis nomes de marinheiros e oficiais bordados em outros painéis também faziam parte daquela exposição, e olhando tudo aquilo, pensei: “Isso é coisa de louco!”
De fato, minutos depois, me explicaram que o recém-falecido artista havia passado boa parte da vida num hospital psiquiátrico. Mas, antes do hospital, a Marinha foi a “casa” de Arthur Bispo do Rosário, baiano e negro, entre 1925 e 1933 (aproximadamente dos 15 aos 23 anos), onde foi aprendiz marinheiro, grumete e sinaleiro, e também teve oportunidade de praticar o pugilismo.
Dizem que a pessoa pode sair da Marinha, mas a Marinha não sai da pessoa. E, pelo que se percebe da produção de praticamente meio século de internação, entre uma e outra sessão de eletrochoque e outras práticas ainda comuns nos hospitais psiquiátricos / manicômios em meados do século passado, o artista realizou uma obra (com uso de materiais diversos, manipulação de signos, reutilização de objetos, bordados, “assemblages” e estandartes) na qual temas ligados ao mar, a navios e marinheiros são frequentes. Como descreve o breve explicativo do artista nesta Bienal, é certamente uma arte que transita entre a realidade e o delírio – mas que passa por muito mar no meio do caminho, na minha opinião.
Para quem é da cidade de São Paulo ou está de passagem, recomendo não só esta edição da Bienal como um todo mas, especialmente, a pequena área dedicada a Bispo do Rosário. Infelizmente, quando visitei a Bienal na semana passada, vi que não estava entre as obras aquele painel que citei logo no início, e que tanto me impressionou há mais de 20 anos com toda aquela esquadra bordada. Mas vieram muitas outras peças igualmente impressionantes.
Experimente clicar na imagem do painel abaixo, inteiramente escrito em bordado, e ver diversos nomes e patentes armazenados na mente do artista, em um dos vários exemplos de longas listas de pessoas que ele fez. Praticamente todas as fotos que selecionei para esta matéria trazem algum elemento naval em meio a todos os detalhes bordados, pintados, montados ou organizados.
Você pode até não gostar, mas não dá para ficar indiferente. Caso perca essa oportunidade em São Paulo, está previsto que ao longo de 2013 a exposição seja apresentada de forma intinerante em unidades do SESC-SP. Já para quem é do Rio de Janeiro, existe sempre a possibilidade de ver obras do artista no Museu Bispo do Rosário – Arte Contemporânea (MBR), em Jacarepaguá.
A 30ª Bienal (Parque do Ibirapuera, São Paulo – SP) tem entrada gratuita e o horário de visitação é, na quarta e sexta, das 9h às 22h (entrada até 21h) e, na quinta, sábado e domingo, das 9h às 19h (entrada até 18h). Vai só até este domingo, dia 9 de dezembro.
Nunão, só você mesmo para ter esse elevado gosto cultural…
Poder Naval também é cultura
Acabei de descobrir que seu sobrinho de 1 ano é um grande artista contemporâneo….
Desculpe- me é que não consigo entender arte contemporânea ( sou mais clássico),acho que ném é para ser entendida, de qualque forma sucesso ao artista.Abçs
Interessante e tragico !
Na primeira foto é possivel ver os cts Parahyba e Amazonas e o Amazonas é identificado corretamente com o nr “1” e razoavelmente é possivel identifica-los como classe Pará tal e o autor escreveu a palavra distroey uma corruptela de destroyer.
Tem também o submarino Humayta, parece o “oberon” a nao ser pelos canhoes que existiam no primeiro, além de ter um S 2 na vela, poderia
ser que o autor nao lembrasse que era S 20 ?!
Daltonl, minha teoria é que o artista (que mostrava estar “antenado” nas notícias ao longo de sua internação definitiva de 1964 até sua morte em 1989, brincando até com os recortes de jornais em suas obras) fizesse referência tanto a suas lembranças de submarinos do tempo em que serviu (de 1925 a 1933) quanto a novos modelos que foram substituindo anteriores com o mesmo nome. Afinal, não faltaram navios com nomes revisitados ao longo do tempo na história da MB no século XX (e não só da MB). Nas obras, lembranças do tempo em que era da Marinha, depois funcionário… Read more »