Pesquisa na Antártica é estratégica para o Brasil
Roberta Jansen
Entender o clima no Brasil é uma das razões para estudar a Antártica. Embora o continente gelado pareça remoto e isolado, ele está diretamente ligado à variabilidade climática no país. Saber o que está acontecendo lá é fundamental para uma boa previsão meteorológica por aqui, explicam os cientistas.
– Esse era um erro do passado, esse mito do tropicalismo brasileiro, de achar que o país está totalmente dissociado dos processos do resto do planeta – explica o glaciologista Jefferson Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), um dos coordenadores científicos do Proantar. – Hoje está muito claro que não existe um sistema climático centrado nos trópicos, existe a circulação atmosférica, tudo está relacionado às regiões polares. Para entendermos a variabilidade climática e melhorarmos a previsão meteorológica precisamos entender o que acontece na Antártica. Até mesmo o que acontece no Ártico nos afeta.
Um outro ponto estratégico para o Brasil é a pesquisa geológica no continente, como aponta Simões.
– A abertura do Atlântico Sul, o desenvolvimento das bacias, todos os recursos de óleo e gás existentes na região estão associados à separação dos continentes, à separação da Antártica da América do Sul e da África – afirma. – E agora estamos reestruturando o programa científico para procurar conexões entre o ambiente da Antártica e o da América do Sul. Queremos trazer a Antártica ao cotidiano dos brasileiros. O programa de pesquisa tem que responder questões, resolver problemas.
O papel da Estação Comandante Ferraz no programa também está mudando, segundo Simões. A ideia é que apenas algumas pesquisas fiquem concentradas nos módulos, sobretudo as mais estáticas, que não demandam muito deslocamento, como o monitoramento da camada de ozônio e das radiações. Outras, como glaciologia, organismos do gelo, astronomia, astrofísica demandam deslocamentos para o interior do continente. Cada vez mais os brasileiros estão avançando, ficando em acampamentos.
– A Ilha Rei George (onde fica a estação) é o portão de entrada na Antártica – diz Simões. – Às vezes é difícil para o leigo entender, mas o que eu sempre enfatizo, a ilha fica a 3.100 quilômetros do Polo Sul geográfico, é a mesma distância do Rio a Belém.
Hoje, 60% da pesquisa do programa antártico não passam pela estação. Por isso, embora o incêndio tenha prejudicado a continuidade da coleta de dados, na estação, muitos estudos continuaram.
FONTE: O Globo via Resenha do Exército (título original “Pesquisa no continente é estratégica para o país“)