Fragata Defensora

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Defensora e plataforma

Descobertas em brasil e áfrica, junto com as de eua e canadá, mudam mapa geopolítico de reservas

Ramona Ordoñez e Bruno Rosa

Se, em outubro de 1973, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) foi a responsável pelo primeiro choque do petróleo, com brusca elevação de preços e controle da oferta, hoje, o cartel, que vem perdendo força, chega a ser comparado a um tigre sem alguns dentes. Importantes descobertas em Estados Unidos, Canadá, Brasil e na costa Oeste da África, dizem especialistas, estão promovendo uma verdadeira mudança na geopolítica mundial do petróleo, com expectativas de aumento da produção em países fora da região do Oriente Médio. As Américas vão ganhar força no novo mapa: nos Estados Unidos, com o Shale gas (gás não convencional) e o Tight oil (petróleo explorado de forma não convencional) ; no Canadá, com a produção de petróleo nas areias betuminosas; e, no Brasil, com o pré-sal. A nova geopolítica é o tema do segundo dia da série “40 anos do choque do petróleo”, iniciada ontem.

Aqui, em 2020, metade da produção total de petróleo prevista pela Petrobras, de 4,2 milhões de barris diários, virá dos campos no pré-sal já descobertos, sem contar com a área de Libra, na Bacia de Santos. E, então, o Brasil será um importante exportador de petróleo, com vendas ao mercado externo de 2 milhões de barris diários de petróleo – o equivalente à produção atual do país. Deste total, 1,4 milhão de barris serão produzidos pela Petrobras e os 600 milhões restantes serão dos parceiros associados à estatal no pré-sal.

‘Mundo não treme mais’
Hoje, a Opep é responsável por mais de um terço da produção mundial. O cartel produz cerca de 35 milhões de barris por dia de um total que oscila entre 80 milhões e 90 milhões de barris diários. Em 1974, sua produção representava 51% dos 58,5 milhões de barris produzidos no mundo todo por dia.

O ex-diretor da área de compras de petróleo da Petrobras nas décadas de 1970 e 1980 Armando Guedes Coelho acredita que a região do Atlântico Sul (Brasil e costa Oeste da África) poderá se transformar em uma “nova Opep”:

– A geopolítica do petróleo vai mudar literalmente no horizonte de cinco anos a dez anos. A importância do Oriente Médio vai cair vertiginosamente. E o Atlântico Sul vai ter uma importância que nunca teve antes, principalmente por ser uma área não conflagrada.

Segundo Guedes, em 2025, o Brasil deverá estar produzindo, com o pré-sal, entre 6 milhões e 7 milhões de barris diários, sendo que a exportação poderá chegar a 3 milhões de barris. Angola e Nigéria também deverão estar com uma produção elevada, ao mesmo tempo em que os Estados Unidos terão reduzido drasticamente suas importações de petróleo graças ao Shale gas e ao Tight oil . Com isso, o grande comprador de petróleo do Oriente Médio deverá ser a China, em vez dos EUA. O país asiático, em pouco tempo, deverá aumentar suas importações dos atuais 6 milhões de barris diários para 10 milhões de barris por dia.

– Não se prevê um aumento significativo no consumo de petróleo para os próximos anos. Mas, considerando o declínio natural dos campos, que é de 10%, isso significa a necessidade de se aumentar a oferta em 10 milhões de barris diários por ano só para manter o nível atual de produção. É equivalente à produção da Arábia Saudita – destaca Guedes.

Christopher Graman, diretor da consultoria Eurasia Group, diz que, em 2020, a produção de petróleo em águas ultraprofundas no Brasil, na África e na Guiana Francesa responderá por 10% da produção mundial, ou 8,5 milhões de barris/dia.

Nesse cenário, afirma Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, a Opep perdeu espaço. Para ele, o cartel hoje já tem papel secundário, pois as grandes petroleiras conseguem influenciar mais na formação do preço.

– Os EUA, com o Shale gas, estão mudando o jogo. Vamos ter o pré-sal do Brasil e da África. A Opep vai continuar com seu poder moderado atual, apesar de ter um percentual importante na produção mundial. Até o poder de controle da produção da Opep hoje é limitado em relação ao que era antes, até porque o petróleo está menos importante para a economia mundial – avalia Pinguelli.

José de Sá, sócio da consultoria Bain & Company no Brasil, ressalta que “o mundo não treme mais” quando a Opep se reúne:

– Em 1973, era basicamente o Oriente Médio (Opep) e a África suprindo o mundo. Agora, a Europa começa a depender menos, com a entrada da oferta de petróleo da Rússia. Já a Ásia (China, Índia e Coreia do Sul) cria um novo apetite por petróleo, que será suprido pela Opep.

Sá também aposta que três regiões terão um papel de destaque no aumento da oferta do petróleo nos próximos anos: a América do Norte, com o Canadá e os EUA; o Brasil, com o pré-sal; e o Iraque, que deve se recuperar após as guerras das últimas décadas terem reduzido sua produção.

– Os países da Opep dependem muito desses recursos do petróleo para seus projetos sociais num momento crítico no Oriente Médio, então eles estão mais fragilizados. É um tigre de dente de sabre (animal pré-histórico de 12 mil anos atrás), mas faltando um dente aqui e outro lá, e o próprio grupo já não tem a homogeneidade que tinha antes – diz.

O setor já prevê, como é o caso da BP em seus estudos de cenários para 2030, que os EUA se tornarão praticamente autossuficientes e vão exportar gás natural líquido. A potência precisará importar apenas cerca de 20% de suas necessidades de petróleo em 2030.

O Brasil se tornará um importante produtor e exportador de petróleo do mundo com o pré-sal, dizem especialistas. Na análise da BP, o país terá papel importante na oferta global, com o terceiro maior aumento na produção mundial de líquidos (2,7 milhões de barris por dia), atrás apenas dos EUA (4,5 milhões de barris por dia) e do Canadá (2,9 milhões de barris por dia). Assim, segundo a BP, a exportação brasileira poderá chegar a 1,2 milhão de barris diários de líquidos em 2030.

Especialistas acreditam ainda que, com esse aumento na oferta mundial, os países membros da Opep poderão cortar sua produção nos próximos anos para evitar uma forte queda nos preços. Sá, da Bain & Company, acredita que a produção da Arábia Saudita, o maior produtor mundial, funcionará como “um colchão, para evitar um aumento excessivo da oferta”. Segundo ele, não interessa a ninguém uma redução forte dos preços, o que inviabilizaria projetos, como o pré-sal. Além disso, os países do Oriente Médio precisam dos “petrodólares” para projetos sociais, a fim de evitar manifestações como a Primavera Árabe:

– Esses países têm um gasto social que não está no custo de produção, mas tem que ser pago por esse petróleo. E esse custo está muito alto após a Primavera no Oriente Médio.

FONTE: O Globo

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